Espetáculo revive a dimensão humana de Frida Kahlo em BH e Contagem

'Solamente Frida' leva pintora mexicana ao palco para reflexões sobre dimensão humana da artista

por Walter Sebastião 28/03/2014 07:38

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Talita Oliveira/Divulgação
Clarisse Baptista dá vida a Frida Kahlo sobre o palco: ''mulher que tem amor pela vida'' (foto: Talita Oliveira/Divulgação)
Frida Kahlo (1907-1954) por Frida Kahlo. Ou seja: a mais famosa pintora mexicana apresentando sua própria opinião sobre arte, vida, política e amores. A proposta do espetáculo dos grupos Cia. Garotas Marotas, do Acre, e Los Andes, da Bolívia, é buscar a dimensão humana da artista – além do mito. A peça 'Solamente Frida' vai ser apresentada na ZAP 18, em BH, nesta sexta-feira, 28.

“Frida é extraordinária, mulher que tem amor pela vida, pelas pessoas e pelas coisas. Isso faz a diferença. Parece que ela nunca teve um dia de tédio”, observa a atriz Clarisse Baptista, que interpreta a pintora. Dar vida a Frida não foi simples. “Tinha medo de exagerar. Ela é tão exuberante, oferece tanto que a gente não sabe o que escolher”, justifica. A pintora chamava a atenção pelos trajes e pela postura, mas foi admirada também pela inteligência, pelo conhecimento e por viver de acordo com o que acreditava.

“Ela não é um invólucro, é realmente uma personalidade”, observa Clarisse. Por sua vez, Gonzalo Callejas – que dirigiu a peça em parceria com Alice Guimarães – pediu à atriz mais verdade e menos teatro. No palco estão tanto momentos ternos, de solidão, silenciosos, quanto gargalhadas, a mulher muito livre que fala palavrões, que “surta” e esculhamba tudo.

Figurinos e cenários aludem ao cotidiano de Frida, povoado de objetos fortes. Lá estão os coletes ortopédicos que a pintora tinha de usar devido a problemas na coluna, além de sua indumentária característica – vestidos bordados, colares, anéis, brincos, tranças e flores na cabeça –, além da maquiagem, das unhas pintadas.

 

Isso tudo traduzia um outro conceito de elegância: Frida tinha no excesso um emblema. Vaidade e artifício disfarçavam defeitos físicos. O corpo da pintora era marcado por cicatrizes devido a várias cirurgias por que passou. O andar manco se devia ao fato de ela ter uma perna mais curta do que a outra.

“Frida Kahlo impressiona pela arte, mas também por sua presença de vida muito livre”, observa a acreana Clarisse. “Ela viu beleza em tudo, até na própria dor”, acrescenta, citando os autorretratos que comovem pela sinceridade e poesia.

Talita Oliveira/Divulgação
Espetáculo revisita dores físicas e emocionais que consagraram os traços da artista mexicana (foto: Talita Oliveira/Divulgação)
A peça marca a estreia da Cia. Garotas Marotas, formada por Clarisse Baptista e Marineide Maia. É projeto da dupla fazer bom teatro com personagens, autores, textos, diretores e grupos que as duas admiram. A parceria com o Los Andes se deve ao modo de trabalhar: todos os elementos da peça surgem à medida que a encenação vai avançando. “A montagem fica orgânica”, conclui Clarisse Baptista.

SOLAMENTE FRIDA
Com Cia. Garotas Marotas e Teatro de Los Andes
• BH – Sexta-feira, 28 de março, às 20h30. ZAP 18, Rua João Donada, 18, Serrano, (31) 3475-6131. R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia).
• Contagem – Sábado, 29, às 20h30. Espaço Trama, Rua Antônio Joaquim Santana, 97, Fonte Grande,
(31) 2515-1580. R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia).
• Mariana – Dia 31, às 20h. Teatro Sesi Mariana, Rua Frei Durão, 22, Centro Histórico, (31) 3557- 1041. R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)

A cor do México
Frida Kahlo nasceu em Coyoacán, nos arredores da Cidade do México. Filha de pai luterano e mãe católica, com 6 anos ela contraiu poliomielite, doença que lhe deixou uma lesão no pé direito. Essa foi só a primeira de uma série de doenças, lesões e cirurgias que enfrentou. Passageira de um bonde que se chocou com um trem, Frida ficou entre a vida e a morte. Submetida a várias operações, teve praticamente todo o corpo reconstruído. Durante a convalescença, ela começou a pintar, usando a caixa de tintas do pai e um cavalete adaptado à cama.

Em 1930, Frida se casou com o pintor Diogo Rivera. A convivência com o marido, com quem manteve relacionamento tumultuado, levou-a à pintura que afirmava a identidade mexicana. Esse aspecto se somou à contundente recriação de dramas pessoais. “Pensavam que eu era surrealista, mas nunca pintei sonhos. Pintava a minha própria realidade”, declarou. A partir dos anos 1960, leituras feministas da história da arte colocam a obra de Frida Kahlo em destaque, considerando que ela pontua temas essenciais da arte contemporânea, como corpo, gênero e autorrepresentação.

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