Besteirol de Miguel Falabella e Vicente Pereira volta ao palco em montagem dirigida por Ílvio Amaral e Maurício Canguçu

'As sereias da Zona Sul' entra em cartaz no Teatro Alterosa

por Carolina Braga 31/05/2013 00:13
PEDRO MOTTA ESP. EM/D. A PRESS
'Não é comédia de riso frouxo. Retrata questões como direitos humanos, diferenças entre homem e mulher, divisão de classes" - Felipe Cunha, ator. 'Não acho que funciona porque seja besteirol, mas por ser uma boa peça. Há trabalho por trás, uma maratona de ensaios" - Kayete, atriz (foto: PEDRO MOTTA ESP. EM/D. A PRESS)
O texto é considerado um clássico do chamado teatro besteirol brasileiro. Junte-se a ele a experiência da dupla Ílvio Amaral e Maurício Canguçu, na direção, combinada com a irreverência da drag Kayete e o frescor do ator Felipe Cunha. É essa a mistura de 'As sereias da Zona Sul', espetáculo com texto de Miguel Falabella e Vicente Pereira, que tem nova montagem nos palcos mineiros estreando nesta sexta-feira, no Teatro Alterosa. Com essa turma no comando, parece ser difícil não cair na risada.


Escrita em 1986, no Rio de Janeiro, a peça para dois atores destila o humor ácido e debochado, característico de Falabella, em três esquetes: “A sauna”, “As plumas de Avalon” e a que dá nome à peça, “As sereias da Zona Sul”. Em cada uma delas, Kayete e Felipe se revezam em papéis que vão de peruas falando futilidades em uma sauna, brincadeiras com iniciação esotérica de bancários gays a brigas de vizinhos.

“O mineiro gosta de comédia. É também para esquecer um pouco dos problemas. Não acho que funciona porque seja besteirol, mas por ser uma boa peça. Há um trabalho por trás, uma maratona de ensaios”, detalha Kayete. Até a estreia desta noite, foram dois meses intensos, inclusive com contratempos envolvendo saúde. Felipe Cunha foi quem teve a ideia de montar o espetáculo. “Já queria convidar o Ílvio e o Maurício para dirigir e quando o Miguel soube, reforçou que seria muito válido se realmente fossem os dois”, conta Felipe.

Também responsável pela produção, o ator ficou praticamente na cola de Miguel Falabella para obter os direitos. Conseguiu por intermédio de Jacqueline Laurence, que dirigiu a versão de estreia com o próprio Miguel e com Guilherme Karam no elenco. “É um texto gostoso. Apesar de ter sido feito na década de 1980, acho que cabe melhor agora. Não é uma comédia de riso frouxo. Retrata questões como direitos humanos, diferenças entre homem e mulher, divisão de classes. Todas  são bem mais discutidas atualmente”, comenta Felipe.

Guga Melgar/Divulgação
No palco ou nos bastidores, Ílvio Amaral e Maurício Canguçu formam dupla imbatível (foto: Guga Melgar/Divulgação)
Bem diferente Embora seja a primeira vez que a dupla dirige esse texto, a memória da trama criada por Falabella e Vicente chega a ser afetiva. Há 17 anos, os criadores de 'Acredite, um espírito baixou em mim' capitanearam a montagem de As sereias da Zona Sul em BH. Agora, Maurício faz questão de frisar que o espetáculo não tem nada a ver com a experiência do passado. “Esse tem funk, cena com a plateia, coisas que na nossa montagem não tinha. Não dá para não usar o talento e a qualidade desses artistas”, comenta Maurício.

As alterações feitas na dramaturgia se concentraram em datas e locais citados. Em comédia é assim mesmo: quanto mais próxima do espectador, melhor. Como a personagem Kayete é figura conhecida, um dos cuidados da direção foi justamente dosar o quanto da drag deveria aparecer nos outros papéis . “Na primeira cena, deixei-a ficar bem à vontade. Na segunda, já faz outro tipo. Na terceira, quando deu uma de Kayete, cortei”, conta Ílvio. “Ela é tão talentosa que faz duas mulheres completamente diferentes”, continua Maurício.

 

Improviso Com 18 anos de estrada no rádio e 20 de teatro, Kayete é um nome em ascensão nos palcos mineiros. “Ela tem um domínio total do público e do improviso”, elogia Canguçu. Ílvio Amaral concorda e diz, inclusive, que um dos desafios da dupla será justamente dosar tudo de espontâneo que possa brotar em cena. “Vai chegar uma hora em que vamos ter que frear. Eles vão brincar muito”, antecipa Ílvio. É possível apostar que o melhor de 'As sereias da Zona Sul' estará justamente nesses momentos de improviso.

Descolado quando o tema é comédia de sucesso, Ílvio Amaral é sensato ao evitar falar em fórmulas. Segundo ele, tudo é uma faca de dois gumes, pois é impossível saber exatamente o que o público quer. Para o ator e diretor, se alguém afirmar isso, estará mentindo. “A plateia sempre é surpreendente. Não tem fórmula. Tudo é experiência”, resume.

 

Pura Sintonia

 

Com uma parceria que dura mais de 25 anos, é inegável: Ílvio Amaral e Maurício Canguçu são hoje os principais nomes do humor mineiro. Além de sempre se manterem em cartaz como atores, exercitam o papel de diretores. “A sintonia deles é impressionante. Um completa o outro. O Ílvio tem a visão da criação e o Maurício da execução. Os dois parecem uma pessoa só dirigindo”, conta Kayete.


No caso de 'As sereias da Zona Sul', o processo de criação revelou que a sintonia está mais do que azeitada. No meio dos ensaios, Maurício Canguçu foi hospitalizado com problemas no coração. “Fiquei três dias no CTI pensando nessa peça. Quando voltei, Ílvio tinha feito exatamente o que pensei”, conta Maurício. Ambos têm uma relação muito mais braçal do que lírica com o ofício de dirigir colegas.

“Acho que sou muito mais um ator que ajuda o outro do que diretor. Tenho um prazer enorme em fazer o desenho geral do espetáculo”, diz Ilvio. “Sempre me preocupo com a questão do ator em cena”, continua Maurício. Atualmente em cartaz em São Paulo com 'Acredite, um espírito baixou em mim' e 'Os sem-vergonha', a dupla planeja para setembro a estreia da próxima comédia.

O texto escolhido é o argentino La nona, que também será dirigido por um hermano: Nestor Monasterio. “Faço o neto de uma senhorinha de 105 anos, papel do Ílvio. É uma velha que come tudo naquela casa. É muito engraçado, mas muito cruel”, adianta Maurício.

 

 

AS SEREIAS DA ZONA SUL
Sexta e sábado, às 21h; domingo, às 19h. Teatro Alterosa, Avenida Assis Chateubriand, 499, Floresta. Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia); nos postos Sinparc, R$ 18 (preço único). Informações: www.sinparc.com.br.

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