Grupo Corpo apresenta coreografias 'Triz' e 'Onqotô' no Palácio das Artes

Companhia também prepara espetáculo com trilha de Marco Antônio Guimarães para celebrar 40 anos de trabalhos em 2015

por Ana Clara Brant 06/08/2014 08:35

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José Luiz Pederneiras/Divulgação
Com trilha de Lenine, Triz é o mais recente espetáculo da companhia mineira (foto: José Luiz Pederneiras/Divulgação )
O Grupo Corpo reestreia amanhã no Palácio das Artes a sua mais recente criação, 'Triz', ao lado de uma de suas coreografias de maior sucesso, 'Onqotô'. No entanto, a companhia mineira já está de olho no próximo espetáculo, que vai marcar os 40 anos do grupo em 2015. A trilha será assinada por Marco Antônio Guimarães, do Uakti, e executada pela Orquestra Filarmônica de Minas Gerais.

Em outubro, os músicos vão para o Teatro Bradesco gravar as composições, inclusive com participação de alguns dos instrumentos criados por Marco Antônio. O diretor artístico Paulo Pederneiras revela que já há algum tempo existia uma proposta do diretor artístico e regente titular da Filarmônica de Minas, Fabio Mechetti, de fazer algo com o Corpo e, agora, a ideia se tornou viável. “Finalmente nosso estado tem uma orquestra filarmônica de padrão internacional como nunca teve na sua história. É um orgulho para todos os mineiros. Eu, particularmente, sou encantado com a orquestra. Quando a proposta se concretizou, procurei o Marco Antônio Guimarães, com quem já tínhamos feito outros trabalhos, como 'Bach' e '21', e propus que ele fizesse uma obra para a Filarmônica, para os 90 músicos da orquestra. Com o pouco que ouvi, já deu para perceber que será uma obra sinfônica maravilhosa, feita por um dos maiores compositores da atualidade”, ressalta Paulo Pederneiras. Sobre o tema da nova coreografia, o diretor não adiantou, mas a previsão é que ela estreie no segundo semestre do ano que vem.

E as novidades para as celebrações das quatro décadas não param por aí. Paulo Pederneiras está preparando um livro de fotos das turnês da companhia, que será editado pela Cosac Naify. Até o momento, ele já se debruçou sobre cerca de 15 mil imagens, que não representam nem 20% de todo o material. “Este ano estou por conta disso, fazendo uma pré-seleção. São fotos que retratam não só as turnês, mas os passeios, os bastidores, as cidades por onde a gente passou. Temos muitas fotografias dos próprios bailarinos nos quartos dos hotéis, em museus e praias. É a visão de cada um, além, é claro, de mostrar as fotos oficiais. Quero dar esse clima do que é o Corpo, porque acho que é um lugar onde as pessoas são felizes. A publicação vai focar na sensação do que foram esses 40 anos”, resume.

Paulo adianta que há a intenção também de fazer uma exposição comemorativa das fotografias. “Para dizer a verdade, nem gosto muito dessa palavra comemoração. Até pelo fato de ser uma companhia contemporânea, a gente sempre está olhando para frente, para o futuro. É claro que é importante celebrar esses momentos. Afinal, são 40 anos, mas gostamos de pensar no próximo espetáculo, no que virá”, diz o diretor artístico.

'Triz', que tem trilha composta por Lenine, estreou em agosto de 2013 e inicia a segunda turnê pelo país, novamente pela capital mineira, onde fica em cartaz até domingo. E, diferentemente do ano passado, quando o balé foi apresentado com Parabelo, de 1997, 'Triz' divide o programa com 'Onqotô', de 2005, com trilha de Caetano Veloso e José Miguel Wisnik. “'Triz' amadureceu e cresceu ao longo desses 12 meses. Isso ocorre normalmente e o público sempre comenta como muda a percepção com relação ao espetáculo. Já 'Onqotô' é um balé que está muito vivo e ainda faz turnês internacionais. É um dos espetáculos com o qual, particularmente, tenho muito carinho”, ressalta Paulo Pederneiras.

