Campanha de Popularização do Teatro e da Dança tem recorde de atrações e queda na bilheteria

Organização da campanha estuda mudanças para edições futuras

por Carolina Braga 23/02/2015 10:45

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GUTO MUNIZ/DIVULGAÇÃO
Lindsay Paulino em cena de 'Rose, a doméstica do Brasil', comédia que ocupa o oitavo lugar entre os espetáculos mais vistos da 41ª Campanha de Popularização do Teatro (foto: GUTO MUNIZ/DIVULGAÇÃO)
Quando o produtor e ator Luiz Henrique Moura planejou a temporada da comédia 'Velório à brasileira' na 41ª Campanha de Popularização do Teatro e da Dança, reservou os teatros Nossa Senhora das Dores e Cine Theatro Brasil Vallourec confiante em que seria mais um período de números rechonchudos. Afinal, até então haviam sido cinco anos de sucesso. Mas este 2015 começou estranho.

A campanha, que registrou público crescente de 2010 a 2013, inverteu essa tendência em 2014 e agora acentuou seu viés de queda de público. “Estou muito surpreso”, diz o produtor de 'Velório à brasileira'. Se, em 2014, Luiz vendeu 2.819 ingressos durante as seis primeiras semanas da campanha para o espetáculo, este ano não passou de 1.504. E olha que escolheu se apresentar em casas grandes, como o pomposo novo espaço da Avenida Afonso Pena. “Foi uma queda considerável”, lamenta.

O diretor Pedro Paulo Cava, administrador do Teatro da Cidade e acostumado a ver ali filas e mais filas nessa temporada de verão, também se surpreendeu com a queda do movimento deste ano. “O teatro tem 190 lugares e temos tido uma média de 110 pessoas por apresentação de 'Samba, amor e malandragem'. Aqui lotava”, lembra.

“Tenho conversado com outros produtores e muitos têm a mesma opinião: essa 41ª Campanha está um pouco assustadora pra nós”, diz Luiz Henrique Moura. Segundo ele, já no final do ano passado era possível perceber que os meses tradicionalmente conhecidos por casa cheia não seriam tão produtivos assim. Do ponto de vista das produções, o ano que teve Copa do Mundo e eleições não foi favorável para captar recursos de empresas com incentivo fiscal. Agora, a diminuição do público completa o cenário de tempos difíceis para a cultura.

Na comparação das seis primeiras semanas da campanha de 2014 com o mesmo período em 2015, há uma queda de pelo menos 41 mil ingressos nas vendas, o que representa cerca de 20% . Mesmo com as três semanas que faltam para o fim da campanha, dificilmente esta edição alcançará os 373 mil bilhetes vendidos no ano passado. O total até agora é de 202.249.

Até mesmo os espetáculos mais consagrados sentem o impacto. Acredite, um espírito baixou em mim, por exemplo, vendeu no mesmo período do ano passado cerca de 3,3 mil ingressos a mais do que em 2015. Ainda é incontestavelmente o grande hit, com o total de 18.246 entradas vendidas até o dia 17 de fevereiro.

Estado de Minas
(foto: Estado de Minas)
INVESTIGAÇÃO 
“O Brasil não está para brincadeira. Realmente deve ter alguma crise aí, apesar de que está todo mundo pulando carnaval e viajando”, diz Rômulo Duque, presidente do Sindicato dos Produtores de Artes Cênicas (Sinparc), responsável pela realização do evento. “Todos os anos em que houve aumento no preço do ingresso, houve uma pequena queda nas vendas”, afirma Dilson Mayron, que divide a coordenação do evento com Duque.

Em 2015, o preço médio do bilhete pulou de R$ 12 para R$ 15. Os coordenadores acreditam que os R$ 3 fazem diferença no resultado. “Antigamente, a pessoa comprava para ela e até para um amigo e ia em uma média de três peças. Agora, o espectador está pensando e selecionando mais o número de ingressos que vai comprar. É um fator que está nítido para a gente”, diz Duque.

Existem outros aspectos que o Sinparc relaciona com a baixa: o calor de janeiro fez com que o público viajasse mais nas férias, o sucesso do carnaval de Belo Horizonte bem no meio da temporada teatral, a eliminação dos postos móveis de venda e, ainda, alguns equívocos no planejamento das ocupações dos espaços. De acordo com Rômulo Duque, montagens de pequeno porte escolheram casas muito grandes em poucos dias e, por sua vez, grandes produções se apresentam em locais menores.

“O produtor entra na campanha pensando que é o grande momento dele. Então, algumas pessoas perdem a mão”, observa. Como não foi esse o caso de Geraldo Lucianni, da Copas Produções, ele não tem do que reclamar neste 2015, por mais que ouça reclamações entre os colegas.

A empresa dele entrou na campanha com cinco montagens. Duas delas estão entre as dez mais vistas desta edição: 'Como sobreviver em festas e recepções com buffet escasso', de Carlos Nunes, e 'Rose, a doméstica do Brasil', de Lindsay Paulino. No caso da Copas, mesmo em se tratando de espetáculos com figuras conhecidas do público e que costumam ter êxito, ajustes foram feitos nas estratégias.

“Como 'Amar é uma comédia' não foi tão bem no ano passado, resolvemos fazer somente uma apresentação em um teatro maior. O único que aumentamos foi o 'Como sobreviver...'”, conta. Para Geraldo, a plateia de BH tem uma relação especial com Carlos Nunes e por isso a aposta foi maior em seu espetáculo. “A gente vai adquirindo experiência a partir dos anos anteriores.”
 
"Há excesso de porcaria"

Sem entrar no mérito estético, para Luiz Henrique Moura, a oferta de peças está muito grande e, de certa forma, em descompasso com a demanda. “Tem muito espetáculo, e acaba que o público fica dividido”, afirma o produtor. O diretor Pedro Paulo Cava também acredita que esse seja um dos motivos para a queda nas vendas. E acrescenta: “Há um excesso de porcaria”, critica.

Para o criador de 'Mulheres de Hollanda' e tantos outros sucessos na história do teatro mineiro, é preciso discutir – e afinar – os critérios elegíveis para a participação na campanha. Atualmente, a peça interessada em participar do evento precisa apenas cumprir 12 sessões ao longo do ano, sendo pelo menos três delas em Belo Horizonte.

“Acho que está na hora de ter uma curadoria. Entendo o caráter democrático, mas não pode ser demais. Tem gente que não trabalha mais. Só faz espetáculo na campanha”, diz. “O problema não é aumentar peça. É se essas que estão vindo estão sustentando o público”, contesta Rômulo Duque.

Apesar de discordar que o número de atrações seja uma explicação para o problema, o presidente do Sinparc concorda que o critério do mínimo de apresentações precisa ser revisto. “Eu sou a favor de temporadas. Mas isso tem que ser colocado em votação”, conta. Por temporadas entende-se quatro semanas em cartaz.

Todos os anos, assim que o evento termina, o Sinparc realiza uma reunião de balanço, na qual os filiados fazem seus comentários e sugestões. Moura acredita que este será um tema a ser debatido no encontro que está por vir.

“A gente ainda não tem um diagnóstico sobre o que causa essa falta de público. Pode ser o preço, o público que viajou ou a oferta. Acredito que novos critérios para as próximas campanhas deveriam ser discutidos”, opina. O produtor faz questão de destacar que, mesmo com o afinamento das regras para participação, o mérito estético das montagens não tem que estar na discussão. “Quem tem que fazer esse filtro é o público.”

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