Grupos artísticos estabelecem relações com as comunidades das regiões de suas sedes

Entre as atividades estão projetos educativos, exibição de filmes e espetáculos de dança e teatro

por Sérgio Rodrigo Reis 07/09/2013 00:13

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Marcelo Castro/Divulgação
O Spanca promove sessões de cinema na região do Viaduto Santa Tereza, que também se torna palco para outras manifestações do grupo. (foto: Marcelo Castro/Divulgação)
 

A história que tem mudado o perfil de algumas regiões de Belo Horizonte é semelhante. Depois de conquistar projeção com os primeiros trabalhos, para continuar com os projetos de criação os grupos e coletivos artísticos iniciam árdua batalha pela sede própria. Quando finalmente conseguem o objetivo, eles partem para estreitar um diálogo com as comunidades no entorno, o que tem contribuído não só para modificar a rotina ao redor, como para dar outra cara a regiões antes marginalizadas. Outro ponto positivo é o fato de eles oferecerem conhecimento cultural transformador, até então inédito, nos locais onde se inserem. A capital vive o movimento de maneira intensa.

Quando o premiado grupo de teatro Spanca chegou ao Hipercentro, em outubro de 2010, para ocupar um antigo sacolão embaixo do Viaduto Santa Tereza, a região não tinha tantos atrativos, era ocupada por usuários de drogas, mendigos e poucos se arriscavam a ficar por lá por mais tempo. Além de abrigar as atividades da trupe, o espaço rapidamente se abriu para apresentações de espetáculos de outros artistas e eventos de arte contemporânea. “Toda vez que entrávamos em processo criativo tínhamos que buscar um lugar para os ensaios”, lembra a produtora do grupo, Aline Vila Real. Além de resolver o problema, a sede também possibilitou um diálogo maior com o público e ainda serviu para fomentar outras ações por meio de editais de ocupação. “Cada vez víamos o potencial ampliando.”

 Se até então o Spanca tinha público cativo entre os iniciados das artes cênicas, aos poucos viu seu horizonte expandir. “O fato de estar ali atraiu a atenção de muita gente em volta. As pessoas começaram a se apropriar das nossas ações”, lembra ela, citando atividades como as sessões de cinema de rua ou performances realizadas pelos atores nas proximidades. Ao lado da agitação promovida pelo bar Nelson Bordello e pelo duelo de MCs, o Spanca tem presenciado a transformação. “A Rua Aarão Reis virou o maior palco de BH”, diz a produtora. A opção pelo Hipercentro foi proposital. Segundo ela, o objetivo sempre foi buscar um local que tivesse conexão forte com a cidade. “Quando surgiu a possibilidade da sede própria, coincidiu com o desejo de passar um tempo focado em BH. Ir para o Centro foi uma ótima oportunidade.” Não demorou para que se realizassem as primeiras aproximações com a comunidade.

A vendedora ambulante Ângela Evangelista de Souza, de 50 anos, é testemunha da transformação que a chegada do Spanca e de outros ações culturais provocaram na região do Viaduto Santa Tereza. Ela vende pipoca e água mineral por ali há 10 anos e ficou surpresa com as modificações depois da chegada dos artistas. “Ficou ótimo, melhorou o ambiente. Eles são alegres, unidos e, sempre que posso dou uma parada para participar. Gostei quando colocaram a tela de cinema do lado de fora. Várias pessoas deixavam de pegar ônibus para assistir.” Outra que aprovou a movimentação foi a também vendedora de doces Ana Paula Fernandes, de 63. Há oito anos no local, comenta que sempre quando pode dá uma parada no serviço para ver o que acontece no Spanca. “O pessoal daqui gosta de ter um grupo de teatro por perto. É gente muito boa”, comenta.

