Próxima edição do FIT será realizada em maio por causa da Copa do Mundo

Classe artística envolvida com o Festival Internacional Palco & Rua de Belo Horizonte cobra mais diálogo

por Carolina Braga 02/11/2013 06:00

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Cia Pep Bou/Divulgação
O infantil 'Bombollavá', da cia espanhola Pep Bau, está cotado para participar do FIT 2014 (foto: Cia Pep Bou/Divulgação)
A próxima edição do Festival Internacional Palco & Rua de Belo Horizonte, o FIT-BH, já tem data: será de 10 a 25 de maio do ano que vem. Será antecipado – geralmente o festival é realizado em junho – por causa da Copa do Mundo no Brasil. Outra novidade é que, pela primeira vez, as crianças serão contempladas no espaço aberto para elas na programação, o Fitinho.

A 12ª edição do evento mais aguardado de artes cênicas da cidade vai celebrar os 20 anos do festival, organizado de dois em dois anos em Belo Horizonte. O conceito vai girar em torno do termo coexistência. “Queremos espetáculos que dialoguem com a população, que busquem a identificação, a troca”, aponta Cássio Pinheiro, assessor especial da presidência da Fundação Municipal de Cultura e responsável pela coordenação geral do FIT. Lery Faria foi convidado para cuidar dos projetos especiais. Já trabalham como curadores os atores e diretores Jefferson da Fonseca Coutinho e Geraldo Peninha.

Na função de escolher os espetáculos que vão compor a grade de programação, a dupla marcou presença em mostras realizadas em Londrina, Brasília, Rio de Janeiro, Florianópolis, Salvador. No exterior, conferiram as atrações do festival de Buenos Aires e, mais recentemente, em Cuba. Viagens para a Córdoba, na Argentina, cidades da Espanha e também para o festival Santiago a Mil, no Chile, já estão previstas.

“Não estamos trabalhando com números. Tentamos listar os espetáculos possíveis, que seriam importantes para a cidade do ponto de vista estético, alguns radicais, que têm essa característica de inovação. Ao mesmo tempo, não estamos virando as costas para os clássicos”, adianta Jefferson da Fonseca Coutinho. O desafio, segundo ele, é não ficar refém da programação de outros festivais. Por isso, na recente passagem por Buenos Aires, viram atrações da mostra oficial, assim como ensaios em bairros mais afastados da capital portenha.

Como se trata de uma edição comemorativa, Cássio Pinheiro não descarta a possibilidade de reprise de alguma peça que tenha sido marcante na história do FIT. O orçamento total previsto é de R$ 6 milhões, sendo R$ 4 milhões de investimento direto do tesouro municipal e outros R$ 2 milhões a serem captados via lei de incentivo. Segundo o gestor, o momento agora é tentar fazer uma leitura do movimento teatral de cada país e procurar de que modo eles se identificam com o Brasil. Em outras palavras – reforçando o tema do FIT-BH –, de que forma podem coexistir com nossa realidade.

Ao falar sobre a programação, Cássio, Jefferson e Peninha evitam indicar nomes. “O meu desejo mesmo é que cada espetáculo esteja lotado”, despista Peninha, antes de sinalizar a criação da mostra para as crianças. Neste ponto, a curadoria está especialmente de olho em três montagens da Espanha: 'Bombollavá', da companhia Pep Bou; 'Moby Dick: un viatge pel teatre', da La Kompanyia; e 'Concerts per a nadons', de Paulo Lameiro. Os espetáculos devem ser avaliados nos próximos meses.

Conselho Outra novidade é a proposta de que se prolonguem as ações do FIT até 2016. O plano é promover intercâmbios internacionais permanentes, com apoio da Secretaria de Relações Internacionais da PBH, e também incrementar as ações voltadas para a formação artística. Por mais que o desenho da próxima edição já esteja em processo, pessoas ligadas ao setor teatral da cidade reclamam da falta de diálogo.

“A gente não fica sabendo de nada. Como conselheira, solicitei que o FIT entrasse na pauta da última reunião com a justificativa de que nós precisamos saber dos eventos internacionais. Nada foi falado. Fiquei sabendo quando as coisas vieram a público. O problema não é o fato de haver mudanças. As coisas precisam ser discutidas”, cobra Cida Falabella, representante das artes cênicas no Conselho Municipal de Cultura. Como ela lembra, o conselho existe para ajudar a formular as políticas da cidade. “O FIT se enquadra nisso”, defende.

De acordo com Cássio Pinheiro, o encontro com o setor não foi marcado até hoje porque era necessário partir de algo concreto para se discutir. Segundo ele, em no máximo um mês os interessados serão convidados a debater as ideias delineadas para a próxima edição do festival. Já para a seleção dos espetáculos locais, a previsão é de que em 10 dias seja divulgada uma comunicação pública para os interessados.

