Projeto Improvisos dá liberdade a músicos e bailarinos para criar o próprio espetáculo

Até dezembro, artistas compartilharão experiências e intuições no Teatro Klauss Vianna, em BH

por Walter Sebastião 30/07/2013 06:00

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Arquivo pessoal
(foto: Arquivo pessoal)
Dança e música criadas diante do espectador por artistas que têm o direito tanto de trabalhar e afinidades quanto a discordar e até buscar outros rumos para o diálogo. Esses princípios regem os cinco espetáculos do projeto 'Improvisos', que ocupará o Teatro Oi Futuro Klauss Vianna, em Belo Horizonte, até novembro.


A primeira apresentação, que poderá ser conferida nesta terça-feira, reúne o pianista Marcos Souza (idealizador do projeto), o percussionista Paulo Santos, a cantora Flávia Enne e o Grupo de Dança 1º Ato. Nem adianta perguntar a eles o que vai surgir desse “coletivo”. A resposta é: tudo.

Marcos Souza adianta apenas que Improvisos guarda a emoção e o sentimento dos encontros. “Não combinamos nada. Só vamos nos reunir nas tardes dos dias dos espetáculos para conversar, sentir o feeling de cada um e combinar marcações sobre a ordem de entrada. Um projeto assim só rende quando os participantes têm repertório, bagagem”, observa Marcos.

O anfitrião, por exemplo, conta que se valerá “de alguns ambientes musicais” que criou nos últimos anos. Mas os momentos em que eles surgirão dependerão do andamento do espetáculo.

Ter pesquisa que enriqueça o jogo do improviso foi um dos critérios usados por Marcos para selecionar os convidados. “Fiquei feliz com a receptividade de todos”, comemora ele, ressaltando o repertório “interessante e maduro” dos colegas. Assim é, por exemplo, com o Grupo 1º Ato – companhia de dança mineira respeitada nacionalmente e conhecida por seu gosto pela ousadia.

Paulo Santos traz o virtuosismo técnico e a busca de novas sonoridades do Uakti, grupo musical do qual é um dos fundadores. A cantora Flávia Enne, que Souza conheceu na Espanha, é também bailarina, trabalha com a estética afro, tem voz bonita e promete levar “sons estranhos” para o palco.

A soma de artistas dispostos a improvisar coletivamente potencializa as percepções, acredita Marcos. “O bailarino aguça a escuta e o músico, que toca de cabeça baixa, abre os olhos para o movimento”, explica. Cabe ao público acompanhar passo a passo desse processo. Às vezes, tudo ocorre com tamanha fluência que suscita dúvida sobre se aquilo realmente não foi combinado. “É o encanto da observação do diálogo entre os elementos”, diz o pianista.

Marcos avisa: projetos dedicados a encontros de músicos e bailarinos são raros. Isso se deve à falta de verbas, mas essa carência dificulta também eventos com música ao vivo, lembra o pianista.

PROJETO IMPROVISOS

Com Marcos Souza (piano), Paulinho Santos (percussão), Flávia Enne (voz) e Grupo 1º Ato (dança). Hoje, às 20h. Teatro Oi Futuro Klauss Vianna, Avenida Afonso Pena, 4.001, Mangabeiras,
(31) 3229-3131. Ingressos: R$ 15 (inteira) e R$ 7,50 (meia-entrada).


Personagem da notícia

Angel Vianna -
Coreógrafa e bailarina

A madrinha


A professora e coreógrafa Angel Vianna é a madrinha de Improvisos. Ano passado, na primeira edição do evento, ela foi homenageada por Marcos Souza e seus convidados. “Estar no palco é estar vivo, em presença da vida. É alegria de viver, trabalho com arte e pela arte”, resume Angel, de 85 anos (foto). Receber essa homenagem é mais que especial para ela, bailarina em atividade. A artista belo-horizontina era antiga conhecida do compositor e violonista Chico Mário, pai do idealizador de Improvisos. Angel dançou músicas compostas por ele, vendia seus discos e se tornou amiga de seus filhos, Marcos e Karina.

“A vida social e artística nos aproximou. Nunca mais nos separamos”, conta ela.
Pioneira da dança em BH, Angel se mudou para o Rio de Janeiro com o marido, o bailarino e coreógrafo Klauss Vianna, na década de 1960. Naquela época, os irmãos Chico Mário, Henfil e Betinho também moravam na capital mineira. Como o casal, eles se radicaram na capital fluminense.Angel conta que Marcos, com 10 anos, ia à sua casa buscar o dinheiro da venda dos discos do pai. “Chico Mário fez música profunda e com emoção. O mundo não pode viver sem arte. Sem ela não há vida”, reforça. A diretora Cristina Leal está rodando um documentário sobre a trajetória de Angel. A trilha sonora, claro, terá músicas de Chico Mário.

Coisa de família

Marcos Souza, curador do projeto Improvisos, é filho do compositor Francisco Mário de Souza (1948 –1988), irmão do sociólogo Herbert de Souza (1935 –1997), o Betinho, idealizador do Programa Fome Zero, e do cartunista Henrique de Souza Filho (1944 –1988), o Henfil.

Conhecido pela militância contra a ditadura militar e por suas atividades intelectuais e artísticas, o trio Souza comoveu o país. Hemofílicos, os irmãos contraíram o vírus HIV por meio da transfusão de sangue. Morreram de Aids.

“O bacana é que os três fizeram muito pelo Brasil. Eram pessoas simples, falavam com simplicidade, e por isso se comunicavam bem. Sofreram muito, mas tinham enorme felicidade de viver. O amor deles à liberdade, à cultura brasileira e à esperança de um Brasil mais justo me contaminou”, revela Marcos. Chico Mário, Henfil e Betinho foram tema do documentário Três irmãos de sangue, dirigido por Ângela Patrícia Reiniger e lançado em 2006.

O pianista Marcos Souza discute com a Orquestra Ouro Preto um projeto sobre os três irmãos, com músicas de Chico Mário.


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