Roger Mello vence 'Nobel' da literatura infantojuvenil

Para ilustrador, país conquista o seu espaço no mercado editorial. Prêmio foi anunciado na Feira de Bolonha

por Ana Clara Brant 30/03/2014 06:00

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Companhia das Letras/reprodução
Brasiliense, de 49 anos, ganhou o Prêmio Hans Christian Andersen, criado em 1956, a mais antiga e prestigiada honraria da literatura infantojuvenil mundial (foto: Companhia das Letras/reprodução)
Desde que se entende por gente Roger Mello gostou de desenhar. Mas nunca passou pela cabeça desse brasiliense, de 49 anos, vencer o concurso considerado o Nobel de ilustração. Pois é dele o Prêmio Hans Christian Andersen, criado em 1956, a mais antiga e prestigiada honraria da literatura infantojuvenil mundial.

Na semana passada, a conquista de Roger foi anunciada durante a Feira do Livro de Bolonha, na Itália. Trata-se do maior e mais importante evento de negócios do setor editorial infantojuvenil. “Na hora que anunciaram meu nome, fiquei superemocionado, claro. Alguns concorrentes estavam presentes. O mais bacana é que havia muitos brasileiros também, pois o nosso país foi homenageado este ano. Mais que isso: estavam lá muitos escritores, os nossos parceiros. A comemoração foi arrebatadora. Não poderia estar mais feliz”, afirma ele.


Roger não é apenas o primeiro ilustrador brasileiro a ter esse importante reconhecimento, ele é também o único latino-americano a vencer o Prêmio Hans Christian Andersen. Em outras três ocasiões, o brasiliense chegou a ser indicado para o Nobel da ilustração.


Promoção do Conselho Internacional sobre Literatura para os Jovens (IBBY), o prêmio foi dado também às brasileiras Lygia Bojunga e Ana Maria Machado, na categoria escritor. Em setembro, Mello vai ao México receber o troféu.
Conhecido como autor de belíssimos livros-imagem – títulos sem textos, cujas histórias são conduzidas apenas por ilustrações –, Mello afirma que um reconhecimento como esse, além de abrir portas profissionais, revela novas possibilidades.
“Pude mostrar a minha ideia de Brasil, o meu afetivo, o particular, mas de maneira universal. Faço ilustrações que revelam as nossas características, mas de forma neutra, digamos assim. É possível ter um traço brasileiro, mas fora de estereótipos. As novas gerações já estão acompanhando esse movimento”, destaca.

Trajetória  Com 25 anos de profissão, Roger Mello tem história típica dos brasilienses. Sua família é formada por gente de vários cantos do Brasil: o pai nasceu em Pirapetinga, na Zona da Mata de Minas Gerais, e a mãe veio de Sergipe.
O casal, que se conheceu no Rio de Janeiro, decidiu se mudar para a capital que então nascia no coração do país. Pioneiros de Brasília, criaram três filhos e todos gostavam de desenhar. Dois transformaram o prazer em profissão: Roger se tornou ilustrador e a irmã se formou em arquitetura.


Ilustrar livros para crianças e adolescentes foi um caminho natural para o artista. As referências de Roger vêm de alguns dos principais nomes do setor, como Ziraldo (com quem estagiou), Angela Lago e Mauricio de Sousa.
“Na história do livro, sempre houve ilustração, mas boa parte dela é para o público infantojuvenil. Não penso na criança como o início ou o fim da história. Ela é o motor”, afirma.

Mudança Radicado no Rio de Janeiro, Roger tem percebido interesse e respeito crescentes no exterior pelo trabalho dos ilustradores e designers brasileiros. Ele conta que há 20 anos, na própria Feira de Bolonha, havia pouca curiosidade a respeito de sua obra. Na época, participava do evento como convidado.


“Agora, a diferença é visível, impressionante. Antes, o Brasil só importava. Poucos ilustradores conseguiam fazer livros fora do país. Com o aumento da nossa visibilidade, os estrangeiros querem produzir conosco. É interessante essa inversão”, observa.
Roger Mello ganhou também o prêmio Espace-Enfants (2002), concedido na Suíça, e o brasileiro Jabuti, no qual foi contemplado em duas categorias por Meninos do mangue: literatura infantojuvenil e ilustração. 

 

 

 

 

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