A peça foge do convencional por vários motivos. O elenco é formado por quatro adolescentes de 13 anos, abordando questões ligadas ao mundo adulto. Apesar de integrar um festival de teatro, com o público diante de um palco, desde o início há a chamada “quebra da quarta parede”. Ao se distanciar do realismo, o La Tristura deixa claro que se trata de uma experimentação, cujo resultado não importa tanto quanto o processo.
Matéria-prima não tem narrativa. Ou seja, Ginebra Ferreira, Gonzalo Herrero, Siro Ouro e Candela Recio não contam uma história. É difícil falar deles como atores ou intérpretes. São corpos em crescimento, que estão ali com um papel definido, não somente enquanto personagens. Eles jogam bola, tomam banho de tinta, escorregam no palco. Brincam como crianças. Quando pegam o microfone, desabafam. Aí começa o desafio do espectador.
Os meninos falam da morte, da culpa, da maldade, da perda da inocência, do amor, dos sonhos. O contraste entre forma e conteúdo parece questionar: será o desabafo a parte adulta da coisa? Como saberemos se os que estão mais crescidos não conseguem mais pensar como crianças? Ginebra indaga: “Como éramos no começo? Quem se lembra?”. La Tristura mostra que os corpos têm significados. O exercício proposto para a plateia é o de abrir mão da ideia de infância e maturidade.
Itsaso Arana, Pablo Fidalgo, Violeta Gil e Celso Giménez, os integrantes do La Tristura, assinam a direção. A escolha é pelo palco limpo, com apenas uma cama de casal na lateral direita, o que também carrega significado. Tanto a iluminação de Eduardo Vizuete como a trilha original de Merran Laginestra são orgânicas à proposta. Principalmente a música, que ajuda a suportar o silêncio, tão difícil em tempos acelerados e tão necessário em momentos em que é preciso elaborar. Ao final, vale o recado projetado no fundo do palco: “Descanse sua mente e volte aqui”.