Do lado de fora, uma guerra misteriosa e sangrenta. Dentro de um porão, desconhecidos tentam sobreviver precariamente. É nesse espaço propositalmente minúsculo e tenso que se desenvolve a ação de Hora amarela, que estreia hoje no Centro Cultural Banco do Brasil e permanece em cartaz até o próximo dia 4 de maio.
Com texto do norte-americano Adam Rapp, a versão brasileira de Hora Amarela não se passa em um local específico. Rapp escreveu o texto a partir de relatos sobre a guerra civil na Síria, além dos conflitos recentes no Egito e no Oriente Médio. “Acho que essa peça mostra o ser humano de uma maneira muito inteira, global, que me interessa”, afirma Deborah Evelyn.
A opção por retirar referências conflitos específicos visa a universalizar as questões tratadas no texto. A guerra pode até estar fisicamente longe dos brasileiros, mas não há como não se solidarizar e até se identificar com certos sentimentos e comportamentos dos personagens.
Na trama, Ellen (Deborah Evelyn) está escondida há três meses dentro do porão de seu prédio. Naquele microespaço, faz de tudo para sobreviver. No desenrolar da peça, é surpreendida com a chegada de diferentes personagens, como Maude (Isabel Wilker), jovem viciada em drogas à procura de abrigo, o professor Hakim (Michel Bercovitch), que traz notícias do mundo externo, e um fugitivo Sírio (Daniel Infantini) que não consegue se comunicar, por não dominar outra língua.
ALERTA “Mais do que uma crítica, a peça é um alerta”, diz Gardenberg. “É um texto muito atual e fala sobre até onde o ser humano pode chegar, porque ainda não aprendemos a coexistir. Achamos que só existe uma verdade”, opina Deborah Evelyn.
Quem teve ideia de montar Hora Amarela no Brasil foi a também atriz Mônica Torres. Deborah rapidamente entrou no projeto e não pensou duas vezes em convidar Monique Gardenberg para dirigir. “Ela consegue juntar uma delicadeza com uma não condescendência. Faz o texto ficar mais fácil do que é e tem um olhar feminino que me agrada”, diz a atriz. Além disso, a diretora já tinha familiaridade com a dramaturgia de Rapp. Em 2011, dirigiu Inverno da luz vermelha, do mesmo autor.
Diretora de cinema (Benjamim, Ó, paí, ó) e produtora de shows musicais, Gardenberg sempre faz de suas incursões teatrais uma forma de misturar seus interesses profissionais. “Acredito que eu me relacione com o teatro utilizando o mesmo vocabulário do cinema. A atuação é naturalista, não há projeção de voz, e ela está toda voltada para o palco, para a cena. Então, é como se você estivesse assistindo a um filme. Porque nunca quebro a quarta parede. A ação privilegia o jogo entre os atores, e a plateia é convidada a assistir este ‘cinema vivo’”, descreve a criadora de Os sete afluentes do Rio Ota.
Para Monique Gardenberg, seja no cinema ou no teatro, pormenores que vão além do texto e das interpretações contribuem para que a história seja contada de maneira eficiente. “Cada detalhe, cada ideia que é dada ajuda a desenhar os personagens, suas motivações, e a emprestar verdade a algo que não é real. É aí que a magia acontece, quando um ator, amparado por luz, trilha, cenário e figurino, consegue dar vida a uma criação artística.”
No caso de Hora Amarela, o cenário de Daniela Thomas, a iluminação de Maneco Quinderé e a trilha sonora original de Lourenço Rebetez contribuem para instaurar o clima necessário para a ação. “Daniela é genial. E na Hora Amarela ela mais uma vez surpreendeu, com uma ideia inspiradíssima, que alterou toda a relação daquelas criaturas com o mundo de fora: a cena passava a acontecer num porão, portanto, debaixo da terra. A vida estaria acima de suas cabeças, em última análise, no céu”, diz Monique.
Já a trilha foi pensada para atender a três camadas diferentes de intenções. “Eu precisava que essa peça fosse muito tensa, não aliviasse nunca, para que pudéssemos reproduzir o clima de medo e tensão que envolve uma guerra. E logo percebi que a trilha seria fundamental para me ajudar a criar atmosfera”, conta a diretora.