Arte e educação A Quik Cia de Dança também passou por situação parecida quando, em 2002, abriu a sede no Bairro Jardim Canadá, em Nova Lima. Fundada pelo casal de ex-bailarinos do Grupo Corpo Letícia Carneiro e Rodrigo Quik, a companhia encontrou ali a oportunidade para ampliar os ensaios e desenvolver um projeto de arte e educação. Os resultados são visíveis depois do desenvolvimento de projetos, não só da dança, como também de espetáculos, debates, exposições e workshops de diversos artistas. “Chegamos com desejo grande de desenvolver um trabalho autoral e a o espaço facilitou”, lembra Rodrigo. Se no início as propostas de dança contemporânea foram recebidas com cautela, não demorou para envolver todos em volta. “Sempre lidamos com a comunidade de forma igual. É um valor nosso. Construímos uma parceria e conseguimos quebrar o paradigma de levar arte contemporânea e conceitual para eles. O incrível é que tem demanda o tempo todo.”

O grupo de teatro Armatrux passou por caminhos parecidos aos dos demais até conquistar sua sede. “Nossa história é como a dos outros. Primeiro ensaiamos numa garagem, depois numa escola emprestada, até que tivemos sorte de encontrar um galpão no Bairro Jardim América, em BH, cujos donos gostavam de teatro, e nos alugaram a preço simbólico. Sempre vivemos no pinga-pinga, até que, em 1999, começamos a pensar em construir um espaço nosso”, lembra Paula Manata, diretora do Armatrux. O mesmo desejo teve, à época, as irmãs dela, Patrícia e Roberta, que eram responsáveis pela Cia. Suspensa. Só faltava o terreno, que compraram no Vale do Sol, em Nova Lima, e um projeto, que acabou sendo desenvolvido pelo pai das artistas. Foi assim que conseguiram construir com recursos próprios, em 2009, o C.A.S.A, – Centro de Arte Suspensa Armatrux, e iniciar uma aproximação com a população no entorno.

A sede dos dois grupos tem sido usada, além dos ensaios e desenvolvimento de espetáculos, para projetos experimentais. “Sofremos várias situações por ter vindo para cá. Mesmo perto de BH, vivemos numa cidade do interior e nos afastamos da capital. De uns tempos para cá estamos sentindo dificuldade, principalmente em relação a patrocínio.” Há dois anos sem financiamento público, o Armatrux tem vivido da venda de espetáculos e dos projetos alternativos desenvolvidos graças à sede própria. “Viver de bilheteria ainda não é viável. O que estamos fazendo é criar alternativas, como aulas abertas à comunidade, projetos de circo, dança de salão e o projeto Sábado em C.A.S.A.” Na edição de hoje, que começa às 10h, haverá uma feirinha, seguida de oficina de percussão corporal, e, à tarde, lançamento do livro A perereca Filó, de Isabel Stuart. A partir das 17h, tem apresentação do espetáculo infantil O palhaço Popó. Com criatividade, parcerias e com diálogo com a comunidade, o Armatrux e a Cia. Suspensa têm se reinventado em tempos difíceis de patrocínio. “Tudo tem ficado supercheio”, diz Paula Manata.



Arte expandida

» Centro de Arte Suspensa Armatrux (C.A.S.A)
Sede para os projetos desenvolvidos pelo grupo de teatro Armatrux e da Cia. Suspensa. Além de salas de ensaios tem um teatro. Fica na Rua Himalaia, 69, Vale do Sol, em Nova Lima. Informações:
(31) 3517-8282.

» Espaço de Acervo e Criação Compartilhada do Primeiro Ato
Oferece residências artísticas, oficinas de dança e cursos profissionais de artes cênicas, além de apresentações. Fica na Rua Búfalo, 261, no Jardim Canadá, em Nova Lima. Informações: (31) 3541-8881.

»  Esquyna
Voltado para a criação, pesquisa, difusão de atividades teatrais. Gerido pelos grupos Teatro Invertido e Mayombe Teatro. Fica na Rua Célia de Souza, 571, Sagrada Família,
(31) 9755-9901.

»  Quik Espaço Cultural
Composto por galpão e duas salas onde se realizam apresentações culturais e as aulas do projeto de cidadania. Fica na Rua Vancouver, 344, Jardim Canadá, Nova Lima. Informações: (31) 3581-3503.

» Teatro Spanca
Inaugurado em 2011, o teatro no Hipercentro de BH surgiu com o objetivo de popularizar o acesso a trabalhos de arte contemporânea. Fica na Rua Aarão Reis, 542, Centro. Informações: (31) 3657-7348.

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