Até dia 14, o Festival Internacional de Teatro de Bonecos (FITB), idealizado por ele e por Adriana Focas em 2000, volta à agenda de Belo Horizonte depois de superar uma crise. Em 2012, por dificuldades na articulação de patrocínios, houve uma pausa no evento. “Não conseguia nem grana direito e nem espaço”, recorda o produtor. Em 2013, o festival foi realizado de maneira bastante tímida. Agora, com o apoio do Banco do Brasil, promete lembrar os bons e velhos tempos.
O Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) receberá 10 espetáculos do Brasil, Espanha, Itália, Bélgica, França e Chile, além de 11 caixas de teatro inspiradas na técnica lambe-lambe – montagem em miniatura exibida para um ou dois espectadores por sessão. “Pensamos muito no público de Belo Horizonte e priorizamos a dramaturgia. O tema é a primeira coisa que atrai”, diz Lelo.
O público terá a oportunidade de conferir a combinação de técnicas e dramaturgia no mínimo diferente daquela a que está acostumado. A ideia é despertar no espectador encantamento semelhante ao de Lelo no porão de seu antigo colégio.
Se naquela época o difícil era convencer os colegas de Paraguaçu a embarcar na onda, obviamente, os bonecos de Lelo ganharam outra dimensão. Este ano, para atrair espetáculos que realmente impactaram a curadoria, ele e os colegas da companhia Catibrum toparam construir do zero os cenários das montagens 'Diagnóstico: Hamlet', da Cia Pelmànec (Espanha); 'L’Ecole des Ventriloques', da Cia. Point Zéro (Bélgica); e 'La caravane de l’herreur', da Cia Bakélite (França).
“Fica mais barato, é o caminho para viabilizar o festival e um prazer pra gente. É muito bom ver isso aqui nascendo”, diz Lelo. L’Ecole des Ventriloques, a peça escolhida para a abertura, esta noite, tem sete grandes armários em cena. Embora pareçam ser de ferro, tudo foi feito em madeira dentro da sede onde a Catibrum cria as próprias montagens. Foram necessários 200 metros quadrados de compensado e 2,5 mil parafusos para pôr a estrutura de pé.
'L’Ecole des Ventriloques' promete ser o espetáculo mais grandioso desta edição do FITB. Com texto do cineasta e escritor chileno Alejandro Jodorowsky, trata-se de um conto filosófico. Ao mesmo tempo em que provoca medo e faz rir, leva para a cena interrogações sobre o status do artista no mundo hoje. O cenário é construído pela segunda vez na América Latina. A primeira foi na terra natal do autor.
Vem do Chile a outra pérola: 'Otelo', da Cia. Viaje Inmóvil. Entre os diretores está Jaime Lorca, ex-integrante e um dos fundadores da Cia. La Tropa, que oferece olhar contemporâneo para a tragédia passional escrita por William Shakespeare.
Segundo ele, a família de porcos que protagoniza a peça não para de crescer. “Aos poucos, ela vai ficando mais complexa. Estamos fazendo de uma maneira pouco convencional. A dramaturgia nasce da pintura, e não da escrita”, completa.
Outra atração que promete ser marcante é a apresentação inclusiva de O som das cores, da Catibrum, no dia 8. A história terá o suporte da audiodescrição para atender os espectadores cegos.
Made in Minas
“Foi aquela coisa ‘papai, eu quero’. Isto aqui é um sonho”, conta Lelo Silva sobre La caravane de l’herreur, atração a partir do dia 11. Quando assistiu à montagem de Olivier Rannou e Alan Floc’h na programação paralela do festival francês de Charleville, Lelo saiu convicto de que o público de Belo Horizonte precisava ver aquilo. O problema é que a peça se passa dentro de um trailer, tipo motorhome, para plateia de apenas 17 pessoas.
Tem mais: La caravane... é representante do gênero horror, com apenas 17 minutos de duração. Lelo garante: a experiência é rápida e marcante. “Quando a sessão acabou, disse a eles que queria levar a peça para o Brasil, mas não acreditaram. Como o meu francês é meio tímido, acabei não argumentando. De volta a BH, mandei um e-mail para o grupo”, conta.
Adriana Focas também saiu da sessão impactada.. “Quando ele falou em trazer a peça, imaginei pegar um trailer de verdade e fazer algumas modificações. Vimos que não era tão fácil, aí ele sugeriu construir. Pensei: ‘Lelo, agora você endoidou’”, brinca ela. A missão “sobrou” para Tim Santos, cenógrafo da Catibrum. “Se o Tim falasse que sim, aí sim”, completa Adriana. “A princípio, achei impossível. Depois, fui pensando melhor e resolvi pegar esse desafio”, conta Santos.
Desde 26 de julho ele se dedica exclusivamente a construir o trailer. Como os desenhos com todos os detalhes vieram da França, Tim precisou da ajuda de um tradutor para entender as orientações. “Estou muito orgulhoso de conseguir fazer a peça para mostrar o espetáculo aqui. Gosto muito dela”, conclui Lelo, prometendo uma bela surpresa para o público.
PROGRAMAÇÃO
» Quarta-feira
19h – 'Tropeço'. Com Tato Criação Cênica (PR/BR)
20h – 'L’Ecole des Ventriloques'. Com Cia. Point Zéro (Bélgica)
» Quinta-feira
20h – 'L’Ecole des Ventriloques'
» Sexta-feira
19h – 'Tropeço'
20h – 'Diagnóstico: Hamlet'. Com Pelmànec (Espanha)
» Sábado
16h – 'Entre janelas'. Com Tato Criação Cênica (PR/BR)
19h – 'El cubo libre'. Com Cia. Dromosofista (Itália)
19h – 'Diagnóstico: Hamlet'
» Domingo
16h – 'Entre janelas'
19h – 'El cubo libre'
19h – 'O som das cores'. Com Cia. Catibrum (MG/BR)
14º FESTIVAL INTERNACIONAL DE TEATRO DE BONECOS
De quarta ao dia 14. CCBB, Praça da Liberdade, 450. Ingressos R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia). Capacidade: 264 pessoas. Programação completa no site do Festival
Veja os bastidores da construção do trailer para a peça 'La caravane de l’horreur':