Luc Ferry defende os valores do humanismo e da espiritualidade laica

Ex-ministro da Educação de seu país, o filósofo é otimista em relação à globalização

por João Paulo 22/06/2013 07:00

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Eric Piermont/AFP
Autor do best-seller filosófico Aprender a viver, o pensador francês Luc Ferry faz palestra hoje a estética do prazer, em Tiradentes (foto: Eric Piermont/AFP)
O pensador francês Luc Ferry é um homem otimista. Enquanto o cenário intelectual parece se afundar num mar de queixas sobre o esvaziamento dos valores do mundo contemporâneo e acerca da crise europeia, ele prefere celebrar a boa vida. Para o filósofo, autor de obras como A revolução do amor e Aprender a viver, nunca estivemos em melhor situação: a democracia é um valor universal, as mulheres são respeitadas como nunca antes na história e as conquistas das políticas de seguridade dos países desenvolvidos se tornaram modelo para todo o mundo.

Ex-ministro da Educação da França, entre 2002 e 2004, o filósofo é um dos mais representativos defensores do que chama de humanismo secular, uma filosofia baseada na razão, na ética e na justiça. Uma das decisões mais comentadas de sua gestão foi a proibição do uso de símbolos religiosos nas escolas francesas pelos alunos. E é com a segurança de quem defende ideias humanistas e se tornou um dos mais lidos filósofos contemporâneos, que Luc Ferry participa hoje, em Tiradentes, do Congresso de Inovação e Design da Amide, onde profere a palestra “A estética do prazer e a questão dos critérios da beleza”.

“Assim como a consciência infeliz, tão bem descrita por Hegel, nós temos a tendência de somente perceber na história aquilo que desmorona e morre, e quase nunca percebemos aquilo que surge e ganha vida”, aponta Ferry. Para ele, um dos maiores desafios do nosso tempo é perceber os sinais que mostram que atravessamos novos tempos. “Estamos vivendo o nascimento de uma nova significação, que não é mais aquela de Voltaire e de Kant, dos direitos do homem e da razão, destas luzes que certamente foram portadoras de um vasto projeto de emancipação, mas que conduziram também ao imperialismo e à colonização”, explica. Como reafirma Ferry, trata-se de um humanismo pós-colonial, “um humanismo da transcendência do outro”.

Espiritualidade laica Para explicar seu pensamento, o filósofo convida para o diálogo e pergunta: o que, no mundo de hoje, seria capaz de mobilizar as pessoas? Se, nos séculos passados, a religião e a ideologia política estavam no centro das preocupações, na sociedade contemporânea essa posição é ocupada pelo amor individual real e não pelas abstrações. “Quem, nas novas gerações, gostaria de morrer por Deus, pela pátria ou pelas revoluções?. Ninguém ou quase ninguém”, diagnostica. Para ele, só estamos verdadeiramente dispostos a um engajamento tão radical quando está em jogo outro ser humano, aqueles que amamos.

Luc Ferry também é conhecido por afirmar uma “espiritualidade laica”, uma defesa de grandes valores, mas que não passam necessariamente pelo campo da fé. Para ele, a espiritualidade de nosso tempo deve estar ligada à conquista de uma vida mais plena e realizada entre iguais. “Existem espiritualidades nas quais há deuses, as religiões, e espiritualidade sem Deus, as grandes filosofias. Mas o que nos falta hoje é uma espiritualidade laica, uma concepção da vida boa, uma visão do mundo comum que nós queremos construir juntos”, propõe.

Para quem se acostumou a ver na filosofia uma disciplina preocupada com discussões eruditas e técnicas, Luc Ferry vem respondendo, ao longo de uma obra que já alcança mais de 30 livros, que a grande questão filosófica está relacionada ao melhor caminho para alcançar o conhecimento, a felicidade e a convivência entre os homens. Para ele, viver bem é a melhor resposta que a filosofia pode dar aos grandes dilemas da existência.


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