Exposição reúne quadros e conta histórias do pintor mineiro Lorenzato

Exposição com 20 pinturas do artista mineiro reúne quadros que conversam entre si em narrativa criada pelos curadores Rivane Neuenschwander e Alexandre Cunha

por Ana Clara Brant 31/08/2014 00:13

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A capital paulista recebe esta semana mostras de dois grandes representantes mineiros das artes visuais: Amadeo Luciano Lorenzato (1900-1995) e Rivane Neuenschwander. Enquanto Lorenzato terá 30 pinturas expostas na Galeria Bergamin, nos Jardins, região Sul de São Paulo, o Museu de Arte Moderna (MAM) da cidade vai receber 20 obras de diferentes períodos dos últimos 15 anos da carreira de Rivane, entre instalações, vídeos, esculturas e pinturas. O curioso é que a artista é responsável pela curadoria da mostra de Lorenzato, em parceria com Alexandre da Cunha. É a primeira vez que tanto Rivane quanto Alexandre assumem a curadoria de uma exposição. Antes apenas colaboraram em outros trabalhos. “Foi um convite muito bacana da Galeria Bergamin. Eu e Rivane chegamos até a questionar essa expressão ‘curadoria’. Vejo mais como uma seleção e tem sido uma experiência muito interessante”, destaca Alexandre, artista plástico carioca que viveu muitos nos em Belo Horizonte e atualmente mora em Londres.

Fotos: Edouard Fraipont/Galeria Bergamin
(foto: Fotos: Edouard Fraipont/Galeria Bergamin)
A exposição, que ganhou texto crítico de Rodrigo Moura, reúne 30 pinturas, entre abstrações, naturezas-mortas, paisagens e cenas do cotidiano de bairros periféricos de BH, a grande maioria datada entre as décadas de 1970 e 1990. A dupla curatorial incluiu também um óleo sobre placa sem título (1961), que contém inscrita a frase que batiza a mostra: E você nem imagina que Epaminondas sou eu, além de um óleo sobre tela sem título (1948) com texto curioso no verso, que revela o espírito subversivo do artista: “Amadeo Luciano Lorenzato. Pintor autodidata e franco-atirador. Não tem escola. Não segue tendências. Não pertence a igrejinhas. Pinta conforme lhe dá na telha. Amém”.

“O título vem dessa frase que está em um dos quadros, obra que retrata um homem (Epaminondas) em frente a uma casa de aparência simples, ‘conversando’ com seu cachorro. Achamos que há esse elemento surpresa, do inusitado, a revelação de um personagem ainda não conhecido e que esse era um gancho. Em vez de fazer algo cronológico ou temático, já que a obra de Lorenzato é vasta, criamos uma narrativa entre as obras, como se contasse uma pequena história”, explica.

Alexandre da Cunha também lembra que a relação afetiva com a obra de Amadeo Lorenzato e a identificação dos curadores enquanto artistas foram fatores essenciais no processo de seleção das pinturas. E pelo fato de passar vários anos em Minas, inclusive estudando na Escola de Belas-Artes da UFMG, e ainda por conhecer há muito tempo a obra de Lorenzato, o envolvimento foi diferente. “Tem esse aspecto especial mesmo, tanto da minha parte quanto da Rivane. A gente teve a oportunidade de revisitar e rever coleções particulares ou de galerias em BH que tinham telas de Lorenzato. Mas gostaríamos de enfatizar que a nossa relação com a exposição é algo mais pessoal, um recorte muito mais de dois artistas do que de curadores ou historiadores. Lorenzato tinha uma liberdade de temas, um jeito muito fluido em que passava de um tipo de pintura para o outro. Isso era fantástico”, comenta.

E você nem imagina que Epaminondas sou eu Mostra de obras de Amadeo Lorenzato. Galeria Bergamin, Rua Oscar Freire, 379 – Lj 01, São Paulo . De amanhã a 11 de outubro. Aberta de segunda a sexta-feira, das 11h às 19h; sábados, das 11h às 15h.


No labirinto com Rivane


Com curadoria de Adriano Pedrosa, a exposição panorâmica Mal-entendidos, de Rivane Neuenschwander, reúne 20 obras de diferentes períodos dos últimos 15 anos da carreira da artista mineira. Exclusivamente para a mostra, em cartaz até dezembro no MAM de São Paulo, estão em fase de produção oito novas obras e ainda serão exibidas cerca de sete inéditas no Brasil.

Um ponto de destaque do trabalho é a forte interação do público, fazendo com que as obras sofram constante mudança, tornando a questão autoral ambígua. No museu, são priorizados a questão da subjetividade e os estados psíquicos engendrados a partir da relação com o poder, seja pelos questionamentos sobre a autoria e a participação do visitante, a colaboração de profissionais de outras áreas ou ainda pelo comprometimento por parte do museu para a manutenção de algumas obras.

Os trabalhos são apresentados de maneira não cronológica ou linear e a arquitetura foi cuidadosamente pensada a fim de adensar e complexificar a leitura e a percepção da mostra como um todo. Os percursos são montados de maneira propositalmente labiríntica, estreita ou desconfortável, a fim de conscientizar o visitante em relação à sua presença, ao seu estado psíquico e seu deslocamento no espaço.

Mal-entendidos

Mostra de obras de Rivane Neuenschwander. Museu de Arte Moderna de São Paulo, Parque do Ibirapuera, Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº – Portão 3. Abertura terça-feira. Em cartaz até 14 de dezembro. Aberta de terça a domingo, das 10h às 17h30 (com permanência até as 18h).


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