Jornalista publica a biografia do Mussum

Trapalhão, morto há 20 anos em decorrência de problemas cardíacos, também foi músico e integrou o grupo Os 'Originais do Samba'

por Ana Clara Brant 12/07/2014 06:00

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Arquivo Pessoal
A velha turma reunida: Mussum, Didi, Dedé e Zacarias. O quarteto fez história na televisão e também no cinema (foto: Arquivo Pessoal )


Antônio Carlos Bernardes Gomes nasceu no Morro da Cachoeirinha, no Rio de Janeiro, em 1941, mas Mussum nasceu nos bastidores do programa humorístico Bairro Feliz, em 1965. Foi Grande Otelo quem o batizou assim, em referência ao peixe escuro, escorregadio e sem escamas (muçum ou enguia-d’água-doce), que conseguia facilmente sair de situações estranhas. O então integrante do grupo Os Originais do Samba ainda servia na Aeronáutica e, portanto, não tinha barba e andava com a cabeça raspada. Daí o apelido do personagem que ficou imortalizado no seriado Os Trapalhões.

Mesmo após a morte de seu intérprete, que completa 20 anos no dia 29, Kid Mumu ou Mumu da Mangueira permanece vivo no imaginário do brasileiro e, principalmente, nas redes sociais. Não faltam virais imitando seu peculiar jeito de falar, com as palavras terminadas em “is”, sugestão do mestre Chico Anysio. “Barack Obamis”, “Avataris”, “Two and a halfis men”, “Keep calmis and walkis” estampam camisas e se transformaram em memes. Sem falar que um dos seus filhos, o empresário Sandro Gomes, lançou a cerveja artesanal Biritis, à venda nas melhores casas do ramo.

Homenagens
Poucas homenagens vão marcar as duas décadas sem o ator, músico e humorista, mas uma delas acaba de chegar às livrarias: Mussum forévis – Samba, mé e Trapalhões (Editora Leya, 432 páginas, R$ 49,90), do jornalista e escritor Juliano Barreto, a primeira biografia sobre essa figura tão emblemática. A ideia surgiu num ambiente mais que apropriado para esta publicação: uma mesa de bar. Segundo o autor, foi acima de tudo um trabalho de descobertas.

Juliano conta que teve uma certa dificuldade em entrar em contato com os familiares, mas a partir do momento em que este encontro se deu teve total apoio e liberdade dos cinco filhos – um deles apenas, Antônio Carlos de Santana Bernardes Gomes Júnior, o Mussunzinho, seguiu a carreira artística – e cinco ex-mulheres. “E olha que escrevi no meio desse furacão de biografias autorizadas e não autorizadas. Mas não tive nenhum problema com a família. Mesmo após a publicação, eles aprovaram. Até as ex-mulheres nunca falaram mal do Mussum e nem ninguém que entrevistei. Muito pelo contrário. Ele não tinha inimigo. E é interessante que, apesar de as pessoas se lembrarem dele praticamente todos os dias no YouTube, nas redes sociais e tudo mais, nunca havia sido escrito livro sobre ele”, diz Juliano.

Para o jornalista, essa febre do personagem criador de bordões como “cacildis” e “forévis” teve início nos anos 1990, quando a Globo passou a reprisar os melhores episódios de Os Trapalhões. Como Mussum não era muito bom para decorar textos, ele acabava participando dos quadros mais curtos. “Muita gente começou a gravar ainda no VHS esses programas e quando o YouTube começou justamente esses quadros é que se tornaram virais e passaram a fazer muito sucesso. Esse formato é ótimo para a internet. Sem falar que o jeito de falar dele é muito fácil de imitar e reproduzir. Juntou o carisma e o talento do Mussum, uma mensagem rápida e objetiva e o jeito fácil de imitá-lo. Tudo isso contribuiu”, acredita o biógrafo.

O personagem Já o professor André Carrico, doutor em artes cênicas pela Unicamp e autor da tese “Os Trapalhões no reino da academia: revista, rádio e circo na poética trapalhônica”, defende que a sobrevivência do humorista carioca não pode ser descontextualizada. Para Carrico, o que funcionou ao longo dos anos e funciona até hoje é o humor do quarteto. “Não vejo o Mussum com mais destaque que os demais. Acho que o que sobrevive é um tipo de graça que é a graça dos Trapalhões. Tanto é que quando um morreu já não tinha a mesma graça. A receita sempre foi a comunicação dos quatro, e cada um representava um papel. Pode ser que o fato de o Mussum ser o preferido dos adultos, com essa coisa da malandragem, da espontaneidade e da boemia, explique a sua permanência”, opina.

O jornalista Juliano Barreto revela que o que mais chamou a atenção em sua pesquisa foi a intensidade de Mussum e que, apesar de ele ter morrido com apenas 53 anos, parecia ter vivido 200. “Ele tem uma duplicidade em tudo na vida. Era músico e ao mesmo tempo ator; servia na Aeronáutica e tocava samba à noite; era pai e diretor da ala das baianas. Mas o interessante é que enquanto na vida pessoal ele era bem família, rígido, já que teve uma infância difícil e uma formação militar, entre os amigos era aquele cara que bebia, gostava de futebol, meio malandrão. Era o Mussum personagem mesmo”, analisa.

HOMENAGEM

Dia 29, nos 20 anos da morte do humorista, o canal a cabo Viva vai exibir um episódio especial da Escolinha do Professor Raimundo em que Mussum participa.

Saiba mais

Mussum


Filho de uma empregada doméstica e de pai desconhecido, Antônio Carlos Bernardes Gomes, o Mussum, nasceu no Rio de Janeiro, em 7 de abril de 1941. A carreira artística teve início no grupo musical Os Sete Modernos, que se transformaria mais tarde em Os Originais do Samba, acompanhando turnês de Elis Regina e Baden Powell. Mussum começou a trabalhar em humorísticos nos anos 1960, ganhando destaque em 1969 no programa de Chico Anysio - chegou a fazer parte do elenco da Escolinha do Professor Raimundo. Foi um dos integrantes do quarteto mais divertido e atrapalhado do Brasil, Os Trapalhões. Mussum morreu em 29 de julho de 1994, aos 53 anos, em consequência de complicações depois de se submeter a um transplante de coração, em São Paulo. Em 35 anos de carreira, deixou um legado de 28 filmes com Os Trapalhões, além de mais de 20 anos de participações televisivas e 15 discos.

Relembre cenas clássicas de Mussum:




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