Embaixador da França, membro da resistência durante a Segunda Guerra Mundial e pioneiro da ONU, Stéphane Hessel, que faleceu na última terça-feira, 26, aos 95 anos, ficou famoso no mundo há dois anos com o imenso sucesso do livro 'Indignai-vos!', publicado ao fim de uma vida novelesca que passou por toda a história do século XX.
Stéphane Hessel nasceu em 20 de outubro de 1917, em Berlim, e se mudou para a França aos 7 anos. Era filho de Franz Hessel e Helen Grund, que inspiraram, ao lado do escritor Henri-Pierre Roché, o trio 'Jules e Jim' levado ao cinema pelo diretor François Truffaut.
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Ao fim da guerra, iniciou uma carreira diplomática como adido do secretariado geral da ONU (1946-1951). Nas Nações Unidas participou na elaboração da Declaração Universal dos Direitos Humanos, mas não foi redator. Trabalhou ainda em vários postos no funcionalismo público francês, antes de ser nomeado representante permanente da França na ONU em 1977.
De 1981 a 1983 foi delegado interministerial do governo francês para a cooperação e a ajuda ao desenvolvimento. Ele era conhecido por sua defesa dos direitos humanos, o direito ao asilo, os direitos dos imigrantes e os direitos dos palestinos.
Entre as suas obras figuram 'Danse avec le siècle' ('Dança com o século', 1997), 'Dix pas dans le nouveau siècle' ('Dez passos no novo século', 2002), 'Citoyen sans frontières' ('Cidadão sem fronteiraa', 2008) e 'Le Chemin de l'espérance' ('O caminho da esperança', 2011), escrito junto com o sociólogo Edgar Morin, 'Empenhai-vos' (2011), livro de entrevistas com Gilles Vanderpooten.
Em 2012, Stéphane Hessel e Albert Jacquard escreveram em conjunto 'Exija! Um desarmamento nuclear total'.
Mas foi seu manifesto 'Indignai-vos!', pequeno livro de 32 páginas publicado em outubro de 2010 com uma tiragem inicial de 8.000 exemplares, que o tornou famoso no mundo.
Guru da insatisfação jovem
Traduzido para vários idiomas, o livro vendeu mais de quatro milhões de exemplares no mundo. 'Indignai-vos!' inspirou os movimentos de protestos em vários países, desde os "indignados" da Espanha e Grécia até o "Occupy Wall Street" dos Estados Unidos.
Com o livro, Hessel virou, com mais de 90 anos, o guru dos jovens manifestantes do século XXI. Quando a pequena editora Indigène, de Montpellier (sul da França), publicou a primeira edição, ao preço de três euros, ninguém poderia imaginar o sucesso.
Os editores da obra, Sylvie Crossman e Jean-Pierre Barou, escreveram na época que a "base da resistência é a indignação".
"As razões para indignar-se hoje podem parecer menos claras que no período do nazismo. Mas procurem e encontrarão", destacaram.
Hessel denuncia em seu texto a crescente desigualdade entre os muito ricos e os muito pobres, o estado do planeta, a maneira como os ilegais, os imigrantes e os ciganos são tratados, a corrida pelo "ainda mais", a ditadura dos mercados financeiros, além da perda dos direitos adquiridos desde a Resistência francesa (aposentadoria, previdência social).
"Podemos acreditar em Stéphane Hessel e seguir seus passos quando convoca uma insurreição pacífica", escreveram os editores. O sociólogo Edgar Morin credita o êxito de "Indignai-vos!" ao "despertar público de uma população que era até então muito passiva".
Com seu livro, Hessel "catalisou as expectativas de muitas pessoas diante da angústia provocada pela crise", disse Morin. Para o autor, o sucesso do livro era explicado por um "momento histórico". As sociedades estão perdidas, se questionam como fazer para seguir adiante e buscam um sentido à aventura humana".