Artista plástica mineira radicada no Rio, Rosangela Rennó conta a história do espaço do ponto de vista visual

Na exposição que apresenta até 12 de janeiro na Casa Daros, no Rio, Rosângela volta a recorrer ao trabalho de diversos fotógrafos, historiadores e à própria equipe da instituição, para criar o 'laboratório de memória afetiva' do prédio

por Sérgio Rodrigo Reis 03/11/2013 09:53

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Jeff Morgan/Divulgacao Casa Daros
Rosangela Rennó mostra até janeiro, na Casa Daros, no Rio, exposição que conta a história do espaço a partir do ponto de vista visual (foto: Jeff Morgan/Divulgacao Casa Daros )
Rosângela Rennó conseguiu consolidar lugar especial no mundo da arte com a proposta de se relacionar com o universo da fotografia. Ao acessar arquivos diversos de imagens, deparou-se com série de conexões e reflexões, que, em seguida, usou na recriação de memórias. Elas são a base de seus projetos de arte contemporânea que tanto têm chamado atenção da crítica, do público e de pesquisadores dentro e fora do Brasil. Com agenda cheia, que inclui a exposição Projeto Educandaros – 1738-2013, resultado de residência feita na Casa Daros, no Rio de Janeiro, ela se prepara para meses intensos. “Tenho vários projetos em andamento: para São Paulo, Rio, Paris, Ilhas Canárias e Lisboa. Nada previsto para Minas, infelizmente.” Deverá ser assim também em 2014. “Minha agenda já está completa”, avisa.

Nascida em Belo Horizonte e há 20 anos vivendo no Rio, Rosângela Rennó formou-se em arquitetura pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e em artes plásticas, pela Escola Guignard da Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg). É também doutora em artes pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP). Desde o início, começou a chamar atenção por trabalhar a linguagem fotográfica sem o intuito de criar novas imagens, e sim para refletir sobre desdobramentos das linguagens; muitas vezes, a partir da ressignificação de imagens antigas, sobretudo arquivos familiares. Foi assim até se mudar para o Rio, quando passou a trabalhar com negativos de retratos 3x4 adquiridos em estúdios populares e lambe-lambes.

Outro passo importante foi quando, ao recolher textos que falavam sobre fotografia em jornais de circulação nacional, construiu o que chamou de Arquivo universal, banco de informações cuja articulação, no campo das artes visuais, propicia inversão do código fotográfico. Ao espectador, ela não oferecia a imagem mas sim um texto sobre ela. A proposta foi de que, a partir da leitura das narrativas, o espectador, diante do próprio repertório iconográfico, pudesse construir a imagem.

Laboratório
Na exposição que apresenta até 12 de janeiro na Casa Daros, no Rio, Rosângela volta a recorrer ao trabalho de diversos fotógrafos, historiadores e à própria equipe da instituição, para criar o “laboratório de memória afetiva” do prédio. Baseou-se no passado da edificação, construída em 1866 para abrigar o Recolhimento de Santa Thereza, depois chamado Educandário Santa Teresa, e comprado em 2006 pela Coleção Daros Latinamerica, para abrigar a Casa Daros. Batizado de Projeto educandaros – 1738-2013, o site-specific conta, de um ponto de vista visual, a história do edifício projetado pelo arquiteto Francisco Joaquim Bethencourt da Silva (1831-1912) para, inicialmente, abrigar uma instituição beneficente e de ensino para meninas órfãs.

Projeto Educandaros: 1738-2013
Mostra de Rosangela Rennó em cartaz até 12 de janeiro de 2014 na Casa Daros, Rua General Severiano, 159, Botafogo, Rio de Janeiro. Entrada franca. Informações: (21) 2138-0850 e www.casadaros.net.

Saiba mais: Vida e obra
A artista Rosângela Rennó nasceu em 1962, em Belo Horizonte. Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Formou-se em artes plásticas pela Escola Guignard (da Uemg) e em arquitetura pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). É doutora em artes pela Escola de Comunicações e Artes da USP. Entre suas principais exposições individuais destacam-se FotoMuseum (Winterthur, 2012) e as realizadas no Centro de Arte Moderna (CAM) da Fundação Gulbenkian (Lisboa, 2012); Prefix Institute Contemporary Art (Toronto, 2008); Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães (Recife, 2006); Centro Cultural Banco do Brasil (Rio de Janeiro, 2003) e Museu de Arte da Pampulha (Belo Horizonte, 2002). Já mostrou sua obra em bienais internacionais, como a 50ª Bienal Internacional de Veneza – Pavilhão Brasileiro, (2003); a 2ª Berlim Biennale (2001) e a 45ª Bienal Internacional de Veneza (1993).

Três perguntas para... Rosângela Rennó, artista plástica

Você se tornou reconhecida pelo trabalho de recriação de memórias, a partir de arquivos fotográficos. Em que momento percebeu que faria aí sua pesquisa visual?

Há bastante tempo, desde que mergulhei no arquivo do Distrito Federal para fazer projeto para a exposição Revendo Brasília, a convite de Alfons Hug, em 1994. Naquela época, desenvolvi uma instalação intitulada Imemorial, com fotos de identidade provenientes do fichário de funcionários da Novacap, construtora do governo criada para empreender a construção de Brasília. Desde então, tenho tentado sempre me envolver com esse tipo de projeto.

O lugar da fotografia no mercado de arte e entre os críticos mudou bastante nos últimos anos. A que atribui a boa fase?

Já não dá para dizer que é uma fase, pois é algo que começou nos EUA e Europa, nos anos 1980, e nunca deixou de ocupar um lugar de destaque. As coisas por aqui começaram mais tarde, em meados dos anos 1990, mas o mercado se tornou muito mais voraz nos últimos cinco anos, com aumento significativo do número de colecionadores no Brasil. A crítica teve que se adequar à nova demanda.

Você acaba de inaugurar na Casa Daros projeto desenvolvido em longa pesquisa. Como foi essa troca com a instituição e o que pretende com essa pesquisa?

A pesquisa, na verdade, nasceu do meu desejo de lidar com a possibilidade de acompanhar um processo de transformação arquitetônica de um edifício clássico. Era uma oportunidade única, já que esse projeto ocorria no Rio de Janeiro, ao meu lado, num momento em que eu tinha bastante tempo disponível, pois tudo começou em 2007. A troca foi muito interessante e enriquecedora no meu processo de trabalho. Se eu não posso aprender com algum projeto novo, não vale a pena empreendê-lo. O que mais me interessou, na verdade, foi o envolvimento com as ex-alunas do Educandário Santa Teresa, com sua experiência com o edifício, enquanto alunas e ‘‘moradoras’’ do edifício e sua expectativa quanto ao destino do imóvel e à própria memória dele. Elas foram a grande força motriz do projeto pois fizeram tanta pressão sobre a instituição quanto eu com meu projeto.

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