LEANDRO COURI/EM/D.A PRESS
Bianca Victal sente emoção em dançar %u201Cna casa do Corpo%u201D (foto: LEANDRO COURI/EM/D.A PRESS)
Da plateia
para o palco

Para uma das integrantes do Grupo Corpo, a apresentação de Triz em BH vai ter um gostinho especial. Há um ano, a bailarina fluminense Bianca Victal, de 20 anos, estava na plateia do Palácio das Artes assistindo à estreia do balé. Era a primeira vez que via ao vivo um espetáculo da companhia mineira. Não imaginava que, passados 12 meses, ela estaria dançando a mesma coreografia e no mesmo palco. “Naquela época, estava morando em Belo Horizonte porque fazia parte da Cia de Dança do Sesc. Em maio, uma das bailarinas do Corpo saiu e fui convidada para fazer o teste. Foi tudo muito rápido e em um mês já estava ensaiando. Já dancei Onqotô e Parabelo em Joinville, mas Triz vai ser a primeira vez, justamente em BH, que é a casa do Corpo. Confesso que estou muito ansiosa”, afirma Bianca.

Nascida em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, ela começou a dançar jazz aos 3 anos. Aos 12, foi estudar na escola de dança do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, onde ficou até se mudar para a capital mineira, em janeiro de 2013. “Sinto muita falta da minha família, da minha cidade, mas essa experiência de fazer parte de um grupo como o Corpo é muito importante e única. Em setembro, meus pais vão ter a oportunidade de me ver dançando Triz lá no Municipal do Rio e vai ser bacana”, diz.

'Triz' e 'Onqotô'
De quinta a sábado, às 20h30, e domingo, às 19h, no Grande Teatro do Palácio das Artes, Av. Afonso Pena, 1.537, Centro. Ingressos: R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia).

'Triz'
A sensação de estar sob a mira da mitológica espada de Dâmocles, suspensa por um tênue fio de crina de cavalo, foi tão imperativa durante todo o período de gestação dessa obra que acabou não apenas se impondo como o grande mote para a sua criação, mas servindo também de inspiração para o seu nome, Triz, palavra de sonoridade onomatopaica que tem nos vocábulos gregos triks/trikós (pelo, cabelo) sua mais provável origem etimológica, simbolizada pela expressão por um triz (por um fio). A trilha de Lenine desenha uma topografia musical recortada por subversões rítmicas, a partir de um único motivo condutor e utilizando somente instrumentos de corda. Numa obra onde a ocupação do espaço reflete a intermitência e a dubiedade, Rodrigo Pederneiras constrói uma partitura de movimentos marcada pela presença recorrente de trios, e abre espaço para uma série de duos femininos, como lenitivo e respiradouro necessários à execução dos movimentos pelos bailarinos. Com cerca de 15 quilômetros de cabos de aço, Paulo Pederneiras ergue uma arquitetura cênica que alude à presença das cordas na trilha de Lenine.

'Onqotô'
Com trilha de Caetano Veloso e José Miguel Wisnik, Onqotô tem como ponto de partida uma bem-humorada discussão sobre a “paternidade” do universo. De um lado, a teoria do big-bang, a grande explosão primordial, e, de outro, uma máxima espirituosa formulada pelo dramaturgo Nelson Rodrigues sobre o clássico maior do futebol carioca, segundo a qual se poderia inferir que o cosmos teria sido “concebido” sob o signo indelével da brasilidade: “O Fla-Flu começou 40 minutos antes do nada”. Instrumentais ou com letra, os nove temas musicais estabelecem uma sucessão de diálogos rítmicos, melódicos e intertextuais. Na coreografia criada por Rodrigo Pederneiras, verticalidade e horizontalidade, caos e ordenação, brusquidez e brandura, volume e escassez se contrapõem e se superpõem, em consonância com a trilha musical. Urdida com tiras de borracha cor de grafite, a cenografia de Paulo Pederneiras funda um espaço cênico côncavo que sugere tanto um recorte do globo terrestre, um buraco negro, o nada ou a anterioridade de tudo. Com todos os refletores fixados na estrutura metálica que sustenta a fileira de tiras, a luz projetada por Paulo Pederneiras imprime na cena uma iluminação que remete à dos estádios de futebol.

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