Autores brasileiros ganham espaço na Alemanha

Tradutores e projetos do governo colaboram para o reconhecimento de obras no exterior. Feira é um canal para esse acesso, em Frankfurt

por Ana Clara Brant 11/10/2013 08:10

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Ralph Orlowski/Reuters
Genesis, novo livro do fotógrafo mineiro Sebastião Salgado, está exposto na feira de Frankfurt (foto: Ralph Orlowski/Reuters)
Frankfurt – Michael Kegler nasceu em uma pequena cidade ao lado de Frankfurt, onde morou até os 4 anos. Mas o primeiro contato desse alemão com as palavras se deu graças a Monteiro Lobato, cuja obra ele conheceu em Congonhas, no interior de Minas Gerais, para onde se mudou com a família quando era criança. O pai trabalhava numa mineradora. “Fui alfabetizado em português, ou melhor, em mineirês. Conheci boa parte daquela região, vivemos lá por seis anos. Até cachaça sei tomar”, brinca o simpático tradutor.

Kegler organizou o estande que exibe 200 obras de autores brasileiros na Feira do Livro de Frankfurt. Nos últimos tempos, vê aumentar o interesse dos alemães pelo Brasil. Em 2011, Kegler pesquisou livros brasileiros publicados em sua terra e se assustou ao encontrar apenas 60 títulos – 39 de Paulo Coelho. Atualmente, esse número triplicou, acredita ele. Dois anos depois, o país é o homenageado no evento mais importante do mercado editorial.

Michael Kegler não tem dúvida sobre o motivo da “virada”: a reestruturação do programa de apoio à tradução e à publicação de autores brasileiros no exterior, desenvolvido pela Biblioteca Nacional e pelo Ministério da Cultura. Foram concedidas 422 bolsas – 65 na Alemanha. No estande dele podem ser encontradas traduções de 'Diário da queda', de Michel Laub; 'Barba ensopada de sangue', de Daniel Galera; K., de Bernardo Kucinski; e 'O dia Mastroianni', de João Paulo Cuenca.

“Tivemos várias ondas. Na década de 1980, quando a Alemanha se abriu para a literatura latino-americana, o Brasil foi beneficiado. Um novo boom ocorreu em 1994, com a alta da música brasileira na Europa. Com a feira e o programa da Biblioteca Nacional, a coisa tomou grandes proporções. O mercado alemão, finalmente, passou a acreditar”, destaca.

Autores que não encontram tanto espaco no Brasil, principalmente os contemporâneos, passaram a ter visibilidade na Alemanha, informa Kegler. “Além disso, clássicos como Machado de Assis e Jorge Amado ganharam novas traduções, principalmente de editoras independentes. A Schöffling& Co. acaba de comprar os direitos da obra de Clarice Lispector”, afirma o tradutor de livros de Fernando Molica, João Paulo Cuenca, Michel Laub e Luiz Ruffato.

A tradutora Karin von Schweder, especialista em Chico Buarque, Moacyr Scliar, Rubem Fonseca e Antonio Callado, confirma o interesse por autores brasileiros. No entanto, ela diz que as tiragens ainda são pequenas. Visitantes dos pavilhões da Feira do Livro de Frankfurt têm demonstrado curiosidade pelo Brasil. A historiadora alemã Hanna Screiner ficou encantada com Graciliano Ramos. “Pelo pouco que vi, ele é bem político, fala do aspecto social. Nunca fui ao país, mas a ler é uma forma interessante de conhecer um povo e sua cultura”, diz.

Minas apresenta sua gastronomia

Ao lado de chefs e especialistas, o secretário de Estado de Turismo, Agostinho Patrus Filho, veio à Alemanha divulgar a culinária mineira. Ontem, ele anunciou um programa para incentivar o setor, o Gastronomia do morro. Os renomados chefs Ivo Faria (Restaurante Vecchio Sogno), Henrique Gilberto (Belo Comidaria), Leandro Pimenta (The Lab), Paula Cardoso (Haus München) e Frederico Trindade e Felipe Rameh (Trindade) serão recebidos por craques da culinária do Aglomerado Santa Lúcia, na Zona Sul da capital. Durante 14 dias, uns cozinharão para os outros.

“Em parceria com o Senac, a Fecomércio, o BDMG, Sebrae e a Junta Comercial, os chefs do morro terão seus estabelecimentos formalizados, a mão de obra qualificada e financiamento especial”, explica Patrus. A ideia não se resume a divulgar a gastronomia mineira no exterior, mas também valorizar a culinária popular. “Lá no morro há pessoas que fazem coisas fantásticas na cozinha. Elas têm paixão por isso. Nossa ideia é expandir o projeto para outras regiões de BH e para o interior”, concluiu Patrus.

A repórter viajou a convite do Governo de Minas.

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