Estevão Machado apresenta a intervenção urbana 'Buraco branco', na Praça da Liberdade

Artista plástico defende que as camadas e a escala da pintura trazem a possibilidade de reflexão

por Walter Sebastião 14/05/2013 08:48

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

RECOMENDAR PARA:

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

CORREÇÃO:

Preencha todos os campos.
Estevão Machado/Divulgação
Estêvão Machado, que abre mostra amanhã, exibe 'Véu', com imagens inspiradas em foto de sua mãe (foto: Estevão Machado/Divulgação)
“A pintura merece estar na rua, mas sem ser como grafite”, defende o pintor mineiro Estevão Machado, de 54 anos. De acordo com o artista, vêm do contato com essa linguagem a materialidade, as surpresas e a dimensão orgânica que a visualidade digital nunca vai oferecer. “A tinta, o gesto, os erros e as surpresas tornam o que foi pintado algo concreto como a vida, a morte, a fome e a opressão”, argumenta. E adverte: “O espetáculo digital tem levado as pessoas a perderem a capacidade de lidar com o concreto, com o limite e a noção de identidade. Quero chamá-las para dentro da pintura”.

Veio desses incômodos a intervenção urbana 'Buraco branco', que Estevão apresenta desta quarta até domingo, na Praça da Liberdade. A galeria de seis metros abriga quatro pinturas gigantescas realizadas desde o ano passado. 'Osso' traz uma fábrica abandonada de Ouro Preto. 'Voo' tem plantas diante de um muro. 'Véu' exibe imagens inspiradas numa foto da mãe do artista. 'Nome' mostra um idoso.

O título do projeto mistura cubo branco (a galeria de arte) com buraco negro (região do espaço que absorve todos os tipos de matéria). Estêvão explica que fez comentário sobre pinturas confinadas nas galerias e isoladas do público. “As pessoas vão poder entrar na minha cabeça”, diz ele, apontando a referência psicanalítica com viés lacaniano de sua obra, em que as imagens se estruturam em quatro partes: real, simbólico, imaginário e sintoma.

“Quero proporcionar mais contato com a pintura por si e menos com o significado das imagens”, resume Machado, negando intenções narrativas ao reuni-las. “A pintura se entrega ao observador quando se chega perto dela. Você vê as camadas, a escala traz possibilidade de reflexão, sente-se o tempo investido na criação. Pintura emociona”, acrescenta. Alguns trabalhos consumiram cerca de dois meses e meio de muita dedicação, mas o processo trouxe prazer ao autor. Pela primeira vez ele se dedicou a quadros com as dimensões exibidas em 'Buraco branco'. “Queria criar ruído no meio da praça pública e precisava dessa escala”, justifica, enfatizando que sua proposta se opõe ao mundo de aparências, em que tudo é imagem.

Design Belo-horizontino, Estevão Machado é formado em design, trabalhou com publicidade e pinta há uma década. “Queria ser poeta. Acho que poesia é a única coisa que dá sentido à vida”, diz, revelando que se vale da pintura para criar poemas. O artista já apresentou três exposições: 'Você está aqui?' (2006), 'Lírica urbana provisória' (2008) e 'Shopping' (2010), todas voltadas para figuras e cenários urbanos.

A dedicação à arte trouxe questões importantes para Estevão Machado. “Como disse Francis Bacon, é como um jogo. Você vai fazendo apostas cada vez maiores, embora saiba que não vai ganhar”, resume. “Não faço pintura pura. É sempre a articulação de forma e cor com a narrativa social e pessoal, sem preocupação com imagens bonitas ou em fazer denúncia. É o real, naquele sentido do que a gente vê na rua. Ainda me pergunto: qual é o lugar da pintura no mundo da arte de hoje?”, conclui.

BURACO BRANCO
Pinturas de Estevão Machado. De quarta ao dia 19, das 9h às 21h. Praça da Liberdade, Funcionários.

MAIS SOBRE E-MAIS