Confira uma seleção de títulos para uma boa leitura durante as férias

Biografias e ensaios estão entre as pedidas para quem quer aproveitar um bom livro durante o descanso

por Nahima Maciel 07/01/2013 18:27

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Reprodução / Companhia das Letras
A biografia Mick Jagger, escrita por Philip Norman - uma boa pedida para as férias (foto: Reprodução / Companhia das Letras)
O mercado editorial brasileiro está bastante saudável. Um estudo da Associação Internacional de Editores (IPA) recém-divulgado revelou um faturamento de R$ 6,2 bilhões e um total de 469,5 milhões de exemplares vendidos.


Aparentemente, os brasileiros estão comprando mais livros. O estudo aponta que o consumo aumentou em 3,34% e que os livros ficaram mais baratos. O caminho ainda é longo até os números representarem um reflexo real do aumento nos índices gerais da educação no Brasil, mas vale comemorar. E para dar continuidade ao crescimento das porcentagens, nada como equipar o criado-mudo ou a mala de viagem com uma boa biblioteca para os dias de férias. O Diversão&Arte fez uma seleção dos lançamentos do ano, uma lista variada com títulos que vai de biografia de astros do rock e histórias passadas em Brasília e ensaios sobre as disputas entre os mundos islâmico e cristão. Todos com a garantia de serem títulos que figuram entre os melhores dos últimos 12 meses. É só escolher e começar.

Paralelo 10

De Eliza Griswold. Tradução: Ângela Pessoa. Companhia das Letras, 476 páginas. R$ 55.

Jornalista e colaboradora do The New York Times e da revista The New Yorker, Eliza Griswold percorre a fronteira da discórdia, aquela linha imaginária que separa os mundos islâmico e muçulmano, motivo de guerras e disputas seculares em busca da supremacia religiosa. A jornada de Eliza tem início na Nigéria, passa pelo Sudão e Somália para chegar à Ásia, onde Indonésia, Malásia e Filipinas vivem a tensão do conflito entre as duas religiões. Na Nigéria, a situação é tão tensa que o governo evitou perguntas sobre credos no censo de 2006. O Sudão tem uma das realidades mais trágicas e complicadas: norte e sul se enfrentam há décadas pelo controle do petróleo e pelo domínio religioso. Na Malásia, a ameaça está na extinção das culturas animistas indígenas do continente. A investigação de Eliza percorre um vasto universo com argumentos históricos, entrevistas e dados que ajudam a entender a gepolítica religiosa que confronta islâmicos e cristãos.

Posar nua em Havana

De Wendy Guerra. Tradução: José Rubens Siqueira. Benvirá, 248 páginas. R$ 29,90.

Filha de um compositor cubano com uma francesa descendente de cubanos e dinamarqueses, a escritora Anaïs Nin esteve em Havana em 1922 em busca de vestígios de um pai com o qual teve pouco contato. Em seus famosos diários, deixou apenas 12 páginas sobre a viagem. A cubana Wendy Guerra parte deste curto relato para imaginar e narrar como teria sido a experiência de Anaïs na ilha. Apesar da extensa pesquisa em arquivos, relatos e documentos da época, é na voz ficcional que a autora encontra refúgio e liberdade para reinventar uma história real. Wendy começa o livro reproduzindo as páginas do diário de Anaïs para, depois, tomar a dianteira como narradora. O diário apócrifo passeia pelo imaginário de uma mulher para a qual a liberdade era o ponto de partida da existência.

A confissão da leoa

De Mia Couto. Companhia das Letras, 252 páginas. R$ 39,50.

Mariamar perdeu a irmã, Silência, em um ataque de leões. A moça ficou desfigurada e precisou ser instalada no caixão com o rosto escondido. Mariamar nasceu e cresceu na aldeia que agora, sem mais nem porquê, começa a ser atacada por leões. Na concepção de mundo da moça, o ataque inexplicado é certamente obra de forças sobrenaturais. Já para o caçador, a história é outra. O livro de Mia Couto traz a história de uma aldeia subitamente ameaçada por ataques constantes de leões. Caçadores são contratados para solucionar o problema e o romance é narrado a partir do ponto de vista de dois personagens. A ficção é baseada na experiência real de Couto, que em 2008 acompanhou a dificuldade de caçadores convencerem uma população ameaçada de que os ataques eram devidos a um provável desequilíbrio ambiental, e não a espíritos malévolos.

