Eduardo Fonseca "morde e assopra" em 'Para, por favor'

Artista exibe quadros 'agradáveis ao olhar, mas muito críticos' em série que tematiza a política

por Walter Sebastião 18/02/2015 08:39

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 Eduardo Fonseca/Divulgação
A pintura Democracia, que integra a exposição Para, por favor (foto: Eduardo Fonseca/Divulgação)
A galeria de arte do BDMG Cultural apresenta, até 15 de março, uma exposição de encher os olhos: 'Para, por favor', pinturas de Eduardo Fonseca. O artista expõe 10 trabalhos, realizados entre 2013 e 2015. A partir da representação de animais, busca ser uma visão alegórica da política.


Leva o nome de 'Ocupação' a tela tomada por pássaros, que aludem aos manifestantes que vêm tomando as ruas em diversas partes do mundo. Imagem do próprio pintor é vista no meio das aves. 'Democracia' mostra galos de briga se enfrentando, com o mapa-múndi de cabeça para baixo ao fundo. 'Retirante' exibe uma gaivota que caminha para um lugar escuro.


“São quadros agradáveis ao olhar, mas muito críticos. Mordo e assopro”, brinca Eduardo Fonseca. O artista diz criar “metáforas para falar do comportamento das pessoas”. Mas afirma que não considera as pinturas um fábula, pois não há intenção de apresentar uma lição de moral.


Fonseca observa que as imagens podem ter vários significados: “Tudo depende do espectador”. Não se trata de imagens realistas, até porque, para enfatizar atmosferas, intenções, aspectos plásticos, ele se vale (e muito) de massas de cores, assim como de enquadramento e do desenho.


A exposição no BDMG Cultural é a segunda individual de Eduardo Fonseca. A primeira foi em 2014, na A. M. Galeria de Arte. A pintura veio a partir de curso na Escola de Belas-Artes da UFMG e depois de uma longa dedicação ao desenho. Depois de concluir o curso, em 2009, Fonseca fez mestrado em pintura em Lisboa, onde morou entre 2010 e 2013.
“A vivência foi mais importante do que os estudos”, afirma. Ele testemunhou a recessão em Portugal e a série de manifestações em vários países europeus, devido à crise econômica.


 Eduardo Fonseca/Divulgação
A obra 'O que não se pode descrever 3', de Eduardo Fonseca (foto: Eduardo Fonseca/Divulgação)
Ao voltar para o Brasil, encontrou um contexto de protestos, ocupações (inclusive da Câmara Municipal), assim como a efervescência de blocos de carnaval. “E tudo isso foi influenciando o trabalho, não havia como escapar”, conta.
O manifestante que protesta, personagem de pinturas de Eduardo Fonseca já há alguns anos, remete a alguém que “sonha e quer mais” do que está posto como rotina. “Não podemos nos acostumar com problemas graves e achar que eles são normais”, afirma, considerando que é tema das obras dele a conquista da liberdade, o desejo de mudança, a luta pela transformação da sociedade etc.


“A pintura, para mim, é também instrumento para falar de questões em que acredito e apresentar meus pontos de vista”, observa. O artista é crítico do que considera “olhar colonizado” sobre o Brasil, percepção “das elites”, explica, que considera tudo que vem de fora bom e tudo que é feito no Brasil, ruim.


Mais do que a história da arte as fontes do trabalho do artista, segundo ele diz, são imagens que encontra na internet, em revistas e livros. “Na escola de Belas-Artes, aprendemos a usar referências de outros artistas para construir o nosso trabalho. Só que se trata de repertório muito voltado ao mundo da arte, que já vem sendo usado há muitos anos. O que é produzido de imagens hoje, como grafite, capas de disco, Instagram, Flickr, vai muito além da história da arte. Acho esse material mais estimulante. São coisas novas, que fazem parte do mundo de hoje, da nossa sociedade”, argumenta.

 

'Para, por favor' Pinturas de Eduardo Fonseca

Galeria de arte do BDMG Cultural, Rua Bernardo Guimarães, 1.600, Lourdes, (31) 3219-8656. Todos os dias das 10h às 18h. Até dia 15 de março. Entrada gratuita.



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