HORA AMARELA
3 de abril a 4 de maio de 2015, de sexta a segunda, às 20h. Teatro I – CCBB BH (Praça da Liberdade, 450, Funcionários, (31) 3431-9446). Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia
“Em cada pessoa a peça vai bater de uma forma. No meu caso, diante de tanta barbárie, ela me conduziu para a grande questão que é: qual o sentido da vida?”, diz Monique Gardenberg, diretora da montagem protagonizada por Deborah Evelyn.
Com texto do norte-americano Adam Rapp, a versão brasileira de Hora Amarela não se passa em um local específico. Rapp escreveu o texto a partir de relatos sobre a guerra civil na Síria, além dos conflitos recentes no Egito e no Oriente Médio. “Acho que essa peça mostra o ser humano de uma maneira muito inteira, global, que me interessa”, afirma Deborah Evelyn.
A opção por retirar referências conflitos específicos visa a universalizar as questões tratadas no texto. A guerra pode até estar fisicamente longe dos brasileiros, mas não há como não se solidarizar e até se identificar com certos sentimentos e comportamentos dos personagens.
Na trama, Ellen (Deborah Evelyn) está escondida há três meses dentro do porão de seu prédio. Naquele microespaço, faz de tudo para sobreviver. No desenrolar da peça, é surpreendida com a chegada de diferentes personagens, como Maude (Isabel Wilker), jovem viciada em drogas à procura de abrigo, o professor Hakim (Michel Bercovitch), que traz notícias do mundo externo, e um fugitivo Sírio (Daniel Infantini) que não consegue se comunicar, por não dominar outra língua.
ALERTA “Mais do que uma crítica, a peça é um alerta”, diz Gardenberg. “É um texto muito atual e fala sobre até onde o ser humano pode chegar, porque ainda não aprendemos a coexistir. Achamos que só existe uma verdade”, opina Deborah Evelyn.
Quem teve ideia de montar Hora Amarela no Brasil foi a também atriz Mônica Torres. Deborah rapidamente entrou no projeto e não pensou duas vezes em convidar Monique Gardenberg para dirigir. “Ela consegue juntar uma delicadeza com uma não condescendência. Faz o texto ficar mais fácil do que é e tem um olhar feminino que me agrada”, diz a atriz. Além disso, a diretora já tinha familiaridade com a dramaturgia de Rapp. Em 2011, dirigiu Inverno da luz vermelha, do mesmo autor.
Diretora de cinema (Benjamim, Ó, paí, ó) e produtora de shows musicais, Gardenberg sempre faz de suas incursões teatrais uma forma de misturar seus interesses profissionais. “Acredito que eu me relacione com o teatro utilizando o mesmo vocabulário do cinema. A atuação é naturalista, não há projeção de voz, e ela está toda voltada para o palco, para a cena. Então, é como se você estivesse assistindo a um filme. Porque nunca quebro a quarta parede. A ação privilegia o jogo entre os atores, e a plateia é convidada a assistir este ‘cinema vivo’”, descreve a criadora de Os sete afluentes do Rio Ota.
Para Monique Gardenberg, seja no cinema ou no teatro, pormenores que vão além do texto e das interpretações contribuem para que a história seja contada de maneira eficiente. “Cada detalhe, cada ideia que é dada ajuda a desenhar os personagens, suas motivações, e a emprestar verdade a algo que não é real. É aí que a magia acontece, quando um ator, amparado por luz, trilha, cenário e figurino, consegue dar vida a uma criação artística.”
No caso de Hora Amarela, o cenário de Daniela Thomas, a iluminação de Maneco Quinderé e a trilha sonora original de Lourenço Rebetez contribuem para instaurar o clima necessário para a ação. “Daniela é genial. E na Hora Amarela ela mais uma vez surpreendeu, com uma ideia inspiradíssima, que alterou toda a relação daquelas criaturas com o mundo de fora: a cena passava a acontecer num porão, portanto, debaixo da terra. A vida estaria acima de suas cabeças, em última análise, no céu”, diz Monique.
Já a trilha foi pensada para atender a três camadas diferentes de intenções. “Eu precisava que essa peça fosse muito tensa, não aliviasse nunca, para que pudéssemos reproduzir o clima de medo e tensão que envolve uma guerra. E logo percebi que a trilha seria fundamental para me ajudar a criar atmosfera”, conta a diretora.
HORA AMARELA
3 de abril a 4 de maio de 2015, de sexta a segunda, às 20h. Teatro I – CCBB BH (Praça da Liberdade, 450, Funcionários, (31) 3431-9446). Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia