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A exposição 'A gravura de Lasar Segall – Poesia da linha e do corte' ficará em cartaz até junho na Galeria de arte GTO, no Sesc Palladium, no Centro. Traz 35 trabalhos realizados entre 1913 e 1930.
Aos 15 anos, Lasar Segall (1891-1957) começou a estudar arte na Lituânia, sua terra natal. Mudou-se para a Alemanha, teve contato com os fundadores do movimento expressionista em Berlim e Dresden. Em 1912, ele já visitava o Brasil. No ano seguinte, expôs em São Paulo.
A partir de 1923, o lituano fixou residência na capital paulista. Naturalizou-se brasileiro em 1925, ao se casar com Jenny Klabin. Lasar Segall se tornou figura central do modernismo brasileiro, que teve nele referência e um articulador. De acordo com o crítico Mário Pedrosa, Segall trouxe ao Brasil o testemunho de toda uma época com a “rouca e quente” sonoridade das flautas rústicas.
Segall experimentou na pele os dramas de sua época, sobretudo as crises sociais que desembocaram nas guerras mundiais de 1914 e de 1939. Também testemunhou revoluções estéticas que mudaram radicalmente as concepções sobre arte no século 20. Judeu, foi perseguido na Alemanha. Um de seus trabalhos integrou a exposição 'Arte condenada', organizada a mando de Adolf Hitler.
Somados, esses aspectos vão mover tanto a identificação do artista com os excluídos quanto sua singular observação do Brasil. Lasar Segall trazia uma visão crítica de aspectos que os autores brasileiros celebravam romanticamente, como a pobreza, a precariedade da existência e o sofrimento estampado nas faces de nativos e imigrantes.
“A obra de Lasar Segall valoriza aspectos brasileiros num momento em que poucos colocavam tais temas em seus trabalhos”, observa Cabrera. As imagens revelam também os diferentes modos como o artista tratou a representação humana.
Cidadão honorário
Artista presente em BH, Lasar Segall é nome de rua no Bairro Tupi. Em 1944, ele participou da mostra dedicada à arte moderna que chocou a cidade, governada por JK. Em 1963, ganhou grande individual no Museu de Arte da Pampulha. Em 1977, Segall foi o centro de outra exposição importante, no Palácio das Artes.
Todas essas mostras eram dedicadas à gravura. Belo Horizonte bem que merecia ver os desenhos e as pinturas do artista.
Obras de Lasar Segall são raras em acervos belo-horizontinos, mas ele tem admiradores na cidade. O colecionador Delcir Costa guarda um desenho dos anos 1920, o retrato da poeta Berta Singermann. “Sou psiquiatra e me agrada muito aquela figura carregada de angústia. A linguagem é densa, sofrida, séria, o que afasta quem tem visão miúda da arte e gosta de coisas ligeiras”, observa Delcir. “Lasar Segall está entre os cinco artistas brasileiros mais importantes de todos os tempos”, garante.
O galerista Murilo de Castro guarda em sua coleção a litogravura 'Homem e mulher'. “Segall trouxe o modernismo para o Brasil, inseriu o país na contemporaneidade”, explica. Castro admira a forte visualidade das obras do lituano, que rompeu com o academicismo para fazer a crônica da vida do povo. “Essa atitude trouxe coragem para muitos fazerem o mesmo”, acrescenta.
Murilo conta que gravuras de Segall já foram comuns em leilões de arte no país. “Elas escassearam, pois se tornaram peças de coleções empenhadas em guardar a história da arte brasileira”, conclui.
Museu A obra do artista é razoavelmente conhecida graças à atuante política de difusão desenvolvida pelo Museu Lasar Segall, em São Paulo, e à extensa bibliografia sobre sua trajetória. Um ótimo livro é 'Corpo presente – Lasar Segall' (Pinakotheke).
O 'pintor de almas' (Callis), de Lia Zatz, é dedicado ao público infantojuvenil. Imagens de obras do artista narram o encontro num museu de uma senhora judia com um guarda negro. “Sempre me encantou a sensibilidade humanista de Segall”, afirma Lia.
Expressionismo
O movimento de vanguarda surgiu no início do século 20, na Alemanha, mas já remetia à obra do pintor holandês Van Gogh (1853-1890), apontado como fundador dessa estética. Entretanto, há quem acredite que a linhagem expressionista chega até o barroco. Sua caraterística é a distorção. Figuras, cores e representações surgem descomprometidas com o naturalismo, trazendo a intenção de expressar estados da alma. Mesmo se detendo a temas ligados à subjetividade, os expressionistas sempre conectaram esse aspecto à observação de tensões e crises sociais que traziam angústia, desespero e falta de perspectiva. Lasar Segall se formou com herdeiros diretos da primeira geração expressionista. Sofreu influência direta de artistas ligados aos dois grupos alemães que teorizaram essa estética – A Ponte e Nova Objetividade. A última criticava o enfoque individualista e propunha atenção aos dramas da sociedade, valorizando imagens rudes em preto e branco – opostas à visão da arte como decoração.
A GRAVURA DE LASAR SEGALL – POESIA DA LINHA E DO CORTE
Desta sexta-feira a 23 de junho. Galeria de arte G.T.O/Sesc Palladium, Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro. De terça-feira a domingo, das 9h às 21h.