Sendo parte da programação da mostra, o espetáculo Sarabanda foi feito especialmente para a ocasião. Foram apenas dois meses de ensaios para duas apresentações. Como o público ficará no palco, a arquibancada não comporta mais de 200 pessoas. Há 10 dias da estreia, faltam apenas detalhes. Os diretores também prometem surpresas na intercessão entre cinema, teatro e música.
Ricardo, desde que viu 'Saraband' (2003) pela primeira vez, notou o potencial da trama para o palco. “Há essa relação de ter sempre dois atores em jogo e a própria quebra de quarta parede que a personagem da Mariana faz”, diz. Com Liv Ullmann e Erland Josephson como Mariana e Johan, o filme narra o reencontro do casal de 'Cenas de um casamento' três décadas depois da separação.
Na versão teatral, Mariana é papel de Rita Clemente, Johan virou João, intepretado por Gustavo Werneck. Os atores Rômulo Braga e Marina Viana representam, respectivamente, Henrique e Karen, filho e neta de João. O elenco, com representantes de gerações diferentes e de diversos grupos, é outra aposta. “É a antítese do que ocorre em Belo Horizonte, que tem grupos muito fechados. É um exercício com outros olhares, o que é um privilégio. Não tive nem dúvidas quando me convidaram” conta Rita Clemente.
Se o olhar da protagonista para a câmera e a conversa reta com o espectador foi considerado uma das inovações de linguagem de Bergman, Grace e Ricardo procuraram exercitar essa realidade de outra maneira. Embora a encenação não reproduza o realismo do cinema, também não se descola dessa linguagem. A ideia é que o elenco explore outros espaços da sala de espetáculos, até mesmo para quebrar convenções. O tom de voz também não será projetado, como é comum nos palcos. Há telões em cena e, o tempo inteiro, os atores são convidados a entrar e sair de quadro. 'Sarabanda' é íntimo como o cinema e ao mesmo tempo distanciado como o teatro.
“O tempo inteiro eles estão trabalhando com ideia de plano, de campo, de quadro, mesmo sendo uma cena estritamente teatral. Trabalha-se com profundidade, com quadro aberto, mais íntimo, mais fechado. Acho que é uma sacada”, comenta o ator Rômulo Braga. Para ele, a experiência tem sido “deliciosamente” difícil. “Grace e Ricardo são doces e gentis, mas extremamente exigentes”, afirma o ator.
SARABANDA
Dias 22 e 23, às 19h, no Grande Teatro do Palácio das Artes. Avenida Afonso Pena 1.537, (31) 3236-7400. Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia).
SAIBA MAIS
SARABAND
Lançado em 2003, 'Saraband' foi o último trabalho de Ingmar Bergman. É um dos filmes em que o diretor promove mais claramente o diálogo entre cinema e teatro, lançando mão de artifícios inerentes ao discurso cinematográfico e de recursos próprios à mise-en-scène teatral. A adaptação mineira foi feita por Grace Passô e Ricardo Alves Jr. a partir do roteiro original. “Fizemos adaptações simples para que o texto seja nosso. Para que ele possa ser imaginado em nosso contexto”, explica Grace. É mais um enredo de Bergman que trata de relações familiares e morte.