Cláudia Raia traz a BH espetáculo inspirado em musical da Broadway

Atriz aposta na força do musical brasileiro e incentiva a carreira de jovens artistas. Namorado de Raia, bailarino Jarbas Homem de Mello também é atração do espetáculo.

por Carolina Braga 09/04/2014 08:00

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Paschoal Rodriguez/Divulgação
Casal em cena: espetáculo com canções de Ira e George Gershwin exige atores que saibam cantar, dançar e sapatear (foto: Paschoal Rodriguez/Divulgação)
 

 

Fim de espetáculo. A plateia ovaciona, mas a bailarina e atriz brasileira não consegue reagir diante do que acabara de ver. “Fiquei parada. Todo mundo levantou, foi embora e eu continuei sentada. Olhei para um lado e tinha uma criança, de uns 7 ou 8 anos, dançando. Do outro, uma senhora cantarolando”. A cena está marcada na lembrança de Cláudia Raia desde que viu 'Crazy for you' pela primeira vez. Era a década de 1990, na Broadway, em Nova York.

Naquela época, Cláudia era reconhecida na rua pela personagem Maria Escandalosa, de 'Deus nos acuda' (1992), pela Tancinha, de 'Sassaricando' (1987), ou pelas confusões que Adriana aprontou em 'Rainha da sucata' (1990). O sucesso na TV, no entanto, não desviava seu foco. A atriz queria produzir musicais no Brasil. 'Crazy for you' impressionou pela capacidade de falar com públicos tão diferentes.

“Quero sempre fazer os projetos pelos quais me apaixono. Nem que isso fique guardado 20 anos na memória”. Com uma equipe de 100 pessoas, “praticamente um Cirque du Soleil”, como gosta de brincar, Raia e sua trupe chegam a Belo Horizonte com a montagem brasileira do clássico norte-americano para apresentações no Sesc Palladium, de amanhã a domingo.

No esquema de franquia, ou seja, com as mesmas músicas criadas por George e Ira Gershwin, com versões de Miguel Falabella, coreografias de Susan Stroman e direção de cena de José Possi Neto, a versão de 'Crazy for you' estreou em São Paulo. Cláudia interpreta a personagem principal ao lado do bailarino, cantor, ator – e namorado – Jarbas Homem de Mello. O protagonismo, porém, não se restringe ao palco. “Estou metida em tudo mesmo. Minha filha diz que sou igual ao Michael Jackson.”

Há 30 anos Cláudia Raia produz musicais no Brasil. Estreou em 1984 no elenco de 'Chorus line'. Na década de 1990, começou a produzir com a série Não fuja da raia e hoje já são 11 montagens do gênero no currículo, entre elas as recentes 'Pernas para o ar' (2009), com direção de Cacá Carvalho, e 'Cabaret' (2011), também dirigida por Possi. Para além da vocação artística, desde o início a atriz demonstrou interesse especial em criar uma cena nacional. Isso significa procurar mão de obra e formá-la.

Quando esteve em Belo Horizonte com o espetáculo 'Pernas para o ar', deu um workshop para estudantes no Grande Teatro do Palácio das Artes. Ao fim do encontro, pediu que quem soubesse dançar e cantar deixasse o telefone com a produção. Descobrir talentos é também negócio dela. Foi assim que “achou” não apenas Jarbas Homem de Mello, para fazer o Bobby, como também cuidou dos detalhes da formação da orquestra e ainda acompanha de perto o trabalho da equipe técnica.

Coruja e exemplo

“O teatro musical é uma modalidade muito diferente. Tem uma pessoa-chave, que é o stage manager, uma espécie de comandante. Ele fica diante de cinco monitores vendo todos os ângulos do palco. É ele quem chama o show. Não existia essa pessoa no Brasil, mas nós temos”, conta. Há cerca de seis anos, e depois de fazer de tudo um pouco – cuidar da luz e do cenário –, Lucas Farias responde pelo comando. “Minha função agora é pegar jovens e colocá-los ao lado dele para ir apresentando. Chamar um maquinista e deixá-lo ao lado dele, para que vá aprendendo e assimilando a nova função”, completa a atriz e produtora.

Há uma corujice solta. “Tenho um menino de 25 anos que toca banjo que é uma coisa espetacular”. Cláudia se refere a Micael Chaves, morador de São João da Boa Vista, a 200 quilômetros de São Paulo. Durante a temporada, todo fim de semana ele ia para a capital se apresentar. Já estava familiarizado com o banjo bluegrass quando viu um surpreendente chamado para teste nas redes sociais. “Nunca pensei que ia conhecer a Cláudia Raia. Quem mora no interior não imagina que vai chegar perto e ser reconhecido por ela. Fico muito grato por tudo que está acontecendo”, diz.

