Mostra de Leila Danziger na Funarte/MG tem como tema a memória e o esquecimento

Em seu inventário de perdas, a artista trata com atenção especial a poesia e o jornalismo

por Walter Sebastião 07/12/2014 00:13

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Wilton Montenegro/Divulgação
Exposição de obras da artista Leila Danziger, na Funarte/MG, reúne trabalhos de técnicas variadas, como livros, instalações, fotos, vídeos e objetos (foto: Wilton Montenegro/Divulgação)
A carioca Leila Danziger, de 52 anos, está apresentando uma exposição imperdível na Funarte/MG. São cerca de 40 obras (livros, vídeo instalação, fotos e objetos) dos últimos oito anos, com curadoria da psicanalista Fátima Pinheiro. Todas investigação sobre motivo caro à artista: o que se esquece e o que se lembra. Ou, como está formulado no título da exposição, O que desaparece e o que resiste. Motivo presente na obra da artista há mais de duas décadas, aprofundado a cada nova série de trabalhos, construindo presença singular e sólida no contexto da arte brasileira.

Os trabalhos de Leila Danziger apresentados na exposição são construídos basicamente com dois gestos. Um, o de apagar (rasurar, velar etc.) o texto de notícias dramáticas em páginas de jornais, deixando apenas imagens e resíduos dos textos. O outro, carimbar versos de poemas (de Ana Cristina César, Cecília Meireles, Clarice Lispector e Paul Celan), com nomes em pensamentos, sobre as superfícies onde se vê apenas ruínas de informação. Intervenção que busca restituir densidade de matéria banalizada, que é também interpelação da memória, da narrativa, do tempo, da história, do sentido e da subjetividade.

“O que busco fazer é qualificar a imagem impressa, é dar uma sobrevida a ela”, conta a artista, frisando que prefere deixar conclusões sobre o sentido das peças para o público. O trabalha se vale de valores estéticos – texturas, rasuras e ordenações dos elementos visuais – eleitos por revelar os gestos de apagamento que constroem as narrativas, trazendo para as obras o texto literário. “Um poema, cada vez que é lido, traz significados diferentes”, justifica. Para Leila, interessa evidenciar o modo como se constrói a leitura de mundo, por meio de contínua negociação entre memória e esquecimento.

Leila Danziger tem relação de amor e ódio com os jornais, matéria com que trabalhou por quase toda a vida. E com surpresa vê o meio sob risco de desaparecimento. Por isso, considera que especulações feitas sobre o jornal valem também para outras mídias. O motivo do incomodo é a tensão criada entre o registro dos dramas do mundo e banalidade com que são manipulados. Acrescente-se velocidade industrial, produzindo diariamente massa de informações incapazes de se tornar memória. O resultado é rumor, ruído e esquecimento.

Movendo a arte de Leila está a ética que busca o reconhecimento de todos os excluídos. “Posso apagar muita coisa, mas não a dramaticidade desta questão”, observa. “Estou falando do mundo, da vida, não fazendo arte centrada em si mesma.” Com relação a artistas que admira, cujas obras têm questões próximas ao que faz, ela cita Esther Shalev-Gert, pelo compromisso com o testemunho; Christian Boltanski, mais pelo tema do esquecimento do que da memória; e Anselm Kiefer, pelo inteligente embate com a história.

História e poesia

Leila Danziger é artista plástica e professora do Instituto de Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Graduou-se pelo Institut d’Arts Visuels d’Orleans, França, onde viveu de 1985 a 1989. É doutora em história pela PUC-RJ, com estágio na Universidade de Oldenburg, Alemanha.

Em 2011, realizou pesquisa de pós-doutorado junto à Bezalel Academy of Arts and Design Jerusalem (Israel). É pesquisadora do CNPq, desenvolvendo projetos de criação em artes visuais, valendo-se de sua dupla formação, como artista e historiadora da arte. Leila Danziger tem dois livros sobre sua obra: Diários públicos (Editora Contracapa) e Todos os nomes da melancolia (Apicuri Editora).

Depois de anos como leitora de poesia, Leila publicou em 2012 um livro de poemas Três ensaios de fala (Sette Letras). “Gosto da atuação como professora. Permite o desenvolvimento contínuo do trabalho. E, nesse sentido, sou muito grata à universidade. Existe uma vida da arte na universidade, como pesquisa, que é muito importante”, observa.

O que desaparece, o que resiste
Livros, vídeo e instalação de Leila Danziger. Funarte/MG, Rua Januária, 68, Floresta. De segunda a domingo, das 13h às 21h. Entrada franca. Até dia 15.

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