Festival Internacional de Teatro de Bonecos começa nesta quarta em BH

Programação traz 10 espetáculos de seis países. Evento fica em cartaz até dia 14, em BH

por Carolina Braga 03/09/2014 08:13

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Veronique Vercheval/divulgação
'L'Ecole des Ventriloques' é um dos espetáculos da noite de abertura do Festival Internacional de Teatro de Bonecos (foto: Veronique Vercheval/divulgação)
Quando tinha 7 anos, em uma expedição exploratória pelos corredores do colégio de freiras em Paraguaçu, no Sul de Minas, Lelo Silva deparou com o que, para ele, era quase um tesouro. “No porão do auditório, achei duas caixas de papelão lotadas de fantoches. Juntei aquilo, uns amigos e montamos uma história. A gente se apresentava sábado, cobrando chicletes e doce da plateia”, lembra. Algumas décadas se passaram, mas até hoje a inquietação toma conta de Lelo quando ele fala de bonecos e dos universos que cercam essas criaturas.


Até dia 14, o Festival Internacional de Teatro de Bonecos (FITB), idealizado por ele e por Adriana Focas em 2000, volta à agenda de Belo Horizonte depois de superar uma crise. Em 2012, por dificuldades na articulação de patrocínios, houve uma pausa no evento. “Não conseguia nem grana direito e nem espaço”, recorda o produtor. Em 2013, o festival foi realizado de maneira bastante tímida. Agora, com o apoio do Banco do Brasil, promete lembrar os bons e velhos tempos.


O Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) receberá 10 espetáculos do Brasil, Espanha, Itália, Bélgica, França e Chile, além de 11 caixas de teatro inspiradas na técnica lambe-lambe – montagem em miniatura exibida para um ou dois espectadores por sessão. “Pensamos muito no público de Belo Horizonte e priorizamos a dramaturgia. O tema é a primeira coisa que atrai”, diz Lelo.


O público terá a oportunidade de conferir a combinação de técnicas e dramaturgia no mínimo diferente daquela a que está acostumado. A ideia é despertar no espectador encantamento semelhante ao de Lelo no porão de seu antigo colégio.


Se naquela época o difícil era convencer os colegas de Paraguaçu a embarcar na onda, obviamente, os bonecos de Lelo ganharam outra dimensão. Este ano, para atrair espetáculos que realmente impactaram a curadoria, ele e os colegas da companhia Catibrum toparam construir do zero os cenários das montagens 'Diagnóstico: Hamlet', da Cia Pelmànec (Espanha); 'L’Ecole des Ventriloques', da Cia. Point Zéro (Bélgica); e 'La caravane de l’herreur', da Cia Bakélite (França).


“Fica mais barato, é o caminho para viabilizar o festival e um prazer pra gente. É muito bom ver isso aqui nascendo”, diz Lelo. L’Ecole des Ventriloques, a peça escolhida para a abertura, esta noite, tem sete grandes armários em cena. Embora pareçam ser de ferro, tudo foi feito em madeira dentro da sede onde a Catibrum cria as próprias montagens. Foram necessários 200 metros quadrados de compensado e 2,5 mil parafusos para pôr a estrutura de pé.


'L’Ecole des Ventriloques' promete ser o espetáculo mais grandioso desta edição do FITB. Com texto do cineasta e escritor chileno Alejandro Jodorowsky, trata-se de um conto filosófico. Ao mesmo tempo em que provoca medo e faz rir, leva para a cena interrogações sobre o status do artista no mundo hoje. O cenário é construído pela segunda vez na América Latina. A primeira foi na terra natal do autor.


Vem do Chile a outra pérola: 'Otelo', da Cia. Viaje Inmóvil. Entre os diretores está Jaime Lorca, ex-integrante e um dos fundadores da Cia. La Tropa, que oferece olhar contemporâneo para a tragédia passional escrita por William Shakespeare.

