O butoh é um movimento que mescla dança, artes plástica e literatura e surgiu no Japão pós-guerra, ganhando o mundo na década de 1970. Criado por Tatsumi Hijikata e Kazuo Ohno, o butoh é também inspirado nos movimentos de vanguarda: expressionismo, surrealismo e construtivismo.
O público de Belo Horizonte terá a possibilidade de conhecer o mundo fascinante dessa manifestação nipônica em dois espetáculos de dança que já percorreram importantes palcos no Brasil e no exterior e chegam essa semana à capital. Tabi será encenado nesta quarta-feira, e Lunaris, nesta quinta, no Teatro Klauss Vianna (OI Futuro).
Nos dois espetáculos, os artistas expressam o corpo e as suas possibilidades. “É um trabalho corporal expressivo que foca muito na questão do ser humano”, afirma a coreógrafa e dançarina-performer Emilie Sugai, neta de japoneses. “E é extremamente contemporâneo, apesar de se basear em algo tradicional.”
Criado há 10 anos, Tabi (jornada, viagem) é fruto das indagações de Emilie quanto ao “corpo japonês/brasileiro” que se inicia no encontro com o multiartista japonês Takao Kusuno. Na produção, há uma busca no tempo da ancestralidade.
A artista faz questão de ressaltar que não se trata de um resgate histórico da imigração japonesa no Brasil, mas dos questionamentos a partir do corpo, misturando fragmentos de memórias tanto individuais quanto coletivas. “Esse corpo é japonês, porém tem um modo de ser brasileiro. Em Tabi, experimentamos o corpo e suas possibilidades, que expressam nossas inquietações estéticas bem como o meu processo existencial. Trazemos a questão da cultura e das gerações para o palco”, complementa.
A montagem conta também com Dorothy Lenner, octagenária atriz, bailarina, professora, diretora e pesquisadora, nascida na Romênia e radicada no Brasil. Formada pela Escola de Arte Dramática (EAD-USP) em 1958, Dorothy conheceu Takao Kusuno 20 anos depois, quando participou de seus primeiros trabalhos.
Lunaris
O outro espetáculo, Lunaris, é inspirado na poesia zen-budista de Matsuó Bashô (1644–1694), considerado o criador do haikai, forma poética de origem japonesa, que valoriza a concisão e a objetividade. A produção se baseou justamente em um dos haikais de Bashô.
Segundo Emilie Sugai, o mundo em que se passa essa montagem de dança-teatro cria uma interface artística entre a linguagem do corpo e a imagem da lua, aliada ao imaginário poético que ela, seus mitos, suas fases e sombras inspiram e ressoam em vários níveis sociais e culturais.
“Os japoneses têm uma admiração e uma relação antiga muito forte com a Lua e adoram contemplá-la. Além disso, trago a coisa da sombra e da obscuridade. O meu corpo recria formas ancestrais das personas de um guerreiro, de um pescador e de uma anciã que vagueiam em torno de um lago, contemplando a Lua. É extremamente poético e interessante”, explica.
Tabi
Quarta-feira, às 21h, no Teatro Klauss Vianna OI Futuro (Av. Afonso Pena, 4.001, Mangabeiras). Quinta-feira, no mesmo horário e local, será a vez de Lunaris. Ingressos a R$ 15. Informações: (31) 3229-3131 e www.emiliesugai.com.br
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Emilie Sugai
A artista descendente de japoneses desenvolve uma linguagem própria e singular, em criações solos e em grupos, fruto de suas inquietações artísticas e de vida, geradas das influências recebidas de seu mestre Takao Kusuno (1945–2001) no período de 1991 a 2001, das pesquisas relacionadas às memórias do corpo, da ancestralidade e de colaborações com artistas da dança, teatro, cinema e da vídeoarte. Criou os espetáculos Tabi (2002), Totem (2004), Intimidade das imagens (2006), Hagoromo: o manto de plumas (2008) e O mundo que passa (2011). Participou das produções Foi Carmen Miranda (2005), sob direção de Antunes Filho, e em Tóquio, com a Cia. Pappa Tarahumara, de Heart of gold (2005), de Hiroshi Koike, baseado na obra Cem anos de solidão, de Gabriel Garcia Marques.ll
Dois espetáculos de dança japoneses entram em cartaz em BH
Tabi e Lunaris serão encenados no Teatro Klauss Vianna (OI Futuro)
por
Ana Clara Brant
14/11/2012 10:27
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