O Teatro para Todos, que já levou quase 500 mil espectadores ao Teatro Kleber Junqueira, em sua maioria crianças e adolescentes que estudam da rede pública de BH e 17 cidades da região metropolitana, é um projeto que visa principalmente à formação de plateias. As sessões têm preços acessíveis, praticamente todos os dias da semana e nos turnos da manhã e tarde e às vezes até à noite. “Já tivemos cinco sessões no mesmo dia”, ressalta o diretor de produção e também sócio da Associação Móbile Éder Paulo. “E inclusive, bem cedo, tipo sete, oito da manhã. Aqui não para, e quando ameaçamos fechar, porque não é fácil manter praticamente sem patrocínio, as pessoas nos cobram. Isso é bem bacana”, comemora.
Boa alternativa Apesar de o foco serem as escolas, a bilheteria também é aberta ao público em geral, que acaba tendo mais uma opção de entretenimento em horários alternativos. “Tem gente que fica com receio de ir ao teatro à noite e aqui tem encenações já pela manhã. E fora que ainda estamos longe do Centro da cidade, o que é algo raro, mas localizados perto de duas importantes vias de acesso: a Amazonas e a Via Expressa. Na verdade, isso nunca foi um problema”, observa Éder Paulo.
Boa parte dos espectadores do Teatro Kleber Junqueira acaba tendo contato com as artes cênicas pela primeira vez justamente no espaço no Calafate. O diretor de produção lembra que, além de entreter, as montagens abordam temas relevantes da vida social. “Os espetáculos têm um cunho pedagógico. 'A Bela e a fera', por exemplo, trabalha questões como bullying e o respeito às diferenças, enquanto 'O descobrimento' traz história, geografia e a formação da identidade brasileira. A gente se preocupa com isso também. Fazemos questão de apresentar algo de qualidade. Nosso próximo projeto, 'Pássaro de fogo', será uma megaprodução e vai tratar da ecologia”, acrescenta.
E são as reações do público que mais emocionam Kleber Junqueira e Éder Paulo. Eles comentam que não é fácil cativar o público jovem, ainda mais com tanta opções de diversão, como computador e televisão. E mais que tudo, carregam a responsabilidade de fazer algo de qualidade. “A gente tem que surpreender o tempo todo. Tirar um coelho da cartola por dia. Mas o ao vivo é muito forte e o impacto que provoca nas pessoas é grande. As crianças, os adolescentes e os adultos ficam encantados, tanto é que vários voltam e alguns até pensam em se dedicar ao nosso ofício. Nossa preocupação é fazer com que as pessoas amem o teatro. E isso acontece aqui. Todos saem tocados”, frisa Kleber Junqueira.
E pelo visto, não é só a plateia que fica encantada. Toda a equipe de produção do grupo de teatro se sente extremamente orgulhosa e satisfeita com o que faz. Kleber Junqueira salienta que realmente não tem sido fácil manter o espaço durante tanto tempo e que todos têm uma relação operária com a arte. “Foi uma luta e ainda é. Estamos aqui todos os dias, ralando, mas amamos o que fazemos. E isso é muito importante. Ter prazer no que faz e poder compartilhar isso. É como se o teatro fosse um colchão de felicidade pra gente porque dá uma amortecida nas dificuldades”, conclui.
Memória
Antigo Cine São José
Em 16 de maio de 1942, era inaugurado, no Bairro Calafate, o Cine São José (foto), que chegou a ter 780 lugares e exibiu durante mais de 40 anos os mais variados tipos de filme. Em fevereiro de 1980, o espaço foi fechado e desde então já foi academia e boate, até finalmente, em 2004, se transformar no Teatro Kleber Junqueira. “Eu estava de olho em um galpão na Nova Suíça e foi quando soube que esse lugar, que pertence à família do Antônio Luciano, estava desativado. Na época, o proprietário até brincou comigo que nada aqui dava certo. Mas eu decidi apostar, arrendei e fiz uma reforma completa. Entramos até com trator e tiramos cerca de 100 caçambas de terra daqui só para fazer a inclinação do palco. Não tem sido fácil, mas vale a pena”, resume Kleber Junqueira.
Na ponta do lápis
15 de janeiro de 2004 foi a data de inauguração do novo espaço
484 lugares é a capacidade do Teatro Kleber Junqueira
45 mil pessoas garantiram sua média anual de ocupação