Bibliotecas conquistam o cidadão em BH e oferecem mais que livros

Como ambiente para estudo e centros irradiadores de cultura, esses lugares funcionam em diversos pontos da capital mineira

por Walter Sebastião 10/12/2013 08:00

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Fotos: Beto Magalhães/EM/D.A Press
Elione Cavalcante e Ana Paula de Paula são frequentadoras assíduas da biblioteca do Centro de Cultura Lindeia Regina (foto: Fotos: Beto Magalhães/EM/D.A Press)
Discretas, elas são encontradas em toda a capital. De tão presentes na vida cotidiana de BH, as bibliotecas correm o risco de passar despercebidas. Mas o público comparece: algumas delas são campeãs de visitação. Este ano, nada menos de 28 mil leitores têm procurado, mensalmente, a Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, na Praça da Liberdade. A maioria é estudante, tem de 17 a 30 anos e ensino médio completo. As mulheres predominam.

Calcula-se que uma centena de endereços de instituições públicas e privadas, com os mais diversos perfis, receba leitores em BH. De acordo com especialistas, o fato se deve ao bom trabalho desenvolvido em silêncio, há décadas. “Os números são expressivos, mas precisamos ampliá-los. O ideal é termos uma biblioteca em cada bairro”, afirma Marina Nogueira Ferraz, diretora do Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas Municipais de Minas Gerais. “Leitura é um direito do cidadão. Quem domina o mundo letrado tem mais facilidade de se inserir no mundo”, observa.

Fenômeno pouco percebido, houve multiplicação e descentralização das universidades em BH e várias regiões da capital ganharam bibliotecas importantes. A UFMG mantém em caráter experimental duas unidades que funcionam 24 horas por dia nas faculdades de Ciências Econômicas e de Letras, ambas no câmpus da Pampulha.

“Quem chega a uma biblioteca universitária tem contato com um ambiente que pode mudar os rumos de sua vida”, afirma Wellington Marçal de Carvalho, diretor do Sistema de Bibliotecas da UFMG. Para ele, biblioteca de verdade deve ter instalações, mobiliário e acervos adequados, além de pessoal qualificado. “Não pode ser um amontado de livros e a placa dizendo que é biblioteca”, adverte.

Waney Alves Reis coordena a biblioteca do Centro Cultural Salgado Filho, na Região Oeste de Belo Horizonte. “Oferecemos o que as pessoas demandam. Quer livro emprestado? Precisa fazer pesquisa? Quer conhecer literatura? Pode vir. Meu público não sai sem resposta”, garante Waney, que cadastra de 14 a15 novos leitores por mês, sobretudo de 8 a 16 anos. “É o nosso forte”, conta ela, ressaltando a clientela acima dos 40 anos, com presença expressiva de aposentados.

Waney detectou uma novidade: adultos podem até não ser leitores, mas incentivam os mais novos a ler. “Isso é muito positivo. Vivemos um momento difícil, marcado pelo consumo de drogas e violência. A literatura traz algo mais para a vida, é alívio para dia a dia complicado”, analisa.

Fotos: Beto Magalhães/EM/D.A Press
Marly Diniz busca seus livros no centro cultural do Bairro Salgado Filho (foto: Fotos: Beto Magalhães/EM/D.A Press)
Marly Eustáquio Diniz, de 63 anos, mora no Salgado Filho. Ao fazer ioga no centro cultural do bairro, ela descobriu a biblioteca e mergulhou na literatura brasileira. “Gosto de pegar romances para me distrair, de ler livros que me deixam alegre e feliz”, conta. Ela adorou 'Memórias de um fusca', de Origenes Lessa, e ficou impressionada com 'Memórias póstumas de Brás Cubas', de Machado de Assis. Marly mantém o hábito de ler histórias para a neta. “É importante ir colocando na cabecinha dela que leitura é importante, inclusive para o desenvolvimento escolar”, explica.

“Minha vida atual é correr e estudar”, brinca o aposentado José Adão Pereira Lopes, de 75, sentado numa das mesas do anexo da Biblioteca Luiz de Bessa, na Praça da Liberdade. Depois do curso de filosofia, ele está às voltas com as aulas de francês. “Aqui, o material de consulta é amplo e mais confiável que a internet”, garante. Rafael Peduti, de 17, estuda matemática na mesa em frente à de Lopes. “Este local é lugar apropriado para estudar, até melhor do que em casa. É só você e o livro, não tem distração, barulho”, elogia o rapaz, às voltas com exames para o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA).

Príncipe

A mineira Ana Paula de Paula, de 36, e a maranhense Elione Cavalcante, de 44, conheceram-se ao levar os filhos a oficinas no Centro de Cultura Lindeia Regina, na Região do Barreiro. Ambas se cadastraram na biblioteca. “Até gosto de ler, mas só aqui comecei a pegar livros”, conta Ana, que adorou O pequeno príncipe, do francês Saint-Exupéry.

Elione passava de ônibus diante do centro cultural quando viu cartazes anunciando a biblioteca. “Vim porque gosto de ler e não tenho como comprar livro. Leitura é viagem sem sair do lugar, você vai a outros mundos”, explica. Além disso, trata-se de “diversão sem gasto”. Elione pegou emprestados De primeira-dama a prostituta, de Adelaide Carraro, e um livro de Stephen King que virou filme. Depois de ensaiar escrever um romance, a maranhense agora se dedica à poesia.

Oferta descentralizada


Belo Horizonte conta com 23 bibliotecas públicas. É a segunda cidade brasileira com mais equipamentos públicos dessa natureza. São Paulo tem 132.

Há 15 unidades em centros culturais da capital mineira e em três regionais da prefeitura, além da Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte (na antiga Fafich, no Bairro Santo Antônio) e a unidade que funciona no Centro de Referência da Moda (na esquina de Avenida Augusto de Lima com Rua da Bahia, no Centro). Aos domingos, funciona um Ponto de Leitura no Parque Municipal.

A Fundação Municipal de Cultura calcula que anualmente os equipamentos ligados à prefeitura atendem 160 mil pessoas, emprestam cerca de 40 mil livros e promovem cerca de 800 atividades, entre oficinas, rodas e clubes de leitura e palestras de escritores. O acervo conta com 160 mil volumes.

Em BH, o cidadão conta com bibliotecas no Espaço Cento e Quatro, Museu de Arte da Pampulha, Museu Histórico Abílio Barreto, Arquivo da Cidade de Belo Horizonte, Associação Brasileira dos Judeus Descendentes da Inquisição, Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha), Sesc MG e a Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, além de unidades ligadas às universidades UFMG, Izabela Hendrix, Newton Paiva, Fead, UNA, UFMG, Fumec, Uemg, PUC Minas, UniBH e Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia.

LEITURA DINÂMICA

97%
dos 5,4 mil municípios brasileiros têm biblioteca pública

61%
dos usuários no Sudeste procuram bibliotecas para pesquisas escolares

835
dos 853 municípios mineiros contam com biblioteca pública, de acordo com o IBGE

2,12
bibliotecas por 100 mil habitantes na Região Sudeste

4,14
bibliotecas por 100 mil habitantes em MG, o terceiro estado no ranking nacional

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