Chinês Mo Yan diz que está feliz e ao mesmo tempo com medo do Prêmio Nobel de Literatura

por Estado de Minas 12/10/2012 09:00

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

RECOMENDAR PARA:

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

CORREÇÃO:

Preencha todos os campos.
JOHN MACDOUGALL
(foto: JOHN MACDOUGALL)
Estocolmo – “Uma vez que dissesse algo, eles me atacariam, como muitos já criticaram os escritores chineses pela ansiedade em torno do Nobel.” A frase não foi dita agora, mas em outras ocasiões em que o nome de Mo Yan, de 57 anos, foi cogitado para receber a premiação máxima da literatura mundial. Sabedor de que em seu país uma palavra, dependendo da interpretação, pode trazer graves consequências, o autor apenas se declarou “muito feliz e com medo” ao saber que ganhou o Prêmio Nobel de Literatura.

O anúncio foi feito ontem pela Academia Sueca. Mo Yan, que vai receber 8 milhões de coroas suecas (cerca de US$ 1,2 milhão), é o segundo chinês a ganhar o prêmio. O primeiro foi Gao Xingjian, em 2000. “Com realismo alucinatório, Mo Yan funde contos populares, a história e o lado contemporâneo”, anunciou o porta-voz da Academia.

Também chamado “Kafka chinês”, o autor permanece inédito no Brasil. Ele estreou na literatura em 1981, com a novela Falling rain on a spring night (Chuva caindo numa noite de primavera). Filho de fazendeiros, na verdade chama-se Guan Moye. Ao se tornar escritor, escolheu o pseudônimo Mo Yan (que pode ser traduzido como Não Fale). O reconhecimento veio com o romance Sorgo vermelho (1987), que o cineasta Zhang Yimou adaptou para o cinema. A produção ganhou o Leão de Ouro no Festival de Berlim. Trata-se da história de uma jovem enviada pelo pai para se casar com um leproso, dono de vinícola, na década de 1930.

Em 2000, Yimou adaptou para as telas o livro Happy times, inspirado na novela Shifu: you’ll do anything for a laugh (Shifu: você faria qualquer coisa por um sorriso). Outro livro de Yan levado para o cinema é White dog swing, que inspirou a produção Nuan (2003), de Jianqi Huo.

No entanto, Mo Yan considera o romance Fengru feitun (Peitos grandes, quadris largos) como seu livro de maior destaque. Lançada em 1995, a obra causou grande polêmica na China por seu conteúdo sexual e foi retirada de circulação. O Exército obrigou o escritor a fazer autocrítica. Esse episódio o levou a ser considerado, por parte dos opositores ao regime chinês, como um autor alinhado ao governo.

Mesmo assim, 10 anos mais tarde, quando Peitos grandes... ganhou edição em inglês, a revista Time o considerou “celebração do poder das mulheres, bem como um lamento sobre a irresponsabilidade dos homens na mais antiga falocracia do mundo”. Esse livro tem edição em português: há cinco anos, foi publicado pela editora Ulisseia, de Portugal.

A Academia Sueca classifica a obra de Mo Yan como “mistura de fantasia e realidade”, comparando-o a nomes como William Faulkner e Gabriel García Márquez, além de destacar sua ligação com a antiga literatura chinesa e a tradição oral de seu país.

Ainda garoto, o vencedor do Nobel abandonou os estudos devido à Revolução Cultural. Depois de trabalhar no campo e em uma fábrica durante a adolescência e a juventude, Mo Yan entrou para o Exército chinês em 1976. Em 1984, matriculou-se na Academia de Arte do Exército. Seu livro mais recente é o romance Wa (2009), sobre as consequências da política do filho único na China.

SUSTO NA CHINA

“Ganhar significa nada”, declarou Mo Yan à agência oficial China News. “Continuarei trabalhando duro, graças a todos”, disse o escritor, que mora em seu país. “Ele estava em casa com o pai. Ficou muito feliz e assustado”, revelou Peter Englund, presidente da Academia Sueca. Em entrevista recente ao jornal China Daily, o professor de literatura chinesa Howars Goldblatt, que traduziu obras de Mo Yan para o inglês, comparou-o a Charles Dickens, afirmando que ambos têm “grandes e ousados trabalhos com escrita florida e potente e forte código moral”.

PRINCIPAIS OBRAS

Touming de hong luobo (1986)
Hong gaoliang jiazu (1987)
Baozha (1988)
Tiantang suantai zhi ge (1988)
Huanle shisan zhang (1989)
Shisan bu (1989)
Jiuguo (1992)
Shicao jiazu (1993)
Dao shen piao (1995)
Fengru feitun (1996)
Hong shulin (1999)
Shifu yuelai yue youmo (2000)
Tanxiangxing (2001)
Cangbao tu (2003)
Sishiyi pao (2003)
Shengsi pilao (2006)

Ilustre desconhecido

No Brasil, não é fácil encontrar – sobretudo na comunidade chinesa – alguém que conheça a obra de Mo Yan. Na embaixada da China, em Brasília, dois funcionários, apesar de ter conhecimento sobre a literatura dele, hesitaram em falar sobre o vencedor do Prêmio Nobel.

“Ele agora é considerado o escritor mais famoso da China. É filho de agricultores, cresceu no campo, e, por isso, as obras falam sobre a vida nas aldeias”, limitou-se a dizer um deles.

Sócio-proprietário e professor da escola de mandarim Huawen, que funciona em BH, Li Zhenwen tem referências sobre o autor apenas no cinema: o filme  adaptação feita por Zhang Ymou, em 1987.

Ao ser surpreendido com a notícia do anúncio do Nobel, o professor buscou informações sobre o escritor. Depois de fazer contatos com professores ligados às letras na China e com conterrâneos que vivem em Belo Horizonte, Li se deu conta de que não há tanta badalação em torno do nome de Mo Yan.

 “Muita gente achou estranho. Por que ele? Fiz várias ligações para a China e ninguém o conhece. Muitos sabem quem é mais pelo filme. Mas o diretor ficou mais famoso do que ele”, concluiu Li, referindo-se a Ymou.

(Com Carolina Braga)

MAIS SOBRE E-MAIS