Lá se vão 15 anos desde que Mário Nascimento deu os primeiros passos na companhia que leva seu nome. Se o nomandismo é algo que marca o grupo, criado em São Paulo e radicado em Belo Horizonte, o novo espetáculo é um mergulho vertical no conceito. O espetáculo fala essencialmente sobre mudanças. Ou melhor, provoca. “É preciso ter uma viagem interna para ter crescimento. É isso que proponho em 'Nômade', uma viagem enriquecedora para sair do lugar fechado que a sociedade nos impõe”, diz o coreógrafo.
Na tentativa de variar a própria linguagem, Nascimento convida os bailarinos a experimentar novos posicionamentos na cena. “Estabeleci um jogo estimulante. O bailarino está acostumado a demarcar um território. Então disse: ‘não demarque mais. Tenha possibilidade de mudar, de ser nômade dentro de você’. Acho que, de certo modo, é a maturidade do grupo”, acredita o diretor.
O improviso é palavra de ordem na coreografia, que tem música de Fábio Cardia. Como o lance é explorar os limites da criação, 'Nômade' tende a ser o trabalho mais livre de Mário Nascimento. O exercício de desapego dá origem a uma obra que ninguém sabe ao certo como vai se desenvolver. Para se ter ideia, cada artista tem à sua disposição pelo menos três figurinos. A escolha vai depender da vontade de cada um. “O improviso acontece e ninguém sabe onde ele está”, explica o coreógrafo.
Risco e frescor
“A qualidade do movimento pode mudar a proposta, o caminho que você define. É a hora que mais gosto, porque me sinto viva fazendo isso. Não tem como estar em uma dança mecanizada. O improviso faz com que a gente mantenha o frescor. Nunca estaremos seguros. Não adianta ter ensaiado horrores. Precisamos estar conectados uns aos outros”, completa a bailarina Rosa Antuña.
A trilha sonora também caminha no mesmo sentido. Mistura elementos espanhóis, aborígenes, MPB e até os bailarinos se tornam instrumentistas – e cantores – no decorrer do espetáculo. Para Mário Nascimento, falar em nomandismo não é só tratar de mudanças de espaços, de fronteiras, mas também pensar sobre o desapego, as transformações e as evoluções às quais estamos sujeitos.
NÔMADE
Teatro Oi Futuro Klauss Vianna. Avenida Afonso Pena, 4001, Mangabeiras, (31) 3229-3131. De amanhã a sábado, 21h.
Domingo, 19h. R$ 15 (inteira)e R$ 7,50 (meia).
Saiba mais
CIA MÁRIO NASCIMENTO
Criada em São Paulo em 1998, a Cia Mário Nascimento é responsável por 10 montagens em dança. Logo na estreia, 'Escapada' deu ao coreógrafo o Prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA). Em 2002, o grupo transferiu-se para Belo Horizonte, onde desenvolve sua trajetória fundada na pesquisa de linguagem sustentada pelas conexões entre música e dança.