O bailarino Matheus Ribeiro começou a trabalhar com Cláudia Raia aos 17 anos, no elenco de 'Cabaret', e logo convocado para 'Crazy for you'. Hellen de Castro também observa progresso na carreira. “Fez coro no Cabaret, foi substituta do Pernas… e hoje tem o segundo papel feminino da trama”, conta Cláudia.

Dá para entender por que é chamada de “mamãe dos palcos”. “Ela sabe do problema pessoal de cada um e, no que pode ajudar, ajuda. Bate papo com todo mundo. Não é a estrela que fica no camarim sem saber do que ocorre à volta. É a pessoa que se responsabiliza com o que acontece”, comenta o diretor José Possi Neto. “Digo para os jovens: ‘Agora vai fazer isso, aquilo, estudar canto, se não tiver dinheiro eu ajudo’. Vou observando o crescimento”, revela a atriz.

Um cenário em evolução

“Quando comecei a fazer musicais no Brasil usava microfone na mão. Hoje me apresento com quatro”, compara a atriz. 'Crazy for you' é um espetáculo de sapateado. Por isso os protagonistas carregam um microfone em cada pé além de dois dedicados ao canto. Não apenas na questão técnica, é inegável o quanto o gênero avançou no Brasil. Cláudia Raia ainda chama a atenção para a necessidade de aperfeiçoamento dramatúrgico. “Autores e compositores para musical são de outra raça”, brinca a atriz.

Ainda que não seja seu estilo, ela vê com bons olhos a profusão de biografias nos palcos. Elis, Cazuza e Jim Morrison são alguns dos retratados pelo musical nacional nos últimos meses. “Está repetitivo? Até que está, mas é a maneira que ainda sabemos fazer. Estamos trabalhando com nossa música, nossos ídolos. Além disso, tem espaço para tudo”.

É importante perceber que desde 'Rei Leão', montado aqui tal e qual aparece na Broadway, textos americanos passaram a ganhar versões nacionais, como a de 'Crazy for you', feito por profissionais brasileiros. “Vamos celebrar aquilo que já conquistamos”, propõe Claudia Raia.

'Crazy for you' chega a Belo Horizonte com a fama de inovador. Digamos que a espera de 20 anos foi prudente. Na época em que Cláudia ficou extasiada na poltrona em Nova York não havia elenco e nem técnica no Brasil capazes de acompanhar o padrão Broadway. “Não conseguiria montar esse musical naquela época porque não encontrava o protagonista. É uma junção de características que não é fácil de achar”, confessa. Bom ator, comediante, que cantasse e sapateasse  eram alguns dos pré-requisitos básicos.

Cláudia Raia garante que a produção não fica devendo nada para a americana. “É um entretenimento, uma comédia rasgada, uma história de amor, com 16 músicas que são o melhor de Gershwin”, diz. Para a atriz, a joia rara de 'Crazy for you' é a coreografia, que segue a original americana. “Nem me atrevo a tentar fazer uma parecida. Não sou boba, fui comprar logo o que a gente ainda não tem”, destaca. Por mais que a cena de musicais no Brasil ande aquecida, sapateado ao som de Gershwin ainda é raridade.

Velho Oeste

Com duas horas e 40 minutos de duração, 'Crazy for you' tem no elenco 26 atores, bailarinos e sapateadores. A orquestra conduzida pela maestrina Beatriz de Luca tem 14 músicos. A montagem é grandiosa: dois carros fazem parte do cenário de Duda Arruk, que reproduz um teatro no meio-oeste americano. 'Crazy for you' é inspirado no clássico musical Girl crazy, de 1930. Foi adaptado três vezes para o cinema. A versão mais famosa nas telas é a de 1943, protagonizada por Judy Garland e Mickey Rooney (ator que morreu no domingo, aos 93 anos).

Crazy for you
Musical com Cláudia Raia e Jarbas Homem de Mello. De amanhã a domingo. Quinta, sexta e sábado, às 21h; domingo, às 17h. Sesc Palladium, Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro, (31) 3270-8100. Ingressos: plateia 1, R$ 220 e R$ 110 (meia); plateia 2, R$ 190 e R$ 95 (meia); plateia 3, R$ 120 e R$ 60 (meia); plateia 4, R$ 50 e R$ 25 (meia).

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