Montagem premiada 'Vestígios' chega aos palcos de BH neste fim de semana

Torturadores e torturado vivem clima de suspense na peça, que tem direção de Antonio Cadengue

por Sérgio Rodrigo Reis 16/08/2013 00:13

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Américo Nunes/Divulgação
Teatro de Amadores de Pernambuco faz turnê em BH (foto: Américo Nunes/Divulgação)
O desafio inicial dos atores pernambucanos Carlos Lira, Marcelino Dias e Roberto Brandão foi mergulhar no universo da dor, dos conflitos e dos pesadelos presentes no texto do escritor Aimar Labaki para, então, buscar significados e simbolismos para novo projeto. Depois de intensa imersão, veio o resultado: o espetáculo Vestígios, montagem dirigida por Antonio Cadengue e vencedora do prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz em 2012. A peça, que cumpre curta temporada no Galpão Cine Horto desta sexta a domingo, também vem acompanhada de palestra sobre a pesquisa desenvolvida pelo Teatro de Amadores de Pernambuco (TAP).

A tortura foi o ponto de partida para a construção da dramaticidade inspirada em passagens marcadas por violência física. No enredo, apenas três personagens: dois policiais, na função de investigadores e torturadores, vividos por Carlos Lira e Marcelino Dias; e um professor universitário de história – o torturado, interpretado por Roberto Brandão, que se vê numa situação inesperada e angustiante depois de acordar ao lado da cabeça decepada de uma mulher. O suspense conduz a narrativa a um final que, durante a temporada em Recife, surpreendeu a plateia pelo desfecho.

Vestígios trata do rescaldo, do resíduo dos tempos de autoridade recentes vividos no Brasil, entre os anos de 1964 e 1985. Para o diretor, não é a ditadura que está em questão, mas os erros do passado e as lições para o presente e o futuro. Segundo ele, a intenção não é deixar o público atordoado, mas sim, mexer com a memória das pessoas falando de hoje, ontem e amanhã de forma intensa.

Para chegar ao resultado sem ser piegas, o empenho do elenco foi fundamental. Todos se envolveram numa pesquisa além do texto. Foram atrás de noticiários de várias épocas, tanto do período da ditadura, quanto das décadas seguintes, à procura dos reflexões e dos traumas daqueles tempos. Com o material levaram à cena mensagem que, em síntese, não busca apagar o passado. Pelo contrário. A intenção é reconciliar com aquele momento para, enfim, tentar algum tipo de redenção.

O diretor Antonio Cadengue explica que há por trás do texto a questão da perversidade humana. “O que tentamos foi construir um espetáculo que respondesse a uma espécie de gozo proibido do torturador em relação ao torturado.” Para ele, as marcas daquele tempo ainda são muito presentes. “É grave.” Cita, por exemplo, o recente desaparecimento do servente de pedreiro Amarildo de Souza, no Rio, depois de abordagem policial como algo emblemático. “A peça foi escrita no começo dos anos 1990 e encontra ressonância nessa esquizofrenia que é a sociedade brasileira”, conclui.

Vestígios

Sexta e sábado (16 e 17), às 21h; domingo, às 19h. Galpão Cine Horto, Rua Pitangui, 3.613, Horto. Duração: 60 minutos. Classificação: 18 anos. Ingressos: R$ 20 (Inteira).

Palestra

Neste sábado, às 19h, haverá encontro com Antonio Cadengue, do Teatro de Amadores de Pernambuco, na sala de cinema do Galpão Cine Horto. Entrada franca. Informações: (31) 3481-5580 e www.galpaocinehorto.com.br.

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