Guitarrista e fundador do The Who, Pete Townshend, lança autobiografia

Compositor extrapola o universo musical e conta detalhes sobre sua vida enquanto traça painel sociocultural da Inglaterra

por Mariana Peixoto 15/12/2013 06:00

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

RECOMENDAR PARA:

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

CORREÇÃO:

Preencha todos os campos.

Rick Diamond/AFP
(foto: Rick Diamond/AFP)
Keith Richards conquistou os leitores pelas histórias beirando o inverossímil contadas com o humor ácido e direto que lhe é peculiar. Eric Clapton foi por outro caminho, emocionando o público com uma trajetória doída, também apresentada sem meias palavras para os fãs. Agora, é a vez de outro britânico, mestre da guitarra como os dois e que a exemplo deles viveu os 1960 e os 1970 com toda a intensidade possível. 'Pete Townshend – A autobiografia' (Editora Globo, 488 páginas) é marcada por total franqueza. Só que o caminho é mais pedregoso, sem facilitar muito para o leitor.

Ao longo de 17 anos, o compositor, guitarrista e fundador do The Who, hoje com 68 anos, trabalhou em cima de sua própria vida. O próprio admitiu que a narrativa chegou a atingir as 1 mil páginas (a versão final tem a metade disso). Críticos e seguidores fizeram reparos – não se aprofundar no retrato de seus companheiros Roger Daltrey, Keith Moon e John Entwistle; passar, de forma rasteira, por trabalhos como o fundamental 'Quadrophenia'. Mas, sobre si próprio, Townshend não poupa nada.
 
INCLEMENTE Ele soube tirar partido de sua experiência literária (já escreveu ficção e atuou como editor), criando narrativa que, em sua maior parte, é objetiva e pessoal, caminhos que nem sempre andam juntos nessa seara. É, por vezes, inclemente consigo. Noutras, um tanto vago, como se estivesse num divã de analista. Independentemente disso, é um retrato tocante, que extrapola, e muito, o universo musical.

Filho de pais músicos, Townshend é o primogênito, nascido no fim da Segunda Guerra. O pós-guerra marcou sua primeira infância, assim como uma passagem dramática que o traumatizaria para sempre. Aos 6 anos, os pais resolveram deixá-lo sob os cuidados da avó materna, mulher cruel e mentalmente instável. Neste período, Townshend teria sido abusado sexualmente, em situação que ele não consegue (ou quer) recordar. “De repente, lembrei-me pela primeira vez da porta traseira do carro se abrindo. Comecei a tremer descontroladamente e não consegui escrever mais”, escreve.

O ocorrido afetou sua iniciação sexual, tardia e quase asséptica se comparada às dos amigos. O sexo, assim como o abuso de álcool e drogas, por sinal, é recorrente. Bissexual assumido (e discreto), escreveu que Mick Jagger foi “o único homem com quem desejei seriamente fazer sexo”. De Keith Richards admite ter sido ele quem o inspirou a girar os braços como uma hélice, sua marca registrada (teria visto o Stone fazendo isso uma única vez, em 1963). Relata, com detalhes, a primeira vez que ele destruiu uma guitarra no palco (outra de suas marcas), ao lado de Moon, que fez o mesmo com a bateria.

Assunto nada nobre, que levou Townshend às manchetes policiais no início da década passada, a acusação de acessar sites de pedofilia está presente na narrativa. Se Townshend teve alguma culpa, teria sido pelo excesso de ingenuidade (para uma pesquisa sobre o tema, ele teria clicado em site para pedófilos; uma investigação posterior feita pela polícia confirmou a versão).

Afora a questão pessoal, Townshend ainda faz um retrato importante da ascensão do rock inglês no pós-guerra, que praticamente suprimiu o então swing, que tinha sustentado a carreira do pai, clarinetista. A partir de sua experiência com o The Who – que ele queria que chamasse The Hair – e depois em sua carreira solo, vai fazendo um retrato sociocultural da Inglaterra ao longo de quase cinco décadas.

PETE TOWNSHEND – A AUTOBIOGRAFIA

• Globo Livros
• 488 páginas
• R$ 49,90

Outros lançamentos

CRAZY DIAMOND –

SYD BARRETT E O SURGIMENTO DO PINK FLOYD

Dos heróis perdidos da história do rock, Syd Barrett tem um lugar no pódio. Fundador do Pink Floyd, ficou apenas três anos na banda. Apesar da brevidade de sua passagem pelo grupo (o primeiro álbum, The piper at the gates of dawn, de 1967, foi quase todo composto por ele) deixou marcas definitivas na psicodelia. Sua trajetória errática – saiu do Floyd por causa do abuso de drogas e viveu 30 anos recluso, com doença mental – foi recuperada pelos britânicos Mike Watkinson e Pete Anderson, que editaram a primeira versão do livro em 1991 (na época, tiveram muita dificuldade para encontrar editora, pois muitas não tinham nem sequer ouvido falar em Barrett) e o atualizaram para reedição em 2006, depois da morte dele. A edição brasileira sai agora pela Sonora (224 páginas, R$ 39,90).

NOTHIN’ TO LOSE –
A FORMAÇÃO DO KISS (1972-1975)

O subtítulo deixa claro. O período biografado por Ken Sharp, com a colaboração de Paul Stanley e Gene Simmons, são os anos de formação da banda conhecida, entre outros vários atributos, pela megalomania. Tanto por isso, os números são extensos. Foram 200 entrevistas transcritas no calhamaço de 560 páginas (R$ 44,90) que a Benvirá edita no Brasil poucos meses depois de lançado nos EUA, em forma de bate-papo. Além dos coautores, há depoimentos do baterista Peter Criss e do guitarrista Ace Frehley, integrantes da formação original, mais Alice Cooper e Joe Perry, do Aerosmith. Leitura rápida e divertida, conta detalhes da criação da banda até seu primeiro sucesso, o álbum Alive! (1975).

MAIS SOBRE E-MAIS