Sindicalistas e representantes das artes defendem união e organização da classe

Do teatro ao circo, passando pela dança e a música, a busca é pelo registro de profissionais

por Ailton Magioli 23/06/2014 08:01

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Euler Junior/EM/D.A Press
Magdalena Rodrigues, presidente do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos e Diversões de Minas Gerais (Sated-MG), acredita que o mercado para o ator/atriz em BH esteja em construção (foto: Euler Junior/EM/D.A Press)

O sonho de ser modelo ou artista é dividido por milhares de jovens no mundo inteiro. Mas a realidade é que poucos conseguirão se profissionalizar nas áreas. Em Minas, os interessados devem se submeter ao exame de capacitação de modelo e manequim do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversão de Minas Gerais (Sated-MG). Presidente da entidade, Magdalena Rodrigues lembra que o artista e o técnico são trabalhadores como quaisquer outros e avisa: “Para garantir respeito ao desempenho, é preciso se organizar, minimamente, em sindicatos, associações ou ordens”.


Para obter o registro profissional nas áreas de teatro, dança, circo e modelo/manequim, o interessado pode optar por fazer cursos profissionalizantes (técnico ou superior) ou o exame de capacitação oferecido pelo sindicato. Em BH, vale lembrar, além do Sated-MG há o patronal Sindicato de Produtores de Artes Cênicas de Minas Gerais (Sinparc-MG), responsável pela realização anual da Campanha de Popularização do Teatro e da Dança.


Os registros mais procurados no Sinparc, segundo Magdalena, são os de ator/atriz e os de modelo/manequim, cuja psique específica, de acordo com a atriz e sindicalista, acaba gerando um tipo de relação meio perversa com o mercado. “Enquanto os que vão servir a passarela precisam ter mais de 1,70m de altura etc. e tal, os que vão se prestar à fotografia devem ter expressão, não altura”, compara a Magdalena Rodrigues.


Já o mercado para ator/atriz, acredita a presidente do Sated-MG, está em construção em Belo Horizonte. “Ainda pensamos em uma estratégia para levar o público ao teatro o ano inteiro. O belo-horizontino só pensa em eventos”, critica ela, comemorando a abertura recente do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), onde o grupo Luna Lunera fez temporada de 12 semanas (com direito a sessões extras) do espetáculo Prazer.


Convidado a integrar a comissão responsável pela seleção dos projetos postulantes aos recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura, o presidente do Sindicato dos Artistas Plásticos de Minas Gerais, Jorge Oliveira Santos, diz que a desunião da classe reflete diretamente na obtenção de recursos. “O pessoal do teatro, da dança, da literatura e da música é muito mais inteirado em relação a patrocínios. Quando participei da comissão, pude observar que até essas leis são pouco procuradas por nós”, constata o artista plástico e sindicalisa.


Segundo Jorge Oliveira Santos, mesmo mantendo contato permanente com as escolas de artes plásticas, ainda é grande o desinteresse dos jovens em se sindicalizarem. “No início de carreira eles ainda procuram, por curiosidade. Depois, desaparecem”, critica. Para atrair mais associados, são realizados eventos na sede da entidade, caso das atuais exposições dos artistas Severino Iabá e Eudsonzica, que podem ser visitadas, das 13h às 20h, de segunda a sexta-feira (Rua Padre Eustáquio 567, Carlos Prates). Entre os associados, há acadêmicos em artes plásticas e os chamados autodidatas, da capital e do interior. Entre as exigências para sindicalização, consta o famigerado “atestado de bons antecedentes”, resquício da ditadura que insiste em permanecer.

Demandas Reeleito recentemente para a presidência do Sindicato dos Músicos Profissionais de Minas Gerais, o advogado (e baixista aposentado) Luiz Fernando Peixoto anuncia a criação de comissões segmentadas para discutir as demandas da classe. “O movimento musical é muito diversificado”, justifica. “Antes, trabalhávamos em orquestras. Hoje, a produção musical está até dentro de casa. Não precisamos mais de estúdios”, acrescenta.


Dos cerca de 1,6 mil associados, Luiz Fernando Peixoto diz que 99% são trabalhadores avulsos, autônomos. “Empregados mesmo só os integrantes das orquestras Filarmônica e Sinfônica de Minas Gerais”, lembra ele, que defende o registro prévio do profissional na Ordem dos Músicos do Brasil (OMB), para o exercício da profissão. Autarquia pública federal criada pelo então presidente Juscelino Kubitscheck, o órgão se tornou objeto de polêmica na classe, que ficou dividida entre a exigência do registro na OMB.


“A Lei 3.857 não foi revogada”, diz o presidente do sindicato mineiro, referindo-se à legislação de criação da ordem dos músicos, da década de 1960. “Trata-se de lei federal, não é uma questão regional”, explica, admitindo que, além da disputa, os profissionais do setor são alvo constante de aviltamento, que puxa os salários para baixo. De acordo com resolução do conselho federal da OMB, foi fixado em três salários mínimos o piso para a jornada de trabalho de 150 horas/mês do músico, o que significa 5h de trabalho por dia.


Apesar de em 2011 o Supremo Tribunal Federal (STF) ter decidido que os músicos não precisam do registro em entidade de classe para exercer a profissão, a polêmica persiste no meio, que também teve projeto de concessão de seguro- desemprego aprovado pela comissão de assuntos sociais do Senado, dependendo ainda da aprovação da Câmara dos Deputados.

 

A força das associações

 

Crias da iniciativa da nova cena musical, a Sociedade Independente de Música (SIM) e a Cooperativa da Música de Minas (Comum) não passaram do papel de representação política e artística. A constatação é do cantor, compositor e instrumentista Flávio Henrique, que participou da fundação da SIM, mas acabou se afastando da entidade, que, segundo diz, tomava muito do seu tempo. “Nesse tipo de representação, é sempre bom ter renovação”, afirma o músico, que continua associado à SIM.


Na opinião de Flávio Henrique, mesmo depois da perda de entidades como a Associação dos Músicos de Minas Gerais (Amig), a SIM e a Comum continuam sendo importantes, já que a classe não consegue nada do poder público individualmente. “Além de nem sequer ser recebido pelas autoridades, promoções como o Programa Música Minas (www.musicaminas.com) só admitem conversar com associações”, acrescenta Flávio Henrique, lembrando que poderiam ir além da busca de oportunidades de diálogo, realizando promoções como feiras internacionais e gravações de coletâneas.


A Sociedade Independente de Música e a Cooperativa da Música de Minas não têm sede própria, mas podem ser localizadas nas redes sociais.

 

AS ENTIDADES DE CLASSE

 

Ordem dos Músicos do Brasil (OMB) –
Conselho Regional MG
Rua Catumbi, 242, Caiçara, (31) 3411-6200
35 mil associados

Sindicato dos Artistas e Técnicos
em Espetáculos de Diversão
de Minas Gerais
Rua da Bahia, 1.148 – Sala 1910,
Centro, (31) 3224-4743
10 mil associados


Sindicato dos Artistas Plásticos
Profissionais de Minas Gerais
Rua Padre Eustáquio, 567, Carlos Prates,
(31) 3278-4796
700 associados

Sindicato dos Músicos
Profissionais de Minas Gerais
Rua da Bahia, 573 – Conjunto 1.101 e 1.102,
Centro, (31) 3201-6611
1,6 associados

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