BH recebe exposição de 100 gravuras e ilustrações do catalão Salvador Dalí

Inspirado em 'A divina comédia', conjunto evidencia o diálogo entre a literatura e as artes visuais

por Walter Sebastião 17/07/2014 06:00

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AML/divulgação
(foto: AML/divulgação)
“As pessoas podem não saber que Salvador Dalí está falando da alma humana e do inconsciente, que seu trabalho é embasado em manifestos, mas entendem do que trata a obra desse grande pintor. Dalí se comunica com o público. A empatia com sua iconografia é grande, há uma fúria daliniana sempre que se abre uma exposição do artista”, afirma Ania Rodriguez, curadora da mostra 'A divina comédia', que poderá ser visitada a partir de amanhã na Academia Mineira de Letras.

Entre 1950 e 1960, o catalão criou 100 gravuras e ilustrações para a famosa obra do poeta Dante Alighieri (1265-1321). A origem da série são aquarelas, uma para cada poema, encomendadas pelo governo italiano para celebrar os 700 anos de nascimento do autor de 'A divina comédia'. Como artistas italianos protestaram contra a convocação de um estrangeiro para celebrar Dante, a encomenda foi cancelada. Ania Rodriguez explica que Dalí decidiu levar o projeto até o fim. “Isso nos permite ver a realização dessas imagens como o encanto do pintor com a A divina comédia e com o desafio de produzir uma obra de tal dimensão”, observa.

Ania Rodriguez explica que Dalí não se subordina ao texto de Dante, nem faz ilustrações literais dos motivos postos pelo poeta. O conjunto de imagens se inspira nas descrições muito visuais dos versos, que fazem parte do imaginário ocidental, mas seguindo a estética do surrealismo. “É um diálogo de gênios a partir da literatura”, afirma. A mostra traz legendas com versos de Dante, evidenciando o diálogo entre os artistas.

Com bom humor, Ania avisa: Dalí é muito mais do que apenas um artista que usou seu talento para construir uma obra. “A relevância dele está em tudo que fez. Todas as irreverências e transgressões do ser humano, as revoltas que traduzia, fizeram dele uma personalidade única.” O surrealismo ainda tem muitos seguidores, lembra ela. “Não tanto no Brasil, mas em outros contextos, como o da arte latino-americana.” Entre as contribuições essenciais dos surrealistas, a curadora aponta o diálogo com a psicanálise.

Acredita-se que Dante Alighieri tenha começado a escrever 'A divina comédia' por volta de 1301 e concluído a obra em 1321, ano de sua morte. Trata de uma viagem, guiada pelo poeta Virgílio, pelos sete círculos dos três reinos além-túmulo, inferno, purgatório e paraíso. De acordo com Rodriguez, no inferno está o Dalí surrealista, às voltas com o mundo de medos e pecados. O purgatório remete a dúvidas, incertezas e perguntas ao inconsciente. “No paraíso, está o Dalí do Manifesto místico nuclear, realizando trabalhos de corte espiritual e religioso”, conclui.

Saiba mais

Mestre surrealista
Hábil pintor e desenhista, Salvador Dalí (1904-1989) flertou com o impressionismo, o cubismo e o dadaísmo até estabelecer contato direto com os surrealistas e os escritos de Freud, no fim dos anos 1920. Admirador da arte do Renascimento, ele percebe esse movimento não como revolução artística (ideia de Andre Breton, o principal teórico do surrealismo), mas como atualização da arte. Com imagens insólitas, teatrais e extravagantes, o catalão criou obras que representam uma das definições daquela estética. Em 1939, Dalí foi expulso do movimento surrealista, acusado de simpatia pelo fascismo.

DALÍ – A DIVINA COMÉDIA
Academia Mineira de Letras, Rua da Bahia, 1.466, Centro, (31) 3222-5764. Aberta ao público a partir de desta sexta-feira. De quarta-feira a domingo, das 9h às 19h. Entrada franca. Até 17 de agosto.

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