Livro de Carlos Galilea acompanha a trajetória do violão moderno

O jornalista mostra semelhanças entre as formas de tocar o instrumento na Espanha, em Portugal e no Brasil

por Eduardo Tristão Girão 05/01/2013 07:00

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Maud/Reprodução
VIOLÃO IBÉRICO - De Carlos Galilea l Editora Mauad, 430 páginas, R$ 50 (foto: Maud/Reprodução)
“O violão que se toca hoje foi construído por volta de 1850, na Andaluzia, por um luthier espanhol chamado Torres. Toda uma escola de violão clássico surgiu do trabalho do violonista e compositor Tárrega e dos discípulos dele, como Miguel Llobet, Emilio Pujol e Josefina Robledo, que espalharam as obras e a técnica dele pela América do Sul, no início do século 20. Isso marcou os violonistas de toda a América, não só os brasileiros. O violão popular brasileiro, nessa época, com nomes como João Pernambuco, Quincas Laranjeira e Dilermando Reis, também bebeu dessa fonte clássica”, analisa o autor.

A ideia do livro, na verdade, não foi dele, mas da produtora cultural Giselle Goldoni Tiso, que o conhece há cerca de 20 anos, época em que ela morou na capital espanhola, Madri. Especializado em música, Galilea escreve sobre o tema no jornal El País e mantém desde os anos 1980 o programa diário Cuando los elefantes sueñan con la música, na Radio Nacional de España. É também autor do livro Canta Brasil (sobre música popular brasileira) e co-autor do Diccionario de jazz latino com Nat Chediak, ambos escritos em espanhol.

ABRANGÊNCIA

Para entrelaçar flamenco, fado, choro, samba e bossa nova nas mais de 400 páginas do novo livro, o espanhol leu mais de 100 títulos, além de estudos de mestrado, palestras e reportagens. Com toda essa bagagem, ele iniciou período de oito meses de trabalho em janeiro do ano passado. Em abril, entrevistou alguns dos maiores violonistas brasileiros, como Gilberto Gil, Egberto Gismonti, Guinga, João Bosco, Juarez Moreira, Marcello Gonçalves, Marco Pereira, Marcus Tardelli, Paulo Belinatti, Sergio Abreu, Toninho Horta, Turíbio Santos e Yamandu Costa.

“Também pesquisei as centenas de entrevistas com músicos e cantores brasileiros, portugueses e espanhóis que já tinha feito. Esses 25 anos de trabalho em jornal e rádio me facilitaram o encontro com milhares de músicos do mundo inteiro. Foi maravilhoso mergulhar nessa história do violão e acompanhá-lo nessa viagem fascinante de vários séculos. Deixei parte da minha alma nesse trabalho. Trabalhei feito burro todos esses meses, mas valeu a pena”, conta Galilea, que se interessa por música e, especificamente, violão, desde criança.

JEITINHO

Com escrita clara e acessível, o autor passa por pontos relevantes da longa e abrangente história do violão, evidenciando os laços entre Espanha, Portugal e o Brasil. Vai dos instrumentos ancestrais (os cordofones com braço, o alaúde dos árabes, a vihuela de mano etc.) à evolução do violão brasileiro com João Gilberto, Baden Powell e Rapahel Rabello, entre tantos outros nomes importantes, passando pela teórica raiz brasileira do fado e, claro, pelo violão espanhol, ressaltando personagens como Francisco Tárrega, Paco de Lucia e Josefina Robledo – esta última chegou a viver no Brasil.

“Na verdade, o violão se adaptou ao que precisava cada música em cada um desses países. Evoluiu e se transformou para poder tocar música clássica, flamenco, fado, choro, bossa nova. Temos que pensar que o violão do jeito que a gente conhece hoje, com essa forma física, data mais ou menos de 1850. Nem sempre o violão teve seis cordas simples e as cordas eram de aço ou de tripa. O náilon só aparece na metade do século 20”, analisa ele. 

Galilea prefere não falar no violão brasileiro como uma escola, mas reconhece um “jeito próprio” de tocar o instrumento no Brasil. “E esse violão de sete cordas, especialmente o de cordas de náilon, que acrescenta uma corda grave ao violão clássico, é um negócio bem brasileiro, que pode abrir novas possibilidades para o instrumento”, conclui. 


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