Mosaicos de BH chamam atenção pela beleza e abandono

por Walter Sebastião 15/12/2012 07:30

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Maria Tereza Correia/EM/D.A Press
Obra do italiano Alfredo Mucci, na Igreja de Nossa Senhora do Carmo, em BH: bom exemplo de preservação (foto: Maria Tereza Correia/EM/D.A Press )
O mosaico agoniza, mas não morre. A técnica milenar continua presente na cidade contemporânea. Arquitetos, designers e estudiosos apontam o motivo dessa resistência: o encanto provocado por imagens, às vezes em grandes formatos, construídas minuciosamente com fragmentos coloridos. Mas trata-se de uma beleza machucada, pois trabalhos antigos e recentíssimos – muitos deles obras históricas do modernismo em Minas Gerais – estão sujos, danificados, vandalizados e ignorados. A situação se deve tanto à falta de manutenção quanto à indiferença do cidadão à arte exposta em espaços públicos. Trata-se de um preocupante sintoma da falta de afeto com a metrópole.


Em BH, o território do mosaico contemporâneo fica na Zona Leste. Inclusive, a Regional da prefeitura lá instalada conta com mosaicistas em seu quadro de funcionários. Breno Jesus dos Santos, Rubens Gomes de Souza e Flávio Augusto Gonçalves de Souza cuidam de manter a tradição milenar. Naquela área da cidade há cerca de 20 trabalhos – antigos e em execução.

Maria Tereza Correia/EM/D.A Press
Painel de cacos de azulejo sob pontilhão do metrô, no Horto, está em estado de sujeira e abandono (foto: Maria Tereza Correia/EM/D.A Press )

Feitas com sucata de cerâmica, as obras vêm sendo realizadas ao longo dos últimos 15 anos, enfatizando a questão da reciclagem e sustentabilidade. Surgidas de ações de combate à colação de cartazes, ao acúmulo de lixo e ao vandalismo, essas intervenções artísticas têm o propósito de dar charme a espaços deteriorados e sujos.

“Claro que fico triste quando vejo essa situação. Trata-se de falta de respeito com o que é público”, reage a arquiteta Maria B. Castro, funcionária da Regional Leste da Prefeitura de Belo Horizonte, criadora do projeto e autora dos desenhos. Mesmo assim, a iniciativa alcançou seu objetivo. A instalação de mosaicos reduziu a colação de cartazes, garante a arquiteta. E informa que o projeto é simples: basta limpá-los. O material cerâmico é de fácil manutenção.
De acordo com Maria Castro, é fácil explicar a permanência dessa arte milenar no coração das metrópoles contemporâneas. “A dimensão lúdica dos desenhos feitos com fragmentos coloridos encanta. É a beleza em si”, resume ela.

Em cidades mais jovens como Belo Horizonte – que acaba de completar 115 anos –, painéis de mosaicos são feitos com pastilhas, cerâmicas ou tesselas de vidro (ícones da arquitetura moderna). Essas obras podem ser encontradas em vários pontos da capital mineira: seja nas laterais do Teatro Francisco Nunes (Parque Municipal) e da Igrejinha da Pampulha, no prédio do Departamento de Operações Especiais (Deoesp), na Avenida Afonso Pena, ou na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, na Praça Afonso Arinos (Centro).

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Painel de pastilhas na Faculdade de Direito, no Centro de BH: marcas de pichação e falta de peças (foto: Maria Tereza Correia/EM/D.A Press )
Mas é preciso olhar muito atento para descobrir os mosaicos de BH, pois vários deles estão danificados. Obras importantes como Os garimpeiros, de Alfredo Mucci, que embelezava uma das casas do Bairro de Lourdes, desapareceram. 

Há quem defenda mais consideração com essa arte. É o caso do jornalista Henrique Gougon, que mantém o site Mosaicos do Brasil (mosaicodobrasil.tripod.com). “O objetivo de nosso projeto na internet é dar dignidade a essa técnica de grande força plástica, pois há obras importantes em todo o Brasil, mas vistas com preconceito”, explica.

Gougon diz que um herói do mosaicismo nacional é Alfredo Mucci, italiano que veio para o país em 1953 – referência do trabalho com pastilhas. Ele não se limitou a criar projetos. Também escreveu o primeiro livro brasileiro sobre o tema. Vem dele uma obra muito admirada em Belo Horizonte: os mosaicos da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, na Zona Sul.

“Artista refinado, Mucci tem obras de grande sofisticação”, completa Henrique Gougon, lamentando que o italiano seja tão pouco conhecido.

FALTA PESQUISA 

O designer mineiro Alexandre Mancini, pesquisador do modernismo, avisa: “Belo Horizonte tem obras de beleza ímpar”. E cita o painel estampado no prédio do Deoesp. Ele não esconde o incômodo de ver essa manifestação de afeto à cidade malconservada, sem merecer pesquisa.

“É triste constatar que repartições, condomínios e órgãos de governo não percebem a beleza dessa arte delicada presente no cotidiano, à vista de todos. Isso mostra a falta de carinho com o patrimônio histórico ainda recente, que é moderno”, lamenta. Do encanto com a técnica e com o ofício dos mosaicistas surgiu o painel Composição em verde (2011), realizado por Mancini com cerâmicas de pequeno formato. Trata-se de homenagem do designer aos antigos mosaicos.

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