Espetáculo 'La verità', da Companhia Finzi Pasca, chega a Belo Horizonte este fim de semana

Cia mistura circo e teatro na montagem em homenagem ao surrealismo

por Carolina Braga 05/07/2013 06:00

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Viviana Cangialosi/Divulgação
(foto: Viviana Cangialosi/Divulgação)
Daniele Finzi Pasca avisa: é uma teoria bastante pessoal. Para o diretor suíço, radicado no Canadá, os artistas podem ser divididos em duas famílias, a dos cítricos e dos florais. “Os cítricos são criadores que necessitam da dor da pressão para dar um caldo. É como uma laranja que você tem que espremer. Os florais são como orquídeas. Você tem que dar condições perfeitas para ela florescer”, explica. Daniele Finzi Pasca é um floral convicto e daqueles que sai distribuindo gentilezas por aí. 'La vertità', espetáculo da Companhia Finzi Pasca em cartaz no Grande Teatro do Palácio das Artes é prova disso.


Embarcando ainda mais na metáfora, a trupe liderada por ele e que subirá ao palco a partir de hoje é praticamente um jardim. 'La verità' tem em sua essência busca legítima sobre o que é verdade quando se trata de uma cena teatral. Mesmo que seja algo restrito aos bastidores, diante do público, atores, bailarinos, acrobatas, cantores e palhaços deixam transparecer o quanto aquilo é mesmo fruto de delicadeza. Ponto para a percepção de Daniele.

“Ele escolhe muito bem as pessoas com quem vai trabalhar. É preocupado com isso: quem está selecionando. Nunca faz casting. Conhece as pessoas. Tem um feeling”, conta a atriz brasileira Beatriz Sayad, integrante do grupo há 20 anos. Com 12 artistas vindos também do Canadá, Argentina, França, Itália, Austrália, Espanha, Paraguai e Suíça no elenco, 'La verità' se desenrola como um tradicional espetáculo circense, embora se passe dentro de um teatro. Aliás, é clara mistura desses dois universos.

São múltiplas as referências que você reconhecerá no palco. A mais explícita delas – e também o grande diferencial do show – é a homenagem ao pai do surrealismo, Salvador Dalí. O principal elemento de cena em 'La verità' é o painel 'Tristão e Isolda', obra original do pintor criada para um balé do Metropolitan de Nova York, em 1944.

Quando começou a criar a nova montagem, nem de longe Daniele Finzi Pasca pensou em abordar qualquer coisa ligada ao surrealismo. Muito menos usar um exemplar verdadeiro em cena. Foi por acaso, durante uma festa, que os diretores de uma associação – cujo nome é mantido em segredo – deram essa chance a ele. Abandonada há quase 60 anos, a tela de 'Tristão e Isolda' acabara de ser restaurada e os novos donos consideraram que o verdadeiro lugar dela seria em um teatro e não em um museu. 'La veritá' transformou-se a partir desse irrecusável convite.

Como é próprio do universo circense, ou melhor, do teatro acrobático como Finzi Pasca gosta de chamar, o espetáculo não tem uma historinha com princípio meio e fim. A “trama”, se é que podemos chamar assim, gira em torno de dois palhaços escalados para leiloar a pintura. Eles são os responsáveis por ligar tanto o público ao trabalho de Dalí, como também, aos demais números da peça.

Por que ver

>> Ao passar por Belo Horizonte no FIT-BH 2010, a Companhia Finzi Pasca deixou muito boa impressão com 'Donka – uma carta a Checkov'. Ainda que os espetáculos sejam totalmente diferentes, vale acompanhar o desenvolvimento do repertório do grupo.


>> Daniele Finzi Pasca é um diretor que deve ser acompanhado de perto. Além dos trabalhos na própria companhia, tem despertado interesse mundial de outros grupos. Por exemplo, 'Corteo', montagem do Cirque du Soleil que desembarca em Belo Horizonte em 19 de setembro, também leva a assinatura do suíço. Outra empreitada de peso são as cerimônias dos Jogos Olímpicos de Inverno na Rússia.


