“A gente está muito ansioso com tudo. Parece a primeira vez, dá aquele frio na barriga. Nem durmo direito”, revela o diretor da remontagem de Toda nudez será castigada que fará curtíssima temporada, de quinta-feira ao dia 28, no Teatro Bradesco, em Belo Horizonte. Para se ter ideia do clima de “pré-estreia”, Kalluh passava betume na bengala de um dos personagens, enquanto conversava com o repórter.
Protagonizada por Amauri Reis (Herculano), a peça conta com os atores Cleo Carmona (Geni); Paulo Rezende (Patrício); Bruno Leonel (Serginho); Juçara Costa, Jaqueline Francisco e Angélica Pedrosa (as tias); e Leandro Ramos (delegado e médico).
Em Toda nudez..., Nelson aborda temas como a obsessão e a hipocrisia. Chefe de uma típica família conservadora, com suas tias faladeiras e beatas, Herculano fica viúvo com um filho para criar. Serginho faz o pai prometer que nunca mais vai se casar. Patrício, irmão de Herculano, endividado com jogo e mulheres, consegue apresentá-lo à prostituta Geni, por quem o patriarca se apaixona.
Geni vive a agonia e o êxtase de uma obsessão: morrer de câncer no seio. Contra tudo e contra todos, Herculano se casa com ela, mas a ex-prostituta se apaixona pelo enteado e se vê no centro de uma tragédia familiar.
A versão que estreará na quinta-feira é fidelíssima ao texto original, promete Kalluh. O público assistirá à peça de Nelson Rodrigues com pouquíssimos cortes. “Só fizemos aqueles que não doíam no coração”, antecipa o diretor.
Vigor renovado
O diretor Kalluh Araújo faz sua quarta incursão no universo rodriguiano. Ele já encenou A serpente, Perdoa-me por me traíres e, mais recentemente, A mulher sem pecado.
“Nos anos 1980, ainda havia muita ilusão herdada da década de 1970. Com o advento da Aids, no entanto, tudo se tornou mais careta”, compara.
Para Kalluh, a obra de Nelson Rodrigues acabou ganhando mais vigor com o decorrer do tempo: “Hoje ela bate como se fosse um soco no estômago”. A maestria do dramaturgo talvez esteja exatamente no fato de sua obra ficar cada vez moderna com o passar dos anos, acredita ele.
Da estreia profissional com um texto de Anton Tchekhov à nova montagem de Nelson Rodrigues, o diretor mantém acesa a marca autoral de seu trabalho, que, mesmo em contato com os clássicos, não consegue se desvencilhar da contemporaneidade.
CARREIRA
Ao longo de sua carreira, Kalluh Araújo recebeu nada menos de 68 prêmios. O diretor estudou com nomes importantes do cenário cultural mineiro, como o dramaturgo e escritor Alcione Araújo (tragédia grega), o bailarino Carlos Leite, Roberto Fadel (música) e Paulo César Bicalho (interpretação). Com as argentinas Diana Rinquel e Sonia Dayrell, Kalluh aprendeu técnica do corpo para teatro. Em 1987, ele se formou na escola de teatro do Palácio das Artes.
Serviço:
TODA NUDEZ SERÁ CASTIGADA
Teatro Bradesco, Rua da Bahia, 2.244, Lourdes. De quinta-feira a sábado, às 21h; domingo, às 19h. Informações: (31) 3226-9806 e www.todanudezseracastigada.com.br.