As peças de Belo Horizonte a serem inscritas terão oportunidade de fazer parte da programação geral, como também de seções especiais para curadores internacionais, cerca de 35, que serão convidados a vir a BH durante o FIT. De acordo com Cássio Pinheiro, como o evento está em contato com a rede de festivais mundiais, será uma oportunidade para que atores mineiros se apresentem em outros países.

Edição anterior deixou dívidas

Enquanto os preparativos para o FIT 2014 avançam, o clima entre a Fundação Municipal de Cultura e seus credores esquenta. Também orçada em R$ 6 milhões, a edição do festival de 2012 estourou a previsão de recursos em pelo menos R$ 1 milhão. Cerca de 150 processos de contratos de fornecedores estão há 15 meses na fila à espera do pagamento pelo serviço prestado.

“É uma sucessão de erros”, resume a produtora Juliana Sevaybricker, da Agentz Produções e porta-voz do grupo de cerca de 50 fornecedores que tenta negociar com a fundação. A edição anterior do FIT foi pensada para causar grande impacto na cidade. Sendo assim, os custos para distribuir as atrações do festival para várias regionais de Belo Horizonte impactaram o orçamento. No início deste ano houve a troca da diretoria do órgão, o que atrasou o processo de pagamento.

 “Como não sabem? Tanto representantes da APPA (responsável pela gestão dos contratos) como da fundação controlaram a verba e os contratos”, lembra Juliana. Mesmo que tenha se concentrado na parte artística do FIT 2012, Marcelo Bones acredita ter havido um acidente de percurso. “Logo depois do FIT, a presidente da Fundação Municipal de Cultura (FMC), Thaís Pimentel, saiu e todas as diretorias também foram mudadas. Isso mudou completamente a conjuntura. Era uma questão que seria tratada internamente”, diz.

Em abril, os credores se reuniram para tentar uma negociação amigável com a nova equipe da FMC. Desde a primeira reunião aguardam uma solução para o pagamento da dívida. A última informação é que o montante deve ser repassado via processo indenizatório.

“O autorizado eram R$ 6 milhões. Teve um excedente de despesa. Quando nossa gestão entrou, o convênio no FIT já havia terminado. Só depois ficamos sabendo desse valor. Tivemos que mandar para uma auditoria do município, para que os pagamentos sejam feitos de forma responsável”, informa Cássio Pinheiro. Segundo ele, a auditoria analisou contratos e serviços executados.

 “Os gestores da época vieram à fundação e atestaram essa documentação. Foi a primeira parte do serviço. A fundação emitiu parecer jurídico e devolveu para que a auditoria faça a análise final e autorize ou não o pagamento”, diz. O atual gestor não menciona os prazos para a finalização do trabalho.

“A sensação que me dá é uma falta de vontade política. As coisas estão andando, a prefeitura realizou a Virada Cultural e a história do nosso pagamento nem caminha. Não se fala em prazos”, critica Juliana Sevaybricker, representante dos credores.

QUE FIT VOCÊ QUER PARA BH?

Resistência “O FIT não precisa ser um evento grandioso, já temos muitos eventos grandiosos na cidade. Pelo contrário, é preciso ir contra a lógica do evento para buscar um projeto cultural para o FIT que seja vertical, audacioso e que pense na continuidade e na formação. Um FIT de resistência e não de conivência”.
. Marcos Coletta, integrante do grupo Quatroloscinco

Independente “Desejo um FIT renovado, com novas ideias, mas com conceito. Um festival que movimente a cidade, que valorize os trabalhos locais e que promova reais intercâmbios. Chega de festival eleitoreiro! O festival e a cidade perdem muito quando usados politicamente”.
. Léo Quintão, integrante da Cia Pierrot Lunar

Novo rumo “Está na hora de o FIT diminuir. Encolher e aprofundar. Tem que se voltar para uma outra coisa, pensar de outro jeito. A tendência é a vitrine, o espetaculoso, mas de eventos a cidade já está cheia. Se o FIT teve esse papel tão inaugural, é a hora de dar um outro sentido para ele”.
. Cida Falabella, integrante da Cia Zap 18

Diálogo “Espero sinceramente que o FIT seja mais bienal do que quadrienal, que ele consiga se estabelecer com integridade mais como projeto histórico coerente, que ocorre de dois em dois anos, do que por seu valor nas eleições, realizadas de quatro em quatro. Espero também trabalhos que dialoguem com o que as artes cênicas da cidade vivem hoje”
. Grace Passô, atriz e dramaturga, fundadora do grupo Espanca!

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