Foi ele quem escreveu o texto do espetáculo contemplado com o prêmio Myriam Muniz 2012 para circular o Brasil. Manhã começou a ser elaborado há 13 anos, durante temporada que o diretor passou em Londres. Não chegou a ser realizado na época porque surgiram outros projetos considerados mais urgentes naquele momento. No ano passado, André Garcia percebeu ter chegado a hora de abordar as questões levantadas no estrangeiro.
Na cenografia, o diretor optou pelo neutro: apenas um piso branco e uma tela ao fundo, onde são projetadas imagens. Naquele espaço “indefinido”, os atores lembram momentos da vida a dois e deixam escapar a tensão entre os mundos interior e exterior. André Garcia diz ser partidário dos ensinamentos do mestre Jerzy Grotwski. “Se tirar figurino, cenário, ainda assim o essencial tem que ser mantido. O ator tem que dar conta de criar o universo teatral sem muletas. Queria que o espetáculo estivesse centrado na interpretação dos atores. Uma ligação com o público através do humano”, diz.
Ao casal protagonista se juntam dois atores que assumem um posto diferente na nossa tradição teatral. Eles são kokens, inspiração das artes cênicas orientais. Por lá, são criaturas vestidas de negro que entram em cena para auxiliar em trocas de roupa ou cenário. “Resolvemos fazer uma releitura dessa figura do koken, atribuindo-lhe outras funções”, conta André. No caso, outros dois intérpretes permanecem em cena, vestidos de branco.
MANHÃ
Espetáculo com o Grupo Domo de Teatro (DF), sexta-feira e sábado, às 20h; domingo, às 19h. Galpão Cine Horto, Rua Pitangui, 3613, Horto, (31) 3481-5580. Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia)
SAIBA MAIS
Grupo domo
Fundado em Brasília, em 1994, o Grupo Domo se dedica ao teatro de pesquisa. Em geral, os criadores se dedicam a questões ligadas à vida do homem, à busca do autoconhecimento. 'Manhã' é o sexto espetáculo da companhia, que também costuma se exercitar em gêneros. A primeira montagem foi 'O grito' (1995), sobre os exageros nos tratos com a fé. Em 'O grande dormitório' (1997), a proposta era refletir sobre a infinitude do ser. Já a comédia 'As lavadeiras' (1999) foi fruto de pesquisa no interior do Brasil e tratava da vida de duas lavadeiras. Na sequência, a vida e a obra do escritor Augusto dos Anjos foi abordada em 'Dos Anjos e de todos nós' (2005). 'O julgamento' (2008) tratou das mazelas do homem contemporâneo frente às estruturas complexas da sociedade e de ideias que os próprios homens constróem.