João Barone lança em BH livro sobre os mitos que envolvem a participação do país na Segunda Guerra

Baterista do Paralamas do Sucesso é filho de pracinha da Força Expedicionária Brasileira

por Ana Clara Brant 24/06/2013 06:00

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Sérgio Carneiro/Divulgação
A guerra é uma experiência bastante extremada. Você vai pra lá e não sabe o que o espera. Por isso, é sempre importante reconhecer o sacrifício dessas pessoas, João Barone, escritor e baterista dos Paralamas do Sucesso (foto: Sérgio Carneiro/Divulgação)
Em meio à turnê de comemoração dos 30 anos dos Paralamas do Sucesso, o baterista João Barone encontra tempo para finalizar seu segundo documentário, 'O caminho dos heróis', focado na lembrança que os italianos têm dos brasileiros que lutaram na Segunda Guerra, e ainda promove seu mais recente livro: '1942: o Brasil e sua guerra quase desconhecida' (Nova Fronteira). O lançamento será segunda-feira à noite, na Livraria Leitura do BH Shopping. Fascinado pelo assunto, em parte pelo fato de seu pai, João de Lavor Reis e Silva, ter sido um dos 25 mil pracinhas da Força Expedicionária Brasileira (FEB), Barone traz à tona mais uma vez esse episódio marcante da história.

O músico e escritor explica que, diferentemente de sua primeira publicação, 'A minha segunda guerra' (2009), essa tem abordagem direcionada a tudo o que envolveu o Brasil no conflito. A obra é fruto de décadas dedicadas à pesquisa – tanto bibliográfica quanto de campo, percorrendo os mesmos cenários desbravados por nossas tropas –, mas não tem o objetivo de ser um tratado histórico.

Voltado aos mais variados tipos de leitores, o livro reúne parcela significativa do que de mais importante é sabido sobre a participação do Brasil na Segunda Guerra – levando em conta desde o relato de um pracinha às versões dos militares de alta patente, sem deixar de lado os mais recentes estudos acadêmicos.

“Tentei seguir mais ou menos o roteiro dos livros de jornalismo histórico e me inspirei muito no Eduardo Bueno, que acabou fazendo a orelha do meu livro, e no Laurentino Gomes. Foi um desafio sintetizar todos aqueles acontecimentos em 300 páginas. Mas é um assunto que deve ser conhecido, estudado e valorizado. Ele explica muito o Brasil e todos o seus antagonismos”, opina.

João Barone ressalta que há muitos mitos sobre a nossa participação nesse embate, e que muita gente nem gosta de lembrar muito do assunto. Para o autor, o fato de esse acontecimento ter um verniz militar e ser associado a eles, ainda mais em uma nação que viveu uma ditadura, pode explicar um pouco esse distanciamento.

Até mesmo quem participou ativamente não gosta muito de abordar o tema. “Meu pai mesmo sempre escondeu as histórias de sua passagem por lá. Era muito reservado e a gente sempre o viu como um herói silencioso. Mas isso era algo comum entre os ex-combatentes, não só do Brasil, como também de outros países. A guerra é uma experiência bastante extremada. Você vai pra lá e não sabe o que o espera. Por isso, é sempre importante reconhecer o sacrifício dessas pessoas. Eles merecem todo nosso respeito e consideração”, acrescenta.

Legado

O escritor lembra que a Segunda Guerra deixou um legado e lições ao Brasil, e quase 70 anos depois ainda deixa seus resquícios. “O conflito teve desdobramentos importantes pra gente. Foi o momento em que o Brasil entrou no bonde da modernidade da época. A gente viu a ditadura Vargas acabar, a democracia voltar e, em contrapartida, tivemos esse alinhamento grande com os norte-americanos que financiaram nossa industrialização. O Brasil ajudou a pôr um tijolinho na parede dessa história”, frisa.

Uma das imagens mais interessantes de '1942: o Brasil e sua guerra quase desconhecida' é a foto de pracinhas embarcando nos navios rumo ao conflito carregando pandeiros, cuícas e violões. Mesmo indo em direção a um futuro incerto, é uma prova do espírito e da índole de nossos compatriotas. “Os ex-combatentes brincam e costumam justificar dizendo que era a certeza da vitória”, comenta João Barone.

No entanto, o autor destaca que isso não significa que nossos soldados não tinham compromisso com a guerra e diz que o complexo de vira-lata do brasileiro sempre o atrapalhou. “Quando o brasileiro precisa, ele é bom de briga. Um dos mitos é de que a nossa participação na guerra foi sem importância e pequena. Se analisarmos numericamente, esse extrato de 25 mil pessoas até era, comparando com outros países, pequeno. Mas, só para se ter uma ideia, durante os nove meses de ação, morriam três homens por dia. É uma estatística considerável e assustadora. O brasileiro chegou à guerra e rapidamente se adaptou ao cenário de combate. Ele soube, sim, cumprir o seu papel”, enfatiza.

Documentário


No segundo semestre, João Barone lançará o segundo documentário de sua carreira – o primeiro foi 'Um brasileiro no dia D' (2006). Rodado na Itália, 'O caminho dos heróis' foca na lembrança que os italianos têm dos brasileiros que passaram por lá. Barone mostra como os italianos veem, hoje em dia, a participação do Brasil na guerra. Ele diz que até hoje, na Itália, onde o Brasil lutou, existe um respeito pelo nosso povo. “De todas as nacionalidades, os brasileiros foram os que deixaram a marca sentimental mais forte por lá. São os mais lembrados. Sempre procuraram ajudar a população local no que podiam, e não tinham uma postura fria e pragmática como os demais”, revela o diretor.

Reprodução
(foto: Reprodução)
1942: O Brasil e sua guerra quase desconhecida

Lançamento do livro de João Barone, nesta segunda-feira, às 19h. Livraria Leitura do BH Shopping (BR-040, Belvedere). Preço: R$ 39,90.

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