Fundador do grupo Teatro Invertido e coordenador-geral do Galpão Cine Horto, o ator mineiro Leonardo Lessa, de 32 anos, será o novo diretor do Centro de Artes Cênicas da Funarte. Assumirá o lugar do gaúcho Antônio Gilberto Porto Ferreira. Escolhido pelo presidente Francisco Bosco pela militância na área tanto em esferas federal, estadual e municipal e pela atuação na câmara setorial do teatro, assumirá o posto em momento delicado.
O orçamento atual da Funarte é de R$ 19 milhões, com previsão de corte em torno de 25%. No caso das artes cênicas, há filas de projetos aprovados por editais que não foram pagos, como Prêmio Myriam Muniz, dedicado à montagem e circulação teatral. Na dança, os artistas ainda aguardam o lançamento do edital do prêmio Klauss Vianna. Ou seja, a produção está parada dependendo dos recursos.
REFORMULAÇÃO A ideia é dar início à gestão pela normalização de processos internos, com aprimoramento das ferramentas para ação. “A Funarte caiu há alguns anos em um ciclo de repetição de modelo sem uma sistemática de avaliação contínua. É preciso repensar essa dinâmica e criar um procedimento que dê conta da cadeia de produção das artes cênicas, com suas novas demandas”, propõe.
Lessa é contrário, por exemplo, à dependência do setor aos editais. “Defendo política de Estado para as artes. Os segmentos precisam ter prioridades de fomento mais claras e isso precisa ser garantido por lei”, afirma. Outra crítica é quanto aos montantes diferenciados para as diversas regiões do Brasil.
Para as artes cênicas Leonardo Lessa cobra um marco regulatório legal que estabeleça os elos da cadeia produtiva. “Já temos alguns bem claros, como montagem, circulação, manutenção de grupos artísticos. Mas quais seriam os outros? Isso deveria ser estruturado em um projeto de lei que seja votado e a dotação seja orçamentária”, explica.
De qualquer forma, há na Funarte focos de incêndio a serem solucionados já. Sobre o atraso no repasse do dinheiro dos prêmios, a justificativa é de que se trata de uma dotação que depende do Orçamento Geral da União, votado com atraso pelo Congresso. “Todos os recursos ficaram retidos no Tesouro, mas essa é prioridade máxima: pagar as dívidas. É recompor esse arranjo para colocar o trem nos trilhos”, informa.
Além dos problemas financeiros, a reformulação geral da Funarte está na pauta do Ministério da Cultura. Criada em 1976, acabou sendo esvaziada e suas atribuições são confusas, mesmo que no papel conste que é responsabilidade dela o fomento às artes. Uma Comissão Nacional das Artes deverá elaborar estudo completo sobre a situação hoje. “É um momento muito rico, no sentido metafórico, de realmente querer transformar e implementar uma política para as artes dentro de uma visão consequente e abrangente”, diz Lessa.