Exposição mais visitada do mundo, A magia de Escher chega ao Palácio das Artes

Belo Horizonte recebe obras do artista holandês que exploram técnicas como a ilusão de ótica e hiperrealismo; mostra já foi vista por 1,2 milhão de espectadores

por Sérgio Rodrigo Reis 15/09/2013 10:33

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MC Escher/Reprodução
Gravuras do artista Maurits Cornelis Escher sofreram preconceito da classe artística antes de terem méritos reconhecidos; obras fascinam público pela ilusão de ótica (foto: MC Escher/Reprodução )
A primeira lembrança do curador Pieter Tjabbes da obra do mestre holandês da ilusão de ótica e dos paradoxos, o artista gráfico Maurits Cornelis Escher (1898-1972), que ganha exposição no Palácio das Artes, sexta-feira, vem da primeira infância, em Haia, sua terra natal. Tinha 6 anos quando o pai o presenteou com um pôster com a reprodução de 'Três mundos'. A emblemática gravura retratava a superfície de um lago com as folhas boiando e, ao mesmo tempo, o reflexo do entorno e, ao fundo, um peixe nadando. “É uma imagem poética, não das mais espetaculares, mas me intrigava a ilusão de ótica. Quando estava deitado em minha cama, como ficava perto da janela, era a última que via antes de dormir”, lembra.

 

Veja fotos da exposição A magia de Escher

O tempo passou, Pieter Tjabbes foi estudar história da arte em Amsterdã e não demorou para perceber um certo preconceito em relação à produção gráfica que tanto o impressionou quando criança. “Não era exatamente o assunto. A maioria tinha opinião de que aquilo não era arte. Entre meus pares, a criação de Escher era meio suspeita. Mesmo gostando, confesso que, na época, fiquei meio envenenado. Acabei me esquecendo um pouco dele.”

 

Em 1985, depois de vir ao Brasil para trabalhar na Bienal de São Paulo, acabou se casando e tendo filhos no país. Foi justamente ao levá-los para conhecer a terra natal que voltou o fascínio pela obra do conterrâneo. “Nas viagens, um dos pontos altos era a visita ao Museu de Escher. Lá percebi o potencial da obra.” Desde então, perseguia o objetivo de realizar no Brasil uma exposição capaz de reproduzir por aqui o impacto diante daquelas gravuras.

Divulgação/ CCBB Rio
No CCBB do Rio de Janeiro, a exposição promoveu contato do espectador com as obras através de instalações (foto: Divulgação/ CCBB Rio)
A mostra A magia de Escher é o desfecho da história. Apresentada no Rio de Janeiro, em Brasília e São Paulo, a partir de 2010, ela impressionou a todos pela repercussão. A publicação The Art Newspaper, que registra anualmente o balanço das exposições mais visitadas no mundo, a citou no topo da lista, com 1,2 milhão de espectadores. Ficou à frente de projetos importantes desenvolvidos por museus como o Louvre, na França, ou o Metropolitan, em Nova York. O que transformou o antigo sonho do curador em levar a obra do artista holandês ao povo brasileiro num fenômeno de massa, até então, nunca antes visto por aqui, foi uma série de estratégias de comunicação inspiradas na própria obra do artista holandês.

Escher usa uma linguagem visual acessível, que apela para recursos como a ilusão de ótica, os desenhos hiper-realistas e, ao mesmo tempo, é um exímio gravador. “Tem um poder de sedução grande para os iniciados e ainda para aqueles que nunca tiveram contato com a história da arte. Tradicionalmente, iniciou muitos no caminho do entendimento da arte. Sua produção intriga com brincadeiras visuais e ainda provoca um encantamento pelo domínio da técnica.”

 

Porém, a capacidade midiática da sua produção visual acabou tendo efeito inverso na valorização das gravuras entre críticos e especialistas. “Virou um artista de pôster e se, com isso, as pessoas acabaram esquecendo do conteúdo”, lamenta. Ao imaginar uma exposição que pudesse abarcar as suas várias nuances, a opção foi potencializar os dois lados.