Brasil Entre os destaques nacionais está a estreia de O quadro de todos juntos, montagem do grupo mineiro Pigmaleão Escultura que Mexe, em cartaz no dia 10. Uma prévia foi apresentada no Festival de Cenas Curtas do Galpão Cine Horto e na Feira de Teatro de Bonecos de Lleida, na Espanha, onde o espetáculo ganhou o prêmio do júri internacional. “É mais um pedaço da estreia, fazemos tudo aos poucos. A gente fez uma experiência para o Cenas Curtas e, como deu muito certo, acabamos mudando a versão completa do espetáculo. Na verdade, ele está mudando até hoje”, conta o diretor Eduardo Felix.
Segundo ele, a família de porcos que protagoniza a peça não para de crescer. “Aos poucos, ela vai ficando mais complexa. Estamos fazendo de uma maneira pouco convencional. A dramaturgia nasce da pintura, e não da escrita”, completa.


Outra atração que promete ser marcante é a apresentação inclusiva de O som das cores, da Catibrum, no dia 8. A história terá o suporte da audiodescrição para atender os espectadores cegos.

 

RAMON LISBOA/EM/D.A PRESS
Lelo Silva e Adriana Focas no trailer construído especialmente para a peça 'La caravane de l'orreur' (foto: RAMON LISBOA/EM/D.A PRESS)
Made in Minas

 

“Foi aquela coisa ‘papai, eu quero’. Isto aqui é um sonho”, conta Lelo Silva sobre La caravane de l’herreur, atração a partir do dia 11. Quando assistiu à montagem de Olivier Rannou e Alan Floc’h na programação paralela do festival francês de Charleville, Lelo saiu convicto de que o público de Belo Horizonte precisava ver aquilo. O problema é que a peça se passa dentro de um trailer, tipo motorhome, para plateia de apenas 17 pessoas.


Tem mais: La caravane... é representante do gênero horror, com apenas 17 minutos de duração. Lelo garante: a experiência é rápida e marcante. “Quando a sessão acabou, disse a eles que queria levar a peça para o Brasil, mas não acreditaram. Como o meu francês é meio tímido, acabei não argumentando. De volta a BH, mandei um e-mail para o grupo”, conta.
Adriana Focas também saiu da sessão impactada.. “Quando ele falou em trazer a peça, imaginei pegar um trailer de verdade e fazer algumas modificações. Vimos que não era tão fácil, aí ele sugeriu construir. Pensei: ‘Lelo, agora você endoidou’”, brinca ela. A missão “sobrou” para Tim Santos, cenógrafo da Catibrum. “Se o Tim falasse que sim, aí sim”, completa Adriana. “A princípio, achei impossível. Depois, fui pensando melhor e resolvi pegar esse desafio”, conta Santos.


Desde 26 de julho ele se dedica exclusivamente a construir o trailer. Como os desenhos com todos os detalhes vieram da França, Tim precisou da ajuda de um tradutor para entender as orientações. “Estou muito orgulhoso de conseguir fazer a peça para mostrar o espetáculo aqui. Gosto muito dela”, conclui Lelo, prometendo uma bela surpresa para o público.

 

PROGRAMAÇÃO

 

» Quarta-feira
19h – 'Tropeço'. Com Tato Criação Cênica (PR/BR)
20h – 'L’Ecole des Ventriloques'. Com Cia. Point Zéro (Bélgica)

» Quinta-feira
20h – 'L’Ecole des Ventriloques'

 

» Sexta-feira
19h – 'Tropeço'
20h – 'Diagnóstico: Hamlet'. Com Pelmànec (Espanha)

» Sábado
16h – 'Entre janelas'. Com Tato Criação Cênica (PR/BR)
19h – 'El cubo libre'. Com Cia. Dromosofista (Itália)
19h – 'Diagnóstico: Hamlet'

» Domingo

16h – 'Entre janelas'
19h – 'El cubo libre'
19h – 'O som das cores'. Com Cia. Catibrum (MG/BR)

 

 

14º FESTIVAL INTERNACIONAL DE TEATRO DE BONECOS
De quarta ao dia 14. CCBB, Praça da Liberdade, 450. Ingressos R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia). Capacidade: 264 pessoas. Programação completa no
site do Festival

 

Veja os bastidores da construção do trailer para a peça 'La caravane de l’horreur':

 

 

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