O pelo negro do medo

De Sérgio Abranches. Record, 208 páginas. R$ 34,90.

A estreia de Sérgio Abranches na ficção é uma história de encontros, medos e suspenses. Na cena inicial, um bebê luta para respirar logo após um parto complicado. Quando todos achavam que estava morto, ele rasga o ar com um grito de vitória. É uma lembrança que o personagem não tem, mas adquiriu, de tanto ouvir o relato. É uma lembrança que se aproxima da realidade quando, já adulto, hesita em começar um novo relacionamento por medo de repetir os erros do anterior. “Nascer não é morrer?”, ele se pergunta toda vez que ouve a história de seu nascimento. E viver a história romântica que se apresenta, seria morrer de novo, já com conhecimento de causa? Abranches escolheu os anos 1980 e Paraty para ambientar seu primeiro romance, desdobramento de um exercício iniciado com contos e crônicas.

Onde está tudo aquilo agora?

De Fernando Gabeira. Companhia das Letras, 196 páginas. R$ 29,50.

O tom de esperança do jovem revolucionário deu lugar a um certo desencanto na revisão autobiográfica de Fernando Gabeira. Em 16 anos de atuação como deputado, Gabeira conheceu as entranhas do fisiologismo e da política partidária brasileira, rompeu com o PT, acompanhou de perto a movimentação do mensalão e fez da atividade parlamentar mais um caminho para tentar compreender a jovem democracia brasileira. Antes, no entanto, o ex-deputado revisita a infância em Juiz de Fora (MG), o início do interesse pela política, o jornalismo e o poder da palavra escrita até chegar na mobilização concreta que o levou a se envolver com os movimentos de esquerda.

Samba-enredo

De João Almino. Record,208 páginas. R$ 34,90.

Escrito e publicado originalmente em 1994, o romance de João Almino trata de um computador com vontade própria, que decide alinhavar e dar sentido a uma série de notas escritas pela amante de um presidente desaparecido. O que deveria abastecer uma autobiografia foi deliberadamente suprimido pela autora. No entanto, o computador adquire a capacidade de dar sequência ao suposto livro e, para tal, conta com a ajuda de um espírito. Quando Almino escreveu o romance, redes sociais eram objeto de vagas projeções, assim como a ideia de um mundo totalmente interligado em rede. No entanto, o texto continua atual. O narrador é uma voz feminina, a do próprio computador, uma espécie HAL (2001, uma odisseia no espaço) em versão tupiniquim.

Mar azul

De Paloma Vidal. Rocco, 176 páginas. R$ 29,50.

Um longo diálogo enigmático abre o segundo romance de Paloma Vidal. Mais adiante, uma mulher lê os diários deixados pelo pai e faz seus próprios comentários no verso dos escritos. Ela está sozinha, em uma cidade na qual não conhece ninguém. Ela tem medo de esquecer. E está de luto. A narrativa de Paloma nunca revela inteiramente as situações, os tempos e os porquês. Ao contrário, deixa um ar de incompletude na história sofrida e melancólica. Depois de dois livros de contos e do romance Algum lugar, publicado em 2009, a argentina criada no Rio de Janeiro vai mais longe na experiência literária com um texto que tenta reconstruir um passado muito frágil.

Mick Jagger


De Philip Norman. Tradução: Álvaro Hattnher e Claudio Carina. Companhia das Letras, 620 páginas. R$ 49,50.

Philip Norman escreve sobre os Stones há três décadas. Colecionou uma quantidade de fontes preciosas que permitiram o mergulho em um de seus maiores projetos: a biografia de Mick Jagger. O autor britânico já havia biografado os Stones em 1981 e aproveitou entrevistas e documentos coletados então para, em 2009, começar o livro sobre o personagem que encara como o coração do grupo. Tudo com o cuidado, como ele avisa no prefácio, de evitar a reciclagem para fazer o retrato solo. O resultado exigiu o mesmo fôlego que o leitor precisará para se dedicar ao calhamaço, que começa contando a adolescência enfadonha de Jagger e termina com o talento empresarial do astro e suas investidas nas artes plásticas, no cinema e em outras áreas.

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