Estereótipo mineiro é ponto de partida para várias peças da Campanha de Popularização

Filomena, Concessa e os personagens de Saulo Laranjeira são algumas das figuras que exploram o jeito de ser dos conterrâneos para entreter e gerar reflexão

por Ailton Magioli 16/01/2013 10:11

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

RECOMENDAR PARA:

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

CORREÇÃO:

Preencha todos os campos.
Vilmar de Oliveira/Divulgação
Zé da Silva é um dos personagens de Saulo Laranjeira que bebem na fonte da mineiridade (foto: Vilmar de Oliveira/Divulgação)
Ainda que o público muitas vezes não perceba, o que importa a Saulo Laranjeira é que por trás de cada personagem que ele constrói, inspirado na própria mineiridade, haja sempre um posicionamento filosófico. “Não é simplesmente o riso”, chama atenção o ator, cantor e compositor, que está em cartaz na 39ª Campanha de Popularização do Teatro e da Dança com o espetáculo Assunta Brasil! Humor, música e poesia.


A exemplo de Saulo, Gorete Milagres (Filodaemprego.com), Tino Gomes (Tino Gomes – Cantoria, poesia e uns cauzim de safadeza) e Cida Mendes (Concessa pendura e cai e Concessa tecendo prosa), entre outros, também fazem da mineirice a principal característica de sua atuação no evento. O público agradece, comparecendo aos teatros para conferir a performance, que, na maioria das vezes, nada mais é do que o estereótipo do mineiro. Mas, como bem lembrava Guimarães Rosa, “Minas, são muitas. Porém, poucos são aqueles que conhecem as mil faces das Gerais”.


“Me joguei nisso desde criança”, recorda Saulo Laranjeira, que diz ter encontrado nos próprios avós a fonte de inspiração para criar personagens cujo comportamento é a constatação da máxima do escritor mineiro.

 

Em Assunta Brasil!, por exemplo, pelo menos três criações do ator passam pela mineiridade: o caipira Geraldinho, a Véia Messina e o filósofo popular Zé Pereira da Silva, que, mesmo tendo forte ligação com o Nordeste, tem tudo a ver com o vaqueiro Manuelzão, personagem do livro Manuelzão e Miguilin, de Guimarães Rosa.


Humor, sexualidade, poesia, natureza, histórias infantis e causos são alguns dos temas abordados por Saulo na pele dos personagens, que ele acredita terem nascido da observação característica desde a infância no Vale do Jequitinhonha. Natural de Pedra Azul, o artista se recorda das visitas dos avós quando ele, carrinho de brinquedo em mãos, enfiava-se debaixo da mesa para observar tudo. “Até o silêncio que entremeava as conversas me chamava atenção”, afirma Saulo, que garante ter adotado o comportamento como atitude profissional. “Hoje, no entanto, o que mais me interessa é o que está por trás desses personagens. O posicionamento filosófico de cada um”, acrescenta Saulo Laranjeira, cujo sucesso já ultrapassou há muito as fronteiras mineiras.

Andreia Machado/Divulgação
Filó reúne características de personagens da vida real que Gorete Milagres conheceu em Minas (foto: Andreia Machado/Divulgação )
Estereótipo

Gorete Milagres diz que sua Filomena, há 18 anos em cena – do teatro à TV, com projeto de chegar em breve ao cinema – é estereotipada, sim. “Mas a conduzi de tal forma que consegui humanizá-la”, orgulha-se a atriz. Segundo recorda, certa vez uma companheira de profissão insistiu em dizer que pessoas como Filó não existiam. “Existem sim, vá à Avenida Ipiranga que você encontrará várias”, respondeu, recomendando o famoso endereço popular paulista, onde proliferam Filomenas e outros tipos brasileiros.

 

Mesmo na época em que a personagem explorava detalhes como as bochechas sobressaídas e os dentes podres, de acordo com a atriz, o público era seduzido. “Vivia ouvindo coisas do tipo: ‘Você é linda, quero te levár para casa’”, recorda Gorete, que diz ter dado um upgrade na doméstica, que, em seu mais recente espetáculo, se tornou proprietária de uma agência de empregos.


Mesmo tendo mudado o visual de Filomena, no entanto, a atriz garante que a doçura da personagem se mantém. A ponto de o público não perceber tais mudanças. “O que pega é a essência da caipira mineira, ingênua, perspicaz, querida, doce e leve”, lista a série de razões que a teriam levado a conquistar fãs em todo país. Foi a partir da observação das caipiras que conheceu em Conselheiro Lafaiete, onde nasceu, que Gorete construiu a personagem. “A voz da Filó, por exemplo, é da cozinheira da fazenda do meu avô”, diz. “Oi, Gorete, tá boa?”, perguntava ela à futura atriz que, hoje, repete o bordão em cena.


Apesar do sucesso, Gorete Milagres revela ter sofrido muita agressão por conta da veracidade de sua criação. Da tentativa de expulsão de um shopping a um bar onde acreditavam que Filomena tinha ido pedir esmola, não foram poucas as vezes em que a atriz sofreu constrangimentos. “Como optei por humanizá-la, o estereótipo acaba ficando invisível”, conclui.

 

Mineirinhos em cena

• Filodaemprego.com, Grande Teatro do Palácio das Artes, dias 22 e 23 de janeiro

• Concessa tecendo prosa, Grande Teatro do Palácio das Artes, dia 24 de janeiro
• Assunta Brasil! Humor, música e poesia, Teatro Alterosa, até dia 27 de janeiro
Causos de assombração, Sala Juvenal Dias, do Palácio das Artes, até dia 27 de janeiro
Juca, um jeca em: Dura vida de solteiro, Teatro SESC-Palladium, até dia 25 de janeiro
O amor no grande sertão, Espaço Cultural Oratório Bar, até dia 2 de março

Perigo, mineiros em férias!, Teatro Uni-BH, até dia 3 de fevereiro
Pérolas do Tejo, Teatro Sesiminas, do dia 31 até 3 de março
Tino Gomes – Cantoria, poesia e uns cauzim de safadeza, Teatro Dom Silvério, até dia 30 de janeiro
Trem de Minas, Teatro da Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, do dia 31 de janeiro até 30 de março

MAIS SOBRE E-MAIS