Carlos Drummond de Andrade, um poeta que não termina

Diversas interpretações do autor é tema dos Cadernos de Literatura Brasileira, do Instituto Moreira Salles

por Severino Francisco 30/10/2012 14:51

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Rubens Americo/O Cruzeiro/Arquivo Estado de Minas
(foto: Rubens Americo/O Cruzeiro/Arquivo Estado de Minas)
“Afinal, um poeta como esse a gente não acaba de ler nunca”, diz o poeta Armando Freitas Filho. Carlos Drummond de Andrade já foi alvo de uma infinidade de leituras e interpretações, mas parece ratificar os versos de sua autoria: “De todos os prismas de uma joia/ Quantos há que não presumo”. Drummond é o tema dos Cadernos de Literatura Brasileira, do Instituto Moreira Salles. O poeta Armando Freitas Filho evoca seus encontros e não encontros com Drummond, mas marcantes e impressionantes. Quase sempre inspirando poemas: “Não me parecia razoável privar tão pouco, quase cerimoniosamente, com alguém que eu conhecia tanto; com alguém que me tinha ensinado a ver o lado B das coisas: por escrito, a maior parte, e em conversa medida, que calava fundo”. O primeiro encontro ocorreu ao ouvir, em 1955, um disco de poesia, em que Manuel Bandeira recitava poemas no lado A e Drummond no lado B. No poema Bandeira em 33 rotações, Armando registra: “Sua voz rascante, agarrada/pelo pigarro ao lado A/ feita, também, dos arranhões/que o vinil vai ganhando/ sob o ir e vir da agulha/ a cada escuta, em seus sulcos (…) enquanto no lado B, CDA, mudo/ aguarda a vez com sua voz súbita”. Em Cara a cara, Armando trava um embate com CDA: “Debruçado sobre Drummond/sinto seu hálito de terra/ o gosto de ferro na saliva”. Salviano Santiago trata do tema da infância e da família, tão caro a Drummond, que descrevia o espanto da descoberta da beleza de sua vida de menino do interior: “E eu não sabia que minha história/era mais bonita do que a de Robinson Crousoé.” No entanto, a relação do menino com o passado e a família está longe de ser idílica. Sempre interroga aos retratos em uma conversa que Salviano Santiago chama de diálogo de surdos: “O retrato não me responde,/ ele me fita e me contempla”. No poema O beijo, de Menino antigo, a relação do filho pródigo com o pai é invertida. Ele se recusa a beijar a mão do pai e esta procura a boca do filho: “Dá-lhe um tapa/ Maneira dura de beijar/o filho que não bieja a mão sequiosa/de carinho”. Dilema Em outro poema, Esquecer para lembrar, escrito em 1979, Drummond expõe um dilema de consciência, na forma de debate sobre a sua volta à infância, recriminada em um primeiro instante, mas acolhida em um segundo momento: “Você deve calar urgentemente/as lembranças bobocas de menino./ Impossível. Eu conto o meu presente./ Com volúpia voltei a ser menino”. O poeta e crítico Ferreira Gullar se detém na questão do encanto e do desencanto de Drummond com a política. Ele começou exercitando um individualismo feroz, rebelde e radical, mas, aos poucos, passou a cultivar o sentimento do mundo e o interesse pelas grandes questões coletivas. O que o levou a ver o comunismo com simpatia, mas sempre desconfiada: “Não serei o poeta de um mundo caduco./ Também não cantarei o mundo futuro./ Estou preso à vida e olho meus companheiros (…). / o tempo é a minha matéria,/ o tempo presente, os homens presentes, a vida presente”. Com os sucessivos desencantos políticos, ele relativizaria o engajamento nas questões sociais, sem nunca perder o interesse pelo destino coletivo da humanidade: “O mundo não vale o mundo, meu bem”, diz em Cantiga de enganar

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