Além da música, projetos independentes e coletivos atuam em BH nas áreas de artes visuais, teatro e cinema.

Casa Fora do Eixo se expande para cidades de outros estados

por Ailton Magioli 07/07/2013 00:13

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Maria Tereza Correia/EM/D.A Press
O compositor Leandro Cesar pesquisa e constrói instrumentos musicais para o grupo Diapasão em seu ateliê instalado na Casa Azul (foto: Maria Tereza Correia/EM/D.A Press)
Ateliê de pesquisa e produção audiovisual independente, composto atualmente pelo artista gráfico Davi Fuzari, o videoartista Marco Antônio Gonçalves e a designer gráfica Mariana Fonseca, o Laboratório Filmes, vizinho do Galpão Cine-Horto, funciona de forma colaborativa, desenvolvendo trabalhos na área de vídeo e cinema, passando por teatro. “O coletivo ainda é uma coisa muito nova, que está sendo construída”, avalia Davi.

“Acaba que a gente faz um trabalho igual ao de uma empresa, porém de forma horizontal, por meio da qual você tem de ceder muito. Afinal, cada um tem uma ideia de projeto, gerando um produto de características variadas”, acrescenta o artista.

O próprio batismo do coletivo como laboratório já visava a ideia de um espaço de variadas nuances e constantes modificações. “Como o investimento inicial foi muito grande, agora já estamos conseguindo quitar dívidas e ter retorno do trabalho”, acrescenta o artista gráfico. Ele lamenta, no entanto, o fato de a maioria dos coletivos terem se tornado, segundo diz, “reféns das leis de incentivo” que, mesmo consideradas boas, estão com formato engessado, que necessita ser repensado.

O acesso facilitado à tecnologia, por exemplo, tem levado muito gente para a área de vídeo, na opinião de Davi Fuzari, contribuindo para inflar o mercado. Diante disto, o artista gráfico admite certa dificuldade de atuação, superada diante da longa experiência no setor.

Além do projeto de um documentário sobre a nova produção musical belo-horizontina, ele deverá dirigir outro longa-metragem sobre o projeto Cavalo motor, que levou o cantor e compositor Makely Ka a percorrer o sertão mineiro de bicicleta. Paralelamente, Davi desenvolve trabalho de contação e resgate de histórias com o grupo Abra Palavra, no qual faz pesquisas e ministra oficinas.

Instrumentos

O músico e compositor Leandro César, do Grupo Diapasão, um dos moradores da Casa Azul, no Carlos Prates, mostra que há outras vertentes no trabalho do coletivo. Discípulo de Marco Antônio Guimarães, ele segue a trilha do mestre criador dos instrumentos do Uakti e trabalha em sua oficina no mesmo endereço onde funcionam os estúdios de som e imagem da residência coletiva.

De sua pesquisa surgiram ideias e projetos criados a partir da vivência com outros artistas, que se desdobraram em novos instrumentos musicais que dão a personalidade aos grupos com os quais colabora. Tudo isso, é claro, em meio às demandas do dia a dia.

Juntos para ir mais longe

Cubo (Cuiabá), Goma (Uberlândia) e Catraia (Rio Branco) foram responsáveis pelo surgimento da maior rede de coletivos de que se tem notícia no Brasil, com direito a incursões inclusive na América Latina. “Hoje são cerca de 3 mil pessoas envolvidas diretamente na rede Fora do Eixo, que trabalha tanto na área de cultura quando na de comunicação”, afirma Talles Lopes, gestor da Casa Fora do Eixo, que, além de Belo Horizonte, foi instalada em Uberlândia, Juiz de Fora, Fortaleza e São Paulo.

A manutenção do grupo, que adota sistema diferente de sobrevivência, se dá por meio de ações e projetos de incentivo fiscal, além de prestação de serviços. “Temos modelo de gestão diferente, com a adoção de caixa coletivo e moedas complementares”, acrescenta Tales, ao lembrar que a base econômica da rede não adota o modelo convencional. “A gente fala que se banca porque tem 3 mil pessoas trabalhando nesta rede.”

Além de se inscrever nos inúmeros editais publicados país afora, o coletivo presta serviços nas áreas de acompanhamento e produção cultural, design e vídeo, entre outros. O grupo trabalha ainda com narrativas independentes de jornalismo e ação, cobrindo, por exemplo, via internet, manifestações como a Ocupa Câmara.

“Os coletivos sempre tiveram importância na vanguarda cultural brasileira”, avalia o gestor da Casa Fora do Eixo de BH, lembrando que, além da música independente, os coletivos ligados à rede participaram da luta pelas recém-aprovadas mudanças do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad). “Os coletivos já não estão preocupados apenas com a criação artística. Hoje eles têm consciência da necessidade de pensar a cultura como tema central de entendimento da sociedade”, garante Talles Lopes.

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