Brincadeira
As 85 obras de Escher, entre gravuras originais, desenhos e fac-símiles, pertencentes à coleção da Fundação Escher, na Holanda, que poderão ser vistas até 17 de novembro nas galerias do Palácio das Artes, serão acessadas de maneiras distintas. “Queremos que as pessoas olhem as obras, entrem nas instalações interativas, nas brincadeiras e, depois do estímulo, vejam com outro olhar as gravuras. A exposição é 50% séria e 50% brincadeira. A equação funcionou muito bem. Não afastou o público sério e ainda permitiu que as pessoas se divertissem. É possível perceber a beleza dos trabalhos e ainda a mestria com que foram feitas as gravuras.”

 

A versão que chega a BH é diferente da que foi tão cultuada no eixo Rio-São Paulo. “Tem uma diferença na escolha das obras, porque não estão sempre disponíveis. Há coisas que melhoramos, como 'Metamorfose', uma gravura de sete metros”, adianta.

A exposição foi pensada para que o público, de maneira lúdica, atente para as dimensões visuais criadas por Escher. São exemplos um quebra-cabeça gigante, ilustrando como o artista recorria a imagens geométricas ou figurativas, unindo-as umas às outras, para criar gravuras que remetem ao infinito. O artifício é recorrente em gravuras como 'Menor e menor' (1956) ou no clássico 'Dia e noite' (1938), nas quais é possível perceber como, por meio de pequenas mudanças numa sequência, é possível transformar as imagens.

 

“A repercussão do projeto abriu os olhos de vários museus a dar um passo em direção ao público, facilitando a entrada para o que está em exibição. Percebemos claramente, ao usar a estratégia, como atraímos uma parcela nova do público.” A maioria das pessoas, quando entra, não resiste à experiência e acaba voltando.

Reprodução/Escher
Holandês Maurits Cornelis Escher foi, durante muito tempo, visto com desconfiança por especialistas (foto: Reprodução/Escher )
Técnica impecável, mundos impossíveis
Escher se tornou conhecido em todo o mundo pelas representações de construções impossíveis, preenchimento regular do plano, explorações do infinito e as metamorfoses – padrões geométricos entrecruzados que se transformam gradualmente em formas diferentes. Realizava gravuras com incrível capacidade de gerar imagens com efeitos de ilusões de ótica, com qualidade técnica e estética, respeitando as regras geométricas da perspectiva.

O processo nasceu depois de viagem à Espanha. Diante dos mosaicos mouros, sentiu-se estimulado a desenhar utilizando-se do preenchimento regular do plano. Achou interessantes as formas como cada figura se entrelaçava a outra e se repetia, formando padrões geométricos. A partir de uma malha de polígonos, regulares ou não, passou a realizar mudanças, mas sem alterar a área do polígono original.

Assim surgiam num plano bidimensional figuras de homens, peixes, aves, lagartos, todos envolvidos de tal maneira que nenhum poderia mais se mexer. Ao brincar com o fato de ter que representar o espaço, que é tridimensional, num plano de uma folha de papel, criou figuras impossíveis, como as representações distorcidas e paradoxos.

Terceira dimensão
A magia de Escher possibilita ao espectador a vivência de uma série de efeitos óticos e de espelhamento explorados na construção das gravuras. Experiências como olhar por uma janela de uma casa e ver tudo em ordem e, em seguida, ver tudo flutuando por outra janela podem ser acessadas na exposição. Há ainda a possibilidade de assistir a um filme em 3D, que proporciona um passeio por dentro das obras.

A magia de Escher
Do dia 20 de setembro a 17 de novembro, nas galerias Alberto da Veiga Guignard, Arlinda Corrêa Lima e Genesco Murta do Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro). De terça a sábado, das 9h30 às 21h; domingo e feriados, das 16h às 21h. Entrada gratuita. Classificação livre. Informações: (31) 3236-7363.

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