Grupo Corpo surpreende com Triz

Ao mesclar ordem e caos, Rodrigo Pederneiras reinventa a sua gramática

por João Paulo 02/09/2013 07:55

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José Luiz Perderneiras/Divulgação
Malhas em preto e branco criam seres mitológicos em movimento (foto: José Luiz Perderneiras/Divulgação)
As estreias são sempre arriscadas. No entanto, em 'Triz', novo balé do Grupo Corpo, o risco permanece. A coreografia de Rodrigo Pederneiras para a trilha original de Lenine se mantém na cabeça do espectador depois do espetáculo terminado. De certa maneira, quem estreia é o público: 'Triz' obriga a repensar o que todos achavam que sabiam de dança, de música e do Corpo.


Alguns elementos ajudam a definir este espetáculo: a trilha com 10 temas arranjados para instrumentos de cordas, sempre trabalhados na forma de variação (com espelhamentos, inversões e mudanças de ritmo constantes); a contenção da caixa cênica numa falsa geometria limitada por cabos de aço, que compõem a parede ao mesmo tempo sólida em sua textura e vazada pela luz; os movimentos inovadores, que incorporam ao repertório e à gramática da companhia a criação coletiva dos bailarinos; os figurinos com malhas em preto e branco coladas ao corpo, segmentado longitudinalmente, “dividindo” o bailarino ao meio e criando, com o movimento, a ilusão de novos seres mitológicos paridos pelo movimento.


A soma do trabalho de Rodrigo Pederneiras (coreografia), Lenine (música), Paulo Pederneiras (cenografia e iluminação, esta com Gabriel Pederneiras) e Freuza Zechmeister (figurino), aliada à interpretação dos bailarinos, poderia resumir um grande espetáculo. Sem dúvida, é. Mas tem mais.


'Triz' tem identidade própria, que dialoga com a história do grupo, mas incorpora elementos originais que desafiam o espectador. O primeiro deles é a mescla, quase impossível, de caos e ordem. O coreógrafo foi longe em sua ousadia ao misturar tempos e formações, com duos e trios criados e desmanchados o tempo todo. Os conjuntos se deslocam lateralmente, dando sensação de bidimensionalidade, para depois explodir em outras configurações de volume e espaço.


O cartesianismo vicário da estrutura do palco, que poderia ser pensado como o mecanismo interno de um grande instrumento, faz bailarinos se moverem como objetos que se entrechocam e interferem na sonoridade. Convoca-se o olhar de quem a assiste a buscar nova ordem na aparente desordem. Na vida não há puro caos ou cosmos, mas “caosmos”.

Outro elemento é a sensação de momento decisivo, que alude ao conceito de 'Triz': a aceitação dos limites e do risco em enfrentá-los. Há momentos em que a contagem dos compassos vaza da trilha para o palco e em que aquilo feito atrás do cenário se revela mais essencial que a cena. Essas passagens sintetizam toda a busca do espetáculo, que vai se construindo como um risco permanente aos olhos do público.


'Triz' não tem medo de enfrentar barreiras. É um exercício de coragem. Para o público que costuma esperar a perfeição, o Corpo foi adiante.

 

TRIZ
Local: Palácio das Artes
Endereço: Av. Afonso Pena, 1.537, Centro

Informações: (31) 3236-7400
Segunda-feira, 21h (sessão extra); terça-feira, 20h30 (ingressos esgotados)

Ingressos: R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia)

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