>> Não é todo dia que se tem a oportunidade de estar diante de uma tela original de Salvador Dalí. Só contemplar o trabalho do mestre catalão já vale o ingresso.


>> 'La verità' não conta nenhuma história sobre Salvador Dalí, mas vale ficar atento às inúmeras referências à obra dele que aparecem ao longo do espetáculo. Desde as luminárias em formato de ovo – o catalão tinha fascínio com esse formato – até uma crítica às touradas espanholas.


>> A mistura de linguagens é outro destaque do espetáculo. Ao mesclar vídeos, sombras e efeitos de iluminação, Daniele Finzi Pasca cria imagens belíssimas. Preste atenção na cena da tourada e também a dos espirais com rinocerontes.

 

Viviana Cangialosi/Divulgação
(foto: Viviana Cangialosi/Divulgação)
Aéreas e terrestres

 

Ao longo de duas horas e 50 minutos, os artistas de formações diversas se revezam em apresentações áreas e terrestres. Entre uma e outra cena, os irreverentes mestres de cerimônia acrescentam graça ao que poderia ter um tom sério. Dentre as técnicas que mais chamam a atenção em 'La veritá', estão a da circunferência toda doidona e também uma sinfonia a partir de taças de cristal. Todas elas adornadas pelas belas imagens elaboradas por Daniele Finzi Pasca.


Na primeira vez que esteve em Belo Horizonte com o espetáculo 'Donka – uma carta à Checkov', o suíço já chamou a atenção com o jogo de sombras, a movimentação em cena e o uso de imagens. Em 'La verità' percebemos que tudo isso faz parte da linguagem que o diretor vem construindo. A diferença é que a cada nova atração explora outras nuances. O negócio de Daniele Finzi Pasca é testar o limite da sobreposição.


Filho, neto e bisneto de fotógrafos, ele nunca dispensou o poder do visual em suas montagens. Desta vez, tendo o surrealismo como homenageado, o diretor potencializa sua própria tradição. Segundo ele, a primeira vez que se deparou com 'Tristão e Isolda' se perguntou: a obra de Salvador Dalí é noturna ou solar? À medida que pesquisou a piração do pintor, concluiu: se é que existe um significado, ele está no campo dos sonhos.


A junção do universo de Dalí com o teatro acrobático de Daniele deu liga, ainda que ela não seja tão tradicional. Ou seja, não é nem teatro e nem circo. Está bem no meio disso aí. “O gesto acrobático tem um valor interno que permite contar – ou fazer alusão – a coisas difíceis de explicar. Por exemplo, se você vai a um espetáculo dessa natureza em um circo, há quem se impressione com o malabarismo e outros que não. Mas, com certeza, serão tocados por algo dali. O surrealismo tem essa coisa estranha, essa superposição de planos, sonhos que se concatenam, que se cruzam”, explica Daniele Finzi Pasca.

 

A obra de arte


Com 15m de largura por 9m de altura, 'Tristão e Isolda' requer cuidados especiais em cada parada da turnê. A montagem requer pelo menos 10 profissionais no transporte da tela para o palco. Um deles tem a função exclusiva de observar as condições de conservação da pintura. 

 

LA VERITÀ
Apresentação do espetáculo da Companhia Finzi Pasca, nesta sexta-feira, às 21h; sábado, às 15h e às 21h; domingo, às 21h. Grande Teatro do Palácio das Artes. Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro, (31) 3236-7400. Ingressos: plateia 1: R$ 250 (inteira) e R$ 125 (meia); plateia 2: R$ 170 (inteira) e R$ 85 (meia); plateia superior: R$ 135 (inteira) e R$ 67,50 (meia). Venda on-line: www.ingresso.com.br.

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