Bem próxima ao caixão, uma das coroas de flores trazia mensagem delicada e íntima: “Amor eterno da moça da 2ª página”. A homenagem era da jornalista Anna Marina Siqueira, companheira de Cyro por mais de 50 anos. Era dessa forma que o marido, que ocupou o cargo de editor-geral do Estado de Minas e integrava o conselho editorial do jornal, se referia a ela em seus textos, já que a mulher assina coluna na segunda página do caderno EM Cultura.
O governador Antonio Anastasia foi um dos primeiros a comparecer ao velório de Cyro, cuja dedicação à escrita começou em 1949. O prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, e o vice-prefeito, Délio Malheiros, manifestaram pesar pela morte do jornalista. Intelectual reconhecido, Cyro esteve à frente da redação do 'Diário da Tarde' e do EM. “Ele foi um dos companheiros que ajudou a construir a credibilidade do jornal. E, como era meio poeta, em seus textos sobre cinema fazia a vida dos leitores ficar mais doce”, comentou o diretor-presidente dos Diários Associados, Álvaro Teixeira da Costa.
Na área da cultura, Cyro se tornou referência nacional. O jornalista foi um dos fundadores da 'Revista de Cinema', em 1954, e participou ativamente da criação e dos trabalhos realizados pelo Centro de Estudos Cinematográficos (CEC) de Minas Gerais. O interesse pela cultura extrapolava o campo do cinema e o levou a exercer o cargo de presidente do BDMG Cultural, entidade na qual desenvolveu projetos na área de música, literatura e artes visuais.
Visionário “O grande idealizador da 'Revista de Cinema' foi o Cyro, que identificou o papel crescente desempenhado pelo cinema na dimensão comunicacional. O texto dele trazia uma visão ampla dos clássicos do cinema, com a análise das situações”, lembrou o companheiro de revista e redação, o jornalista Guy de Almeida. “No jornalismo, ele teve um trabalho importante na modernização dos padrões de linguagem jornalística”, completou Guy.
Ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas de Minas, Dídimo Paiva também destacou a contribuição de Cyro à imprensa. “Foi um dos 10 maiores jornalistas do país. Aprendi com ele a distinguir notícia de propaganda. Foi Cyro também quem me apresentou a Carlos Drummond de Andrade”, disse, destacando sua educação e discrição típicas.
Entre os amigos, ficam as memórias de uma homem inteligente e sem medo de viver. “Aprendi com ele que não devemos fazer concessões para nossos sonhos e projetos de vida. Ele lutou pelo que acreditava e nunca teve medo de amar”, afirmou a empresária e presidente do Instituto Cultural Flávio Gutierrez, Ângela Gutierrez. Para o empresário Wilson Borja, um “amigo fraternal de Cyro”, ficou a certeza de ter convivido com um irmão de caráter. “Cyro foi uma das mentes mais brilhantes que conheci”, disse.
ACERVO PRECIOSO
Será lançada em maio a coletânea Antologia Revista de Cinema – 1954 a 1957 e 1961 a 1964, organizada pelos críticos de cinema Marcelo Miranda e Rafael Ciccarini. A publicação reúne textos clássicos da revista, que teve como um de seus fundadores o jornalista Cyro Siqueira. “Ele não se satisfez com o espaço dado na época à crítica de cinema. A revista representou uma revolução na área, que não tinha uma publicação dessa envergadura”, afirma Marcelo. O obra terá dois volumes. “Cyro foi um agregador de ideias, um intelectual completo”, resume o crítico.