Marco Tulio Resende dedicou 35 de seus 64 anos ao ofício da arte. Essa trajetória está registrada no livro que leva simplesmente seu nome, organizado por ele, Renato Morcatti e Márcia Larica e lançado recentemente pela editora mineira C/Arte ( 206 páginas, R$ 60). A publicação apresenta um panorama do processo de criação do artista mineiro, cuja obra reúne pintura, instalação, desenho e objeto. Marco Tulio revela que faz, desfaz e refaz suas peças jogando com erros, acidentes e acertos surgidos nessa jornada. “Talvez tudo seja um grande diário, construído quase como instinto de sobrevivência”, suspeita. “Minha arte está ligada à memória, mas não só a memória afetiva.”
Exercitando o olhar
Professor de desenho da Escola Guignard, da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), onde ele próprio estudou, Marco Tulio Resende nasceu em Belo Horizonte em 1950. Iniciou suas atividades no fim da década de 1970. “Diferentemente da geração anterior à minha, cujo trabalho era mais conceitual, eu e meus colegas retomamos questões que haviam ficado à margem. É o caso do objeto – não como experimentação, mas como construção específica. Exercitamos o olhar para coisas meio largadas no mundo”, explica.
Marco Tulio prefere não enquadrar sua obra em categorias. “Pertenço a um tempo e procuro olhar para as questões postas por ele. Até porque esse tempo é aquele que, de fato, tenho para fazer arte”, argumenta.
Os professores foram decisivos para a formação do artista plástico. Sara Ávila (1933–2013) despertou-lhe a atenção para os aspectos simbólicos. Já Amilcar de Castro (1920–2002) ensinou-lhe o vocabulário visual artístico. “Ponto, linha, espaço e textura”, resume Resende, referindo-se aos ensinamentos do escultor.
Outra contribuição importante veio do norte-americano Bob Loescher, orientador de seu mestrado no Instituto de Arte de Chicago (EUA). “Muito jovem e deslumbrado com o que encontrei nos Estados Unidos, vi-me solicitado por ele a cuidar do 'eu cultural', a observar o Brasil e a nossa cultura. Passei, então, a valorizar mestiçagem, com sua estética precária e o sentimento telúrico, que é nosso”, conta.
REFERÊNCIAS Nos últimos anos, o ambiente cultural de Belo Horizonte melhorou, constata Marco Tulio, citando o aumento do número de instituições em atividade. Para ele, é inestimável a cidade contar “com duas escolas de referência”: a Guignard, da UEMG, e a Belas-Artes, da UFMG. “Porém, quando pensamos no Brasil não só a partir do Sudeste, percebemos que, assim como há desigualdade social, há desigualdade educacional”, adverte o professor.
Para ele, é positivo o cenário do mercado de arte local, criado paralelamente à atuação de sua geração. “Mas sou crítico das visões que consideram arte só como mercado. Arte é também questionamento, visão de mundo, espelho sensível do ser humano”, afirma.
Os 35 anos de ofício não significam que as coisas ficaram mais fáceis para Marco Tulio. “É como estar em um carro que entra no túnel escuro com os faróis voltados para trás. Você enxerga o que fez, mas o que está à frente é recomeçar do zero”, argumenta, valendo-se da frase do escritor Pedro Nava.
A matriz é o desenho, que pode gerar pinturas, peças gráficas ou objetos. As obras de Marco Tulio trazem a interpelação de situações e temas ligados à vida e à morte, além de questões alusivas ao tempo e à percepção do mundo. ”Somos o que somos devido ao que vivenciamos e guardamos ao longo da vida”, afirma. “Certa vez, li que o homem tem medo do objeto que não tem nome. Concordo. O que faço é nomear, renomear e ressignificar as coisas.” Para ele, pouco importa se isso se dá com abstrações ou figurações, de modo mais subjetivo ou objetivo.
Exercitando o olhar
Professor de desenho da Escola Guignard, da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), onde ele próprio estudou, Marco Tulio Resende nasceu em Belo Horizonte em 1950. Iniciou suas atividades no fim da década de 1970. “Diferentemente da geração anterior à minha, cujo trabalho era mais conceitual, eu e meus colegas retomamos questões que haviam ficado à margem. É o caso do objeto – não como experimentação, mas como construção específica. Exercitamos o olhar para coisas meio largadas no mundo”, explica.
Marco Tulio prefere não enquadrar sua obra em categorias. “Pertenço a um tempo e procuro olhar para as questões postas por ele. Até porque esse tempo é aquele que, de fato, tenho para fazer arte”, argumenta.
Os professores foram decisivos para a formação do artista plástico. Sara Ávila (1933–2013) despertou-lhe a atenção para os aspectos simbólicos. Já Amilcar de Castro (1920–2002) ensinou-lhe o vocabulário visual artístico. “Ponto, linha, espaço e textura”, resume Resende, referindo-se aos ensinamentos do escultor.
Outra contribuição importante veio do norte-americano Bob Loescher, orientador de seu mestrado no Instituto de Arte de Chicago (EUA). “Muito jovem e deslumbrado com o que encontrei nos Estados Unidos, vi-me solicitado por ele a cuidar do 'eu cultural', a observar o Brasil e a nossa cultura. Passei, então, a valorizar mestiçagem, com sua estética precária e o sentimento telúrico, que é nosso”, conta.
REFERÊNCIAS Nos últimos anos, o ambiente cultural de Belo Horizonte melhorou, constata Marco Tulio, citando o aumento do número de instituições em atividade. Para ele, é inestimável a cidade contar “com duas escolas de referência”: a Guignard, da UEMG, e a Belas-Artes, da UFMG. “Porém, quando pensamos no Brasil não só a partir do Sudeste, percebemos que, assim como há desigualdade social, há desigualdade educacional”, adverte o professor.
Para ele, é positivo o cenário do mercado de arte local, criado paralelamente à atuação de sua geração. “Mas sou crítico das visões que consideram arte só como mercado. Arte é também questionamento, visão de mundo, espelho sensível do ser humano”, afirma.
Os 35 anos de ofício não significam que as coisas ficaram mais fáceis para Marco Tulio. “É como estar em um carro que entra no túnel escuro com os faróis voltados para trás. Você enxerga o que fez, mas o que está à frente é recomeçar do zero”, argumenta, valendo-se da frase do escritor Pedro Nava.