Autor apresenta em BH livros com diferentes visões sobre a Bahia

Carnaval na cidade de Maragojipe e traços da vida de Lampião no estado são retratados pelo fotógrafo Alvaro Villela

por Walter Sebastião 09/04/2014 08:00

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Fotos: Alvaro Villela
O povo de Maragojipe cria máscaras que alegram o carnaval da cidade (foto: Fotos: Alvaro Villela )
 


“Fotógrafo com máquina no rosto também é mascarado”, brinca o baiano Alvaro Villela, de 53 anos. Ele faz a observação ao comentar o livro Careta, quem é você? (Fotografia e Editora), que será lançado hoje, no Multiespaço Oi Futuro. O volume traz imagens de foliões da cidade de Maragojipe, no Recôncavo Baiano, que usam máscaras confeccionadas por eles mesmos. Mascarada, a população da pequena cidade histórica fez até protesto quanto o prefeito ameaçou trocar a folia tradicional pela micareta pré-fabricada. Villela traz a BH outro livro: A natureza do homem no Raso da Catarina, premiado ensaio sobre o local onde Lampião se escondeu.

O autor explica que Careta, quem é você? é obra pontual, encontro com uma comemoração diferente em meio a suas andanças pelo interior do Bahia. As imagens coloridas foram feitas durante cinco edições da festa.

Alvaro ficou intrigado com o uso de máscaras e sobre o que escondiam, o que revelam e quem são as pessoas por trás delas. “O mais comum é imaginar que as pessoas se fantasiam de algo que querem ser. Mas, às vezes, elas se vestem do oposto do que realmente são. Aí estão os dois lados do fantasiar”, observa. Para ele, suas imagens trazem “a expressão da criatura” – e não da pessoa.

O colorido de Careta… contrasta com o preto e branco de A natureza do homem no Raso da Catarina. Esse livro é produto da imersão de Villela pelo interior baiano, depois de o fotógrafo passar anos em São Paulo se dedicando a trabalhos em publicidade, o que o levou a uma crise pessoal. “Queria me encontrar”, justifica Alvaro.

“O local é um caldeirão cultural”, conta, referindo-se ao Raso da Catarina. Essa região é próxima de Canudos, a antiga fortaleza de Antônio Conselheiro. Tem história de luta pela terra e forte miscigenação de negros e índios. Ali se escondia Lampião com o apoio dos índios pancarés – alguns deles se tornaram cangaceiros, como Gato. “Foi vivência forte. Não imaginava que aquele mundo existia. As histórias de Lampião estão vivas, as pessoas contam casos como se eles tivessem ocorrido ontem”, explica.


Jogo

Alvaro Villela aprecia o rigor na composição (“jogo de cor, movimento, luz e atenção a forma”) e a proximidade com os modelos. “Gosto de imagens que trazem algo de bate-papo no boteco, quando você pede para registrar o encontro e a foto vem antes da pose. Isso acaba sendo revelador do que a pessoa é”, explica. “A cor, inevitavelmente, confere à foto mais plasticidade e forma, enquanto o preto e branco traz mais intimidade”, conclui.

Adeus à biologia

O soteropolitano Alvaro Villela era militante do PC do B. Quando o jovem estudante viu o filme Sob fogo cerrado, sobre um fotógrafo que cobriu guerra da Nicarágua, saiu do cinema decidido a abraçar aquela profissão. Ele trocou o curso de biologia pelo de jornalismo, pois era o mais próximo da fotografia. Admirador de Mário Cravo Neto, Robert Capa e Henri Cartier-Bresson, em seus trabalhos ele valoriza o psicológico, a intimidade e o momento.

FOTO EM PAUTA

Bate-papo com Alvaro Villela. Multiespaço Oi Futuro, Avenida Afonso Pena, 4.001, térreo, Mangabeiras. Hoje, às 19h30. Entrada franca.

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