Material fotográfico histórico e artístico postado diariamente na internet torna-se um importante espaço de consulta

Trabalho é disponibilizado por variados sites, blogs e páginas e movimenta a rede

por Walter Sebastião 25/03/2013 08:56

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Acervo do Instituto Moreira Salles
(foto: Acervo do Instituto Moreira Salles)
Um tesouro foi descoberto e anda sendo distribuído, gratuitamente, pela internet: os acervos fotográficos. Material histórico-artístico, organizado, relevante, pode ser encontrado em galerias de alguns museus. Álbuns, em páginas amadoras ou profissionais, oferecem de tudo: especialmente história de cidades, mas também de empresas, instituições, times etc. Fotos pitorescas, curiosas, bizarras, familiares. Como pano de fundo de toda essa movimentação está prática de comunicação visual, via eletrônica, que vem universalizando os acervos. E que, segundo especialista, construindo coletivamente nova codificação icônica do mundo.

A página Imagens históricas anda colocando ao alcance de todos fotos preciosas de acontecimentos ou personalidades nacionais e internacionais. Ela funciona como diversas outras que trabalham com o mesmo assunto: captura imagens pela internet (de jornais, coleções, acervos etc.) ou enviadas para eles, contextualiza com pequenos textos e publica. “A internet é uma colcha de retalhos de ouro”, avisa o historiador Rafael Silva, de 27 anos, que criou a página com amigos. Posta, no geral, duas fotos por dia. Prioriza imagens de domínio público e procura resolver a questão do direito autoral “caso a caso”, mas, especialmente, com créditos a instituições, autores etc.

“Vídeos não fazem o mesmo sucesso das fotos”, conta Rafael. O motivo, observa, talvez esteja no fato de ser algo que se vê rapidamente. “Minha geração é ansiosa”, justifica. Pesa na empatia a beleza plástica, além de serem imagens feitas por bons fotógrafos. “Fotos antigas estão sendo valorizadas. Já existe acervo consagrado, mas ainda tem muita coisa pouco conhecida”, observa. Como recebiam muitas fotos pessoais, organizaram concurso sonhando com uma nova página: Eu também sou história. O Imagens históricas valoriza tom provocativo. Publicaram capa da revista 'Playboy' que traz a Feiticeira (Joana Prado), recorde de vendas da publicação. Deu o que falar. “Tudo é história. Mas é preciso saber construí-la com aspectos relevantes”, ensina.

Acervo do Instituto Moreira Salles
Fotografia de Alécio de Andrade feita no Museu do Louvre, pertencente ao Instituto Moreira Salles (foto: Acervo do Instituto Moreira Salles)

CAPITAL MINEIRA A página Fotos antigas de BH é mantida por Leandro Damasceno, de 29 anos, professor de geografia. Depois de coletar mais de 1 mil imagens da cidade, ele posta, diariamente, duas delas. “Sempre gostei do assunto, leio muito sobre Belo Horizonte e vi que não havia página com fotos da cidade, então criei uma”, conta. Mantém tudo sozinho. Satisfação, conta, foi o fato de familiares de pessoas que estavam em uma das fotos entrarem em contato com ele, para agradecer. E receber imagens com o perfil que divulga. Uma coleção de 60 imagens de Belo Horizonte chegou por e-mail para Fernando José Lopes, designer gráfico de Formiga. Ele cuidou delas, as organizou e disponibilizou num blog. “E o pessoal gostou. As cidades antigamente eram mais bonitas”, observa. Até hoje eles não sabem de quem é a coleção.

ONDE NAVEGAR
Acervos de fotografia autoral

Instituto Moreira Salles
ims.uol.com.br
Portfólios de fotógrafos brasileiros modernos e históricos

Made in Photo
www.madeinphoto.fr
Ícones da fotografia mundial, entre eles, Sebastião Salgado

Zone Zero
www.zonezero.com
Fotografia contemporânea das Américas

Museu de Arte Moderna de Nova York
www.moma.org
Coleção com cerca de 8 mil fotos de autores antigos e contemporâneos

Belo Horizonte
www.fernandolopes.com.br/fotos/belo-horizonte-em-fotos-de-1902-a-1982
60 imagens de BH

Construção de memória


“Estamos vendo uma efetiva universalização do uso da imagem como comunicação. São vários olhares, as pessoas comentam as fotos, então, está sendo montada uma base para educação do olhar. E, às vezes, acho que está sendo construída coletivamente nova codificação icônica do mundo”, especula Sérgio Burgi. Ele é o curador e coordenador da maior coleção brasileira de fotografia: a do Instituto Moreira Salles, com cerca de 850 mil imagens (em alguns casos, acervos completos dos autores). Atualmente, estão disponibilizados, estima Burgi, em torno de 25% do acervo. Quase meia centena de preciosos portfólios, com alguns de fotógrafos que construíram a história do setor no Brasil.

“A fotografia poder ser vista por vários aspectos. Tem dimensão documental, histórica, estética etc. Nas coleções, pode ser vista trajetória de formação, desenvolvimento e transformação de linguagem de autores relevantes, o que é mais do que só um conjunto de imagens com conteúdos diversos”, explica Sérgio Burgi, pontuando diferença do material do visto na internet. O encanto do público com a fotografia, para ele, tem motivo: “É um meio que tem grau de informação visual excepcional. Nos alimentamos, diariamente, não só de conteúdos, mas de referências”, observa. Acrescente-se a sensação de realidade, proximidade, confiabilidade, “por mais que se saiba que as imagens são muito manipuladas”.

Para Sérgio Burgi, apesar das diferenças entre o analógico (“que tem materialidade”) e o digital, computadores e tablets, com todas as ferramentas de leitura, são mesmo ótimos meios para ver fotos. Exemplifica com uma curiosidade. Os primeiros fotógrafos, conta, usavam negativos de vidro, de formato grande, que, bem conservados, têm potência de câmara digital profissional de alta qualidade. Esses negativos, agora scaneados, revelam aspectos que nem quem fez as fotos viu, já que conheciam cópias de pequenas dimensões. O resultado da soma do antigo e do novo, avisa, “são fragmentos poderosos do passado” carregando “visão nostálgica e idealizada” do processo histórico.

O curador do IMS conta, ainda, que foi no contexto das Américas que primeiro se valorizaram os acervos fotográficos. O motivo, conta Sérgio Burgi, é o fato de as fotos revelarem profundas transformações por que passaram os países com “história curta” , basicamente concentrada nos últimos 20 anos, com parte importante dela registrada pela fotografia. “Nisso somos diferentes dos europeus. Nossas cidades mudaram muito ao longo do tempo, já as cidades europeias são, basicamente, as mesmas. Nossos acervos fotográficos, por isso, são documentação que também constroem memória, que dão sentido de pertencimento”, completa.

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