'Sarabanda', peça inspirada no filme de Bergman traz universo do cinema com recursos da linguagem teatral

Espetáculo entra em cartaz no Palácio das Artes na semana que vem

por Carolina Braga 15/04/2014 06:00

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Paulo Lacerda/Divulgação
Cena do ensaio de 'Sarabanda', peça em homenagem a Ingmar Bergman dirigida por Grace Passô e Ricardo Alves Jr. (foto: Paulo Lacerda/Divulgação)
O convite é para olhar o teatro de uma outra perspectiva. Em 'Sarabanda', adaptação para o teatro do filme 'Saraband', de Ingmar Bergman, que estreia dia 22, os espectadores ficarão no palco do Grande Teatro do Palácio das Artes, de frente para a plateia. É a primeira quebra – e homenagem – que os diretores Grace Passô e Ricardo Alves Jr. fazem na montagem integrante da mostra 'Ingmar Bergman: instante e eternidade', dedicada ao diretor sueco, em cartaz no Cine Humberto Mauro.


Sendo parte da programação da mostra, o espetáculo Sarabanda foi feito especialmente para a ocasião. Foram apenas dois meses de ensaios para duas apresentações. Como o público ficará no palco, a arquibancada não comporta mais de 200 pessoas. Há 10 dias da estreia, faltam apenas detalhes. Os diretores também prometem surpresas na intercessão entre cinema, teatro e música.

Tendo sido uma figura tão importante para as artes cênicas como foi para o cinema, a curadoria entendeu que seria importante propor um exercício dessa envergadura a partir da obra do cineasta. Pelo alinhamento com a sétima arte, Ricardo Alves Jr., diretor do curta 'Tremor' (2012), foi o primeiro convidado. Ele, por sua vez, chamou Grace Passô pela intimidade que ela tem com a cena teatral. O resultado de 'Sarabanda' deixa nítidas as influências da dupla.

Ricardo, desde que viu 'Saraband' (2003) pela primeira vez, notou o potencial da trama para o palco. “Há essa relação de ter sempre dois atores em jogo e a própria quebra de quarta parede que a personagem da Mariana faz”, diz. Com Liv Ullmann e Erland Josephson como Mariana e Johan, o filme narra o reencontro do casal de 'Cenas de um casamento' três décadas depois da separação.

Na versão teatral, Mariana é papel de Rita Clemente, Johan virou João, intepretado por Gustavo Werneck. Os atores Rômulo Braga e Marina Viana representam, respectivamente, Henrique e Karen, filho e neta de João. O elenco, com representantes de gerações diferentes e de diversos grupos, é outra aposta. “É a antítese do que ocorre em Belo Horizonte, que tem grupos muito fechados. É um exercício com outros olhares, o que é um privilégio. Não tive nem dúvidas quando me convidaram” conta Rita Clemente.

Se o olhar da protagonista para a câmera e a conversa reta com o espectador foi considerado uma das inovações de linguagem de Bergman, Grace e Ricardo procuraram exercitar essa realidade de outra maneira. Embora a encenação não reproduza o realismo do cinema, também não se descola dessa linguagem. A ideia é que o elenco explore outros espaços da sala de espetáculos, até mesmo para quebrar convenções. O tom de voz também não será projetado, como é comum nos palcos. Há telões em cena e, o tempo inteiro, os atores são convidados a entrar e sair de quadro. 'Sarabanda' é íntimo como o cinema e ao mesmo tempo distanciado como o teatro.

“O tempo inteiro eles estão trabalhando com ideia de plano, de campo, de quadro, mesmo sendo uma cena estritamente teatral. Trabalha-se com profundidade, com quadro aberto, mais íntimo, mais fechado. Acho que é uma sacada”, comenta o ator Rômulo Braga. Para ele, a experiência tem sido “deliciosamente” difícil. “Grace e Ricardo são doces e gentis, mas extremamente exigentes”, afirma o ator.

SARABANDA
Dias 22 e 23, às 19h, no Grande Teatro do Palácio das Artes. Avenida Afonso Pena 1.537, (31) 3236-7400. Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia).



SAIBA MAIS
SARABAND

Lançado em 2003, 'Saraband' foi o último trabalho de Ingmar Bergman. É um dos filmes em que o diretor promove mais claramente o diálogo entre cinema e teatro, lançando mão de artifícios inerentes ao discurso cinematográfico e de recursos próprios à mise-en-scène teatral. A adaptação mineira foi feita por Grace Passô e Ricardo Alves Jr. a partir do roteiro original. “Fizemos adaptações simples para que o texto seja nosso. Para que ele possa ser imaginado em nosso contexto”, explica Grace. É mais um enredo de Bergman que trata de relações familiares e morte.

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