A dedicação de Zavagli à aquarela vem desde 1978, depois que ele sofreu intoxicação por tinta óleo. O novo rumo o levou a desenvolver “desenhos pictóricos”. Procurando alternativas ao óleo, encontrou o que procurava na aquarela. Sua primeira exposição de trabalhos realizados com a técnica é de 1981 e trazia homenagens a artistas, com retratos e evocação a obras, além de algumas paisagens. Foi a descoberta de um livro de Thomas Ender (1793-1875) que abriu espaço para paisagens antológicas, viés que ganhou continuidade com paródia de livros de naturalistas e ciências.
Cada aquarela de Zavagli pode consumir até quatro meses de trabalho. Como elas são comercializadas, é difícil ele conseguir reunir um conjunto delas para fazer uma exposição. O que traz a ele uma certa aflição. “É no conjunto que está o pensamento de um artista. É diante de uma reunião de obras que podemos observar uma construção, uma ideia, um processo de criação.”
O artista considera as técnicas de impressão digital como uma espécie de litografia contemporânea, com o diferencial de reabrirem “com possibilidades inacreditáveis” a questão da criação de imagens e a reprodução delas.
“As diversas técnicas são apenas meios para o trabalho com a imagem e a linguagem”, observa, sem estabelecer hierarquias entre processos técnicos. Cita como exemplo a possibilidade de ampliar trabalhos pequenos para grandes formatos, o que acentuou o lado pictórico das imagens em que experimentou esse procedimento. “Mas essa tecnologia está começando a se desenvolver, e seu custo ainda é muito alto”, pondera.
Começou a carreira como pintor e, mais tarde, ganhou prêmios em diversos salões com desenhos em preto e branco, produções dramáticas dos anos 1970 alusivas à atmosfera pesada da ditadura militar.
Avaliando o universo da arte hoje no Brasil, vê com alguma melancolia sua aproximação com o mundo do espetáculo. “O que temos são grandes exposições, com belos catálogos, apoio educacional, que atingem públicos gigantescos. Mas elevaram o custo até o limite de tornar impossível fazer uma exposição”, observa.
Acrescente-se a esse panorama o fato de galerias terem se tornado escritórios de arte, com poucas exposições, centradas em vendas e outros aspectos comerciais. “Não temos mais a efervescência dos tempos em que existia um movimento de artes plásticas ligado ao pensamento, à filosofia, à história ou à literatura”, analisa.
O pequeno número de galerias (“com interesse de discutir questões das artes plásticas”) no Brasil acentua ainda mais esse problema, na opinião do artista. É uma circunstância que afeta tanto artistas que já têm carreira estabelecida (que têm de buscar captação de patrocínios) quanto jovens, que ficam sem ter onde mostrar seu trabalho.
“Tenho recomendado aos mais novos, que ficam órfãos ao sair da universidade, que aluguem casas velhas e instalem nelas ateliês coletivos. É um espaço de trabalho, de diálogo, de venda para subsistência. Algo que proporciona condições para continuar o trabalho de arte, sem ter que dividi-lo com outra atividade”, conta.
Gravuras e aquarelas
Mário Zavagli – Hoje, às 19h, para convidados. A partir desta qiarta-feira, aberta ao público. Galeria de Arte do Centro Cultural Minas Tenis Clube (R. da Bahia 2.244, subsolo, Lourdes, (31) 3516-126). De terça a sábado, das 10h às 20h; domingos e feriados, das 11h às 19h. Entrada franca. Até dia